Perda de influência da religião sobre a vida e crescimento evangélico são desafios para a Igreja no maior país católico do mundo. A Igreja Católica enfrenta nesta primeira metade do século 21 no Brasil, o maior país católico do mundo, desafios tão grandes quanto sua relevância na sociedade brasileira.
São questões que, de certa forma, o papa Francisco procurou enfrentar. Mas ficam como legado para o próximo pontífice.
A presença católica mantém uma profunda capilaridade no país mesmo diante do avanço das igrejas evangélicas que ameça sua hegemonia.
Segundo levantamento realizado em fevereiro pelo teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Junior, professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), são 12.618 paróquias espalhadas por todo o território.
Com 490 bispos vivos, 318 deles na ativa, o Brasil tem o maior episcopado do mundo — os Estados Unidos vêm em segundo, com 446 bispos (276 na ativa); em terceiro, está a Itália, com 397 (227 na ativa).
Na hierarquia católica, bispos são padres nomeados pelos papas para ser a autoridade pastoral em determinada região, a chamadas diocese.
O Brasil tem ainda o quarto maior número de cardeais do mundo, empatado com França e Argentina, com oito ao todo (mas apenas sete cardeais brasileiros são eleitores no conclave que escolherá o novo papa).
Esse é o segundo posto da hierarquia da Igreja, abaixo apenas do próprio papa. A Itália lidera de longe, com 51 no total, seguida por Estados Unidos (17) e Espanha (13).
Toda essa grandeza, entretanto, tem perdido relevância nas últimas décadas por dois caminhos diametralmente opostos, segundo especialistas: de um lado, uma suposta perda de influência da religião sobre as variadas esferas da vida; do outro, o crescimento evangélico.
“A Igreja Católica está perdendo fiéis? Estatisticamente está. Mas é preciso entender esse fenômeno global”, avalia o vaticanista Filipe Domingues, professor na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e diretor do Lay Centre, também em Roma.
“A Igreja não conseguir mais falar com as pessoas é uma parte do problema, mas há uma pressão externa acontecendo. Todas as instituições tradicionais estão em crise.”
Em paralelo, a Igreja Católica sofre com a falta de padres e, em um contexto político extremamente polarizado, parece ainda não ter encontrado o ponto certo para se posicionar de forma contundente frente a questões importantes para o século 21, aponta o teólogo e historiador Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
“O Vaticano não pode fazer muita coisa, pois é uma burocracia muito cristalizada que demora décadas para alguma transformação significativa”, comenta o teólogo, filósofo e jornalista Domingos Zamagna, professor na PUC-SP.
“Já a pessoa do papa pode ter uma enorme reverberação missionária no mundo religioso, ainda que persista na Igreja grandes contingentes de leigos, padres e bispos que desaprovavam e até militavam contra o pastoreio do papa Francisco”, prossegue Zamagna.
“O que o Vaticano pode fazer é apoiar e estimular os esforços das igrejas locais para um novo dinamismo na Igreja. São as igrejas locais que conhecem a realidade pastoral.”
Quem escreveu a Bíblia?
Por que papa Francisco nunca voltou à Argentina em 12 anos de papado
Por que o papa Francisco decidiu ser enterrado fora do Vaticano
Perda de fiéis
De acordo com dados do Censo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os católicos eram 74% da população brasileira no ano 2000. Dez anos mais tarde, eram 65%.
A isso se soma o fato que muitos dos que se declaram católicos o sejam “só estatisticamente”, sem participação na vida religiosa.
“A existência do católico não praticante é uma questão cultural brasileira”, diz a antropóloga e historiadora Lidice Meyer Pinto Ribeiro, professora da Universidade Lusófona, em Portugal.
“Nossa colonização possuiu uma forte influência dos valores católicos o que gerou no brasileiro uma ‘alma católica’, mas não uma adesão à frequência às igrejas”,
Ao mesmo tempo em que houve um declínio do número de católicos no país, foi registrado um avanço dos cristãos de vertentes evangélicas, de 15% para 22% entre 2000 e 2010.
Números mais atualizados, do Censo de 2022, devem ser divulgados apenas em junho deste ano.
Um levantamento mais recente feito pelo Datafolha, divulgado em 2020, aponta que metade da população brasileira se declarava então católica, enquanto 31% se dizia evangélica.
“O catolicismo não está perdendo fiéis porque estes se tornam ateus, mas sim porque abraçam um cristianismo mais conservador”, pontua o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, editor do jornal O São Paulo, da Arquidiocese de São Paulo.
Há, no entanto, quem aponte no sentido contrário e indique ser justamente o conservadorismo católico a razão da diminuição dos seus adeptos.
“A evasão de fiéis da Igreja Católica e o aumento das igrejas evangélicas se deve, na minha opinião, ao fato de a Igreja Católica ter sido governada durante 34 anos pelos pontificados conservadores de João Paulo 2º e de Bento 16”, avalia o frade dominicano e escritor Frei Betto.
“Hoje, a maioria do clero é de tendência moderada para conservadora. Já não temos figuras proeminentes proféticas como tantos que se destacaram na defesa dos direitos humanos e da opção pelos pobres.”
Segundo Frei Betto, hoje “muitos fiéis de classes populares” já não se sentem “à vontade nas paróquias predominantemente dominadas pela classe média”.
“Você vai a um prédio de São Paulo e pode ser que os moradores sejam católicos mas, seguramente, o porteiro, o encanador, as faxineiras e as cozinheiras são evangélicos”, comenta o frade.
“Francisco fez o que pode para renovar a Igreja, mas ela se transformou em um corpo conservador com uma cabeça progressista.”
Frei Betto lembra que Francisco pediu uma “deselitização” da Igreja Católica. “Enquanto não houver isso, nós, católicos, continuaremos a perder fiéis para as igrejas evangélicas”, afirma.
O teólogo Moraes avalia que a Igreja Católica está diante de um desafio duplo: por um lado, vem perdendo a hegemonia com os fiéis migrando para outras denominações; por outro, não pode descuidar daqueles que seguem sendo católicos — é preciso “manter acesa a chama do catolicismo no país, ainda o maior país católico do mundo”, pontua.
“As igrejas evangélicas crescendo têm no catolicismo um grande fornecedor de fiéis. A Igreja Católica precisa preservar o que ainda resta, estancar a crise da perda de fiéis”, avalia ele.
Para Ribeiro, é difícil conciliar esses dois mundos, o dos católicos e o dos evangélicos.
“Infelizmente tem se acirrado no Brasil uma polaridade ideológica que distancia cada vez mais evangélicos e católicos. A polaridade que existiu no século 19 e que aos poucos foi deixando de ser tão extrema, está voltando com força ainda maior”, analisa.
Nem todos encaram os evangélicos como concorrentes, entretanto. “O crescimento pentecostal não chega a ser ameaça para a Igreja Católica”, comenta o padre e teólogo Eliomar Ribeiro de Souza, diretor nacional da Rede Mundial de Oração do Papa Brasil.
“É um movimento que brota da liberdade da pessoa e do proselitismo de alguns grupos. Hoje, no ambiente da Igreja Católica, busca-se um maior respeito ao modo como as pessoas querem viver sua fé.”
Para além do avanço evangélico, outros apontam para a perda de interesse de parte considerável das pessoas por qualquer religião ou sua adesão a formas de crença não tradicionais.
O Censo também mostrou isso: de 2000 para 2010, o Brasil ganhou 3 milhões de pessoas que passaram a se declarar sem religião — chegando a 8% da população.
Sem religião não significa necessariamente sem espiritualidade, é importante ressaltar. Muitos acabam deixando de seguir uma religião formal, mas seguem exercendo formas privadas de religiosidade ou aderindo a crenças não consideradas religiões propriamente ditas.
Para reverter o quadro, Moraes acredita ser necessário uma “estratégia consolidada”, em várias frentes: com atuação comunitária de base, elementos carismáticos que replicam estilos pentecostais e sua presença forte na mídia.
Fenômenos como o do Frei Gilson, mais recente, ou o amplamente conhecido há décadas padre Marcelo Rossi são exemplos desse apelo que carismáticos têm.
“São as armas que foram usadas por outros grupos religiosos”, comenta o professor.
Uma outra alternativa, segundo Moraes, é a Igreja Católica “esperar bater no teto” o aumento dos evangélicos.
O teólogo acredita que, embora timidamente, a Igreja Católica venha fazendo ambas as coisas. “Mas ela tem, sim, de se preocupar em produzir um catolicismo mais eficaz”, diz.
“Por ser hegemônica há muito tempo, a Igreja Católica não se preocupou em fazer dos católicos fiéis mais efetivos. Hoje, predomina um catolicismo muito passivo. A mudança está ocorrendo com a Igreja chamando os católicos para a responsabilidade.”
Também para Ribeiro, a Igreja deveria se dedicar a trazer de volta para as igrejas os católicos não praticantes.
“É claro que a Igreja gostaria de atrair todos à frequência das missas e catequeses, mas isto sempre será uma utopia”, diz a antropóloga.
“O envolvimento da igreja junto aos problemas da comunidade acaba por ser o melhor modo de atrair alguns destes católicos sem igreja para a participação mais ativa.”
O desafio para angariar novos fiéis passa por aquilo que convencionou chamar de “testemunho”, acrescenta o vaticanista Filipe Domingues.
No jargão cristão, testemunho é “dar o exemplo”, por meio de relatos de sua própria vida ou realizando gestos que passem a mensagem do evangelho.
O próprio papa Francisco já apontou isso. Domingues lembra que certa vez, quando perguntaram ao pontífice o que “afasta os jovens da Igreja”, ele respondeu: “a falta de testemunho dos cristãos”.
“É uma Igreja que prega uma coisa e cujos membros às vezes vivem outra. Essa incoerência, visível especialmente entre autoridades, é o que mais afasta as pessoas”, avalia Domingues.
“Por um lado, colocam-se parâmetros muito altos, com uma série de regras. Mas internamente, alguns líderes vivem como autoridades políticas, como donos de empresas, desconectados com a realidade da maior parte das pessoas.”
Falta de padres
Outro desafio apontado pelos observadores da Igreja Católica e que tem particular relevância na relação com os fiéis católicos e conexão com a perda de fieis é que faltam padres no Brasil.
Uma consequência direta disso, segundo analistas, é que nem todos que potencialmente buscariam atendimento pastoral no catolicismo conseguem obtê-lo — uma demanda que acabaria sendo absorvida por outras denominações religiosas, aponta frei Betto.
De acordo com um estudo divulgado em 2018 pelo Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (Ceris), fundação hoje extinta que era vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), principal órgão local da Igreja, havia 27,3 mil padres espalhados pelo país, uma média então de um para 7,8 mil habitantes. Na Itália, em comparação, havia um padre para cada mil habitantes.
O estudo apontou ainda que seriam necessários pelo menos mais 20 mil sacerdotes para dar conta de atender a todas as comunidades católicas espalhadas pelo país. Especialistas ouvidos pela reportagem acreditam que o cenário de hoje não seja diferente.
“Se compararmos a quantidade de sacerdotes do Brasil com a de outras nações, podemos dizer que há um déficit de sacerdotes em nosso país”, reconhece Zamagna.
No entanto, em sua visão, a proporção de padres em relação à população não precisa obedecer uma regra exata, já que diferentes regiões podem ter necessidades distintas.
Para Souza, há a necessidade de uma renovação do clero — e isso passa por uma mudança de mentalidade.
“Existem muitos jovens buscando os seminários e sendo formados em esquemas muito antigos para um mundo em mudança”, argumenta Souza.
“As consequências disso são padres que não sabem servir as pessoas de hoje.”
Ao longo do pontificado de Francisco, foram estudadas algumas medidas para ajudar a suprir essa carência.
Em 2019, no Sínodo da Amazônia, por exemplo, aventou-se a possibilidade de serem ordenados homens casados. A proposta não passou.
Outra ideia que chegou a ser posta à mesa, com a designação de um grupo de estudos, era a do diaconato feminino. Também não avançou.
Especialistas ouvidos pela reportagem também acreditam que tornar a questão do celibato uma prática facultativa faria com que mais homens se disporiam a aderir ao sacerdócio, vivendo a vida em família como já é praxe entre pastores evangélicos.
“Um celibato voluntário e evangélico há de ser sempre um sinal esperançoso do Reino de Deus; se ele for forçado e pouco motivado, pode ser um elemento de rejeição da Igreja”, diz Zamagna.
Ribeiro defende que outras denominações religiosas poderiam inspirar mudanças no catolicismo romano, seja com a ordenação de mulheres, seja com a ordenação de homens casados.
É o caso da Igreja Católica Apostólica Brasileira, uma dissidência que, pontua ela, “há cerca de 80 anos ordenando padres casados o que também permite ter uma visão sobre os resultados desta mudança cultural nas comunidades onde esta igreja atua”.
Moraes tem uma posição semelhante, ao afirmar que “a experiência no mundo protestante mostrou que não tem problema nenhum” que funções de liderança sejam feitos por sacerdotes que sejam homens casados ou que sejam mulheres.
Frei Betto cobra uma “reforma profunda” para renovar “a questão vocacional do clero”.
“Primeiro, tem de acabar com o celibato obrigatório. Em segundo lugar, na vida religiosa deveria haver comunidades mistas, com votos, compromissos, não para toda a vida como ainda é hoje, mas por dois, três anos, cinco anos”, diz o frei.
“Os jovens iriam aderir à espiritualidade dominicana, franciscana, jesuítica, etc., por um período determinado. Depois, poderiam renovar esse compromisso, ou não renovar.”
Ribeiro Neto pondera, no entanto, que a questão é outra. “O problema não é o celibato, como tantos dizem, mas sim a oferta de novos caminhos profissionais mais atraentes do que o trabalho pastoral”, argumenta o sociólogo.
“Conheço muitas pessoas que optaram por uma vida de consagrados celibatários, mantendo uma vida comunitária, como nas ordens religiosas tradicionais, mas sem o compromisso pastoral típico dos padres.”
Notícias envolvendo abusos sexuais praticados por sacerdotes ainda minam a credibilidade da vida religiosa. Este é mais um ingrediente que, no entendimento de especialistas, diminui o interesse pela carreira.
“Escândalos e abusos podem ser comparados com o câncer. Mesmo não sendo algo normal, sempre alguém vai desenvolver a doença”, diz Souza.
A orientação de Francisco, em seu papado, foi de não buscar abafar tais casos e levá-los para a Justiça comum, embora alguns críticos do papa afirmem que ele não enfrentou esse problema como se esperava.
“Hoje, com a internet, qualquer denúncia ou caso comprovado é divulgado com muita rapidez a um grande contingente de pessoas. Da mesma forma, todos os processos disciplinares deveriam ser divulgados a fim de mitigar os efeitos deletérios dos escândalos”, diz Ribeiro.
“É imprescindível que a igreja desenvolva total transparência acerca dos problemas em que possa estar envolvida.”
Atuação política e polarização
Ao longo de seu pontificado, Francisco demonstrou que a Igreja Católica não pode ficar alheia ao mundo contemporâneo, diz Frei Betto, posição que é compartilhada por outros especialistas ouvidos pela BBC News Brasil
De forma concreta, Francisco demonstrou preocupações políticas, sociais e ambientais. Publicou uma encíclica, a Laudato Si’, sobre o meio ambiente. Discursou contra o que ele considerou abusos do capitalismo. Demonstrou inúmeras vezes que acredita ser importante um catolicismo que se preocupe com questões sociais.
Em um contexto de polarização política, Francisco foi muitas vezes taxado como “comunista” pelos mais conservadores. Em sua defesa, especialistas dizem que ele não partidarizou a fé — e tudo o que fez foi se guiar por ensinamentos na base da mensagem do cristianismo: o amor ao próximo, a solidariedade e a fraternidade.
“A Igreja deve envolver-se cada vez mais com a sociedade brasileira e atuar diretamente com os problemas das comunidades onde se insere”, argumenta Ribeiro.
Especialistas ouvidos pela reportagem entendem que a Igreja Católica deve se posicionar sobre temas de relevância contemporânea, mas tomando o cuidado de ser coerente com seus princípios e não simplesmente se alinhar a ideologias políticas.
“Sabemos que não devemos fazer campanha nem tomar partido político, mas a verdadeira política que é a busca do bem-comum é nossa missão também”, diz Souza.
Para o teólogo, “a polarização se dá porque as pessoas vivem presas em seus mundos pequenos e relacionam-se com os demais como se fossem inimigos e não como humanos e semelhantes”.
Zamagna aponta que a Igreja tem uma doutrina social que não pode ser ignorada ou esquecida. “Faz parte desta doutrina trabalhar pela erradicação da miséria, combater as desigualdades, preservar o meio ambiente. A espiritualidade cristã abarca todos esses desafios, com empatia”, diz o professor.
“Mas há quem pense que a Igreja deveria estar confinada em um claustro, em um falso purismo que a afastaria da política, da economia, da diplomacia, da cultura etc. Estas pessoas evidentemente, por ignorância ou desígnios escusos, não compreendem ou ficam escandalizadas com a ação social da Igreja”, prossegue.
“É, por exemplo, o caso da ação da Igreja na Amazônia, onde a floresta deve ser preservada, e por isso deve-se condenar, denunciar e lutar pelos indígenas, seringueiros, ribeirinhos e posseiros que são sistematicamente explorados por madeireiras, garimpos, mineradoras, contrabandistas e narcotraficantes.”
A Amazônia tem merecido um olhar especial nos últimos anos e isto deve continuar por parte da Igreja. Após o Sínodo de 2019, estudou-se até mesmo a criação de um rito litúrgico adaptado à realidade dos povos originários amazônicos. Isso ainda não avançou, mas não significa que a ideia tenha sido descartada.
“Depois do Concílio Vaticano 2º, concluído em 1965, a Igreja abriu-se para o mundo, deixando que a luz das diversas culturas entrasse por suas janelas e portas”, contextualiza Souza.
“Ainda há muita resistência às mudanças, mas não se pode fechar os olhos diante dos desafios em diversos âmbitos. Algumas propostas de celebração da fé mais adaptada à realidade local vêm sendo acolhidas pela Igreja, mas de modo muito devagar.”
Ele acredita que “os frutos do Sínodo” dedicado à Amazônia ainda “estão por serem colhidos no futuro”.
Ribeiro ressalta que o debate amazônico também significou maior espaço e visibilidade para as mulheres.
“O Sínodo da Amazônia foi uma clara demonstração da força feminina na Igreja das florestas. Mesmo extraoficialmente, as mulheres têm desempenhado sua liderança eclesiástica perante as comunidades amazônicas”, comenta.
Não há nada que seja humano que não interesse à Igreja, resume Frei Betto.
“A Igreja ainda faz, muitas vezes, uma divisão que não existe na prática de Jesus entre aquilo que é político e aquilo que é religioso. Ora, tudo o que é religioso é político. A sabedoria é não confessionalizar a política e não partidarizar a religião.”
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São questões que, de certa forma, o papa Francisco procurou enfrentar. Mas ficam como legado para o próximo pontífice.
A presença católica mantém uma profunda capilaridade no país mesmo diante do avanço das igrejas evangélicas que ameça sua hegemonia.
Segundo levantamento realizado em fevereiro pelo teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Junior, professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), são 12.618 paróquias espalhadas por todo o território.
Com 490 bispos vivos, 318 deles na ativa, o Brasil tem o maior episcopado do mundo — os Estados Unidos vêm em segundo, com 446 bispos (276 na ativa); em terceiro, está a Itália, com 397 (227 na ativa).
Na hierarquia católica, bispos são padres nomeados pelos papas para ser a autoridade pastoral em determinada região, a chamadas diocese.
O Brasil tem ainda o quarto maior número de cardeais do mundo, empatado com França e Argentina, com oito ao todo (mas apenas sete cardeais brasileiros são eleitores no conclave que escolherá o novo papa).
Esse é o segundo posto da hierarquia da Igreja, abaixo apenas do próprio papa. A Itália lidera de longe, com 51 no total, seguida por Estados Unidos (17) e Espanha (13).
Toda essa grandeza, entretanto, tem perdido relevância nas últimas décadas por dois caminhos diametralmente opostos, segundo especialistas: de um lado, uma suposta perda de influência da religião sobre as variadas esferas da vida; do outro, o crescimento evangélico.
“A Igreja Católica está perdendo fiéis? Estatisticamente está. Mas é preciso entender esse fenômeno global”, avalia o vaticanista Filipe Domingues, professor na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e diretor do Lay Centre, também em Roma.
“A Igreja não conseguir mais falar com as pessoas é uma parte do problema, mas há uma pressão externa acontecendo. Todas as instituições tradicionais estão em crise.”
Em paralelo, a Igreja Católica sofre com a falta de padres e, em um contexto político extremamente polarizado, parece ainda não ter encontrado o ponto certo para se posicionar de forma contundente frente a questões importantes para o século 21, aponta o teólogo e historiador Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
“O Vaticano não pode fazer muita coisa, pois é uma burocracia muito cristalizada que demora décadas para alguma transformação significativa”, comenta o teólogo, filósofo e jornalista Domingos Zamagna, professor na PUC-SP.
“Já a pessoa do papa pode ter uma enorme reverberação missionária no mundo religioso, ainda que persista na Igreja grandes contingentes de leigos, padres e bispos que desaprovavam e até militavam contra o pastoreio do papa Francisco”, prossegue Zamagna.
“O que o Vaticano pode fazer é apoiar e estimular os esforços das igrejas locais para um novo dinamismo na Igreja. São as igrejas locais que conhecem a realidade pastoral.”
Quem escreveu a Bíblia?
Por que papa Francisco nunca voltou à Argentina em 12 anos de papado
Por que o papa Francisco decidiu ser enterrado fora do Vaticano
Perda de fiéis
De acordo com dados do Censo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os católicos eram 74% da população brasileira no ano 2000. Dez anos mais tarde, eram 65%.
A isso se soma o fato que muitos dos que se declaram católicos o sejam “só estatisticamente”, sem participação na vida religiosa.
“A existência do católico não praticante é uma questão cultural brasileira”, diz a antropóloga e historiadora Lidice Meyer Pinto Ribeiro, professora da Universidade Lusófona, em Portugal.
“Nossa colonização possuiu uma forte influência dos valores católicos o que gerou no brasileiro uma ‘alma católica’, mas não uma adesão à frequência às igrejas”,
Ao mesmo tempo em que houve um declínio do número de católicos no país, foi registrado um avanço dos cristãos de vertentes evangélicas, de 15% para 22% entre 2000 e 2010.
Números mais atualizados, do Censo de 2022, devem ser divulgados apenas em junho deste ano.
Um levantamento mais recente feito pelo Datafolha, divulgado em 2020, aponta que metade da população brasileira se declarava então católica, enquanto 31% se dizia evangélica.
“O catolicismo não está perdendo fiéis porque estes se tornam ateus, mas sim porque abraçam um cristianismo mais conservador”, pontua o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, editor do jornal O São Paulo, da Arquidiocese de São Paulo.
Há, no entanto, quem aponte no sentido contrário e indique ser justamente o conservadorismo católico a razão da diminuição dos seus adeptos.
“A evasão de fiéis da Igreja Católica e o aumento das igrejas evangélicas se deve, na minha opinião, ao fato de a Igreja Católica ter sido governada durante 34 anos pelos pontificados conservadores de João Paulo 2º e de Bento 16”, avalia o frade dominicano e escritor Frei Betto.
“Hoje, a maioria do clero é de tendência moderada para conservadora. Já não temos figuras proeminentes proféticas como tantos que se destacaram na defesa dos direitos humanos e da opção pelos pobres.”
Segundo Frei Betto, hoje “muitos fiéis de classes populares” já não se sentem “à vontade nas paróquias predominantemente dominadas pela classe média”.
“Você vai a um prédio de São Paulo e pode ser que os moradores sejam católicos mas, seguramente, o porteiro, o encanador, as faxineiras e as cozinheiras são evangélicos”, comenta o frade.
“Francisco fez o que pode para renovar a Igreja, mas ela se transformou em um corpo conservador com uma cabeça progressista.”
Frei Betto lembra que Francisco pediu uma “deselitização” da Igreja Católica. “Enquanto não houver isso, nós, católicos, continuaremos a perder fiéis para as igrejas evangélicas”, afirma.
O teólogo Moraes avalia que a Igreja Católica está diante de um desafio duplo: por um lado, vem perdendo a hegemonia com os fiéis migrando para outras denominações; por outro, não pode descuidar daqueles que seguem sendo católicos — é preciso “manter acesa a chama do catolicismo no país, ainda o maior país católico do mundo”, pontua.
“As igrejas evangélicas crescendo têm no catolicismo um grande fornecedor de fiéis. A Igreja Católica precisa preservar o que ainda resta, estancar a crise da perda de fiéis”, avalia ele.
Para Ribeiro, é difícil conciliar esses dois mundos, o dos católicos e o dos evangélicos.
“Infelizmente tem se acirrado no Brasil uma polaridade ideológica que distancia cada vez mais evangélicos e católicos. A polaridade que existiu no século 19 e que aos poucos foi deixando de ser tão extrema, está voltando com força ainda maior”, analisa.
Nem todos encaram os evangélicos como concorrentes, entretanto. “O crescimento pentecostal não chega a ser ameaça para a Igreja Católica”, comenta o padre e teólogo Eliomar Ribeiro de Souza, diretor nacional da Rede Mundial de Oração do Papa Brasil.
“É um movimento que brota da liberdade da pessoa e do proselitismo de alguns grupos. Hoje, no ambiente da Igreja Católica, busca-se um maior respeito ao modo como as pessoas querem viver sua fé.”
Para além do avanço evangélico, outros apontam para a perda de interesse de parte considerável das pessoas por qualquer religião ou sua adesão a formas de crença não tradicionais.
O Censo também mostrou isso: de 2000 para 2010, o Brasil ganhou 3 milhões de pessoas que passaram a se declarar sem religião — chegando a 8% da população.
Sem religião não significa necessariamente sem espiritualidade, é importante ressaltar. Muitos acabam deixando de seguir uma religião formal, mas seguem exercendo formas privadas de religiosidade ou aderindo a crenças não consideradas religiões propriamente ditas.
Para reverter o quadro, Moraes acredita ser necessário uma “estratégia consolidada”, em várias frentes: com atuação comunitária de base, elementos carismáticos que replicam estilos pentecostais e sua presença forte na mídia.
Fenômenos como o do Frei Gilson, mais recente, ou o amplamente conhecido há décadas padre Marcelo Rossi são exemplos desse apelo que carismáticos têm.
“São as armas que foram usadas por outros grupos religiosos”, comenta o professor.
Uma outra alternativa, segundo Moraes, é a Igreja Católica “esperar bater no teto” o aumento dos evangélicos.
O teólogo acredita que, embora timidamente, a Igreja Católica venha fazendo ambas as coisas. “Mas ela tem, sim, de se preocupar em produzir um catolicismo mais eficaz”, diz.
“Por ser hegemônica há muito tempo, a Igreja Católica não se preocupou em fazer dos católicos fiéis mais efetivos. Hoje, predomina um catolicismo muito passivo. A mudança está ocorrendo com a Igreja chamando os católicos para a responsabilidade.”
Também para Ribeiro, a Igreja deveria se dedicar a trazer de volta para as igrejas os católicos não praticantes.
“É claro que a Igreja gostaria de atrair todos à frequência das missas e catequeses, mas isto sempre será uma utopia”, diz a antropóloga.
“O envolvimento da igreja junto aos problemas da comunidade acaba por ser o melhor modo de atrair alguns destes católicos sem igreja para a participação mais ativa.”
O desafio para angariar novos fiéis passa por aquilo que convencionou chamar de “testemunho”, acrescenta o vaticanista Filipe Domingues.
No jargão cristão, testemunho é “dar o exemplo”, por meio de relatos de sua própria vida ou realizando gestos que passem a mensagem do evangelho.
O próprio papa Francisco já apontou isso. Domingues lembra que certa vez, quando perguntaram ao pontífice o que “afasta os jovens da Igreja”, ele respondeu: “a falta de testemunho dos cristãos”.
“É uma Igreja que prega uma coisa e cujos membros às vezes vivem outra. Essa incoerência, visível especialmente entre autoridades, é o que mais afasta as pessoas”, avalia Domingues.
“Por um lado, colocam-se parâmetros muito altos, com uma série de regras. Mas internamente, alguns líderes vivem como autoridades políticas, como donos de empresas, desconectados com a realidade da maior parte das pessoas.”
Falta de padres
Outro desafio apontado pelos observadores da Igreja Católica e que tem particular relevância na relação com os fiéis católicos e conexão com a perda de fieis é que faltam padres no Brasil.
Uma consequência direta disso, segundo analistas, é que nem todos que potencialmente buscariam atendimento pastoral no catolicismo conseguem obtê-lo — uma demanda que acabaria sendo absorvida por outras denominações religiosas, aponta frei Betto.
De acordo com um estudo divulgado em 2018 pelo Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (Ceris), fundação hoje extinta que era vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), principal órgão local da Igreja, havia 27,3 mil padres espalhados pelo país, uma média então de um para 7,8 mil habitantes. Na Itália, em comparação, havia um padre para cada mil habitantes.
O estudo apontou ainda que seriam necessários pelo menos mais 20 mil sacerdotes para dar conta de atender a todas as comunidades católicas espalhadas pelo país. Especialistas ouvidos pela reportagem acreditam que o cenário de hoje não seja diferente.
“Se compararmos a quantidade de sacerdotes do Brasil com a de outras nações, podemos dizer que há um déficit de sacerdotes em nosso país”, reconhece Zamagna.
No entanto, em sua visão, a proporção de padres em relação à população não precisa obedecer uma regra exata, já que diferentes regiões podem ter necessidades distintas.
Para Souza, há a necessidade de uma renovação do clero — e isso passa por uma mudança de mentalidade.
“Existem muitos jovens buscando os seminários e sendo formados em esquemas muito antigos para um mundo em mudança”, argumenta Souza.
“As consequências disso são padres que não sabem servir as pessoas de hoje.”
Ao longo do pontificado de Francisco, foram estudadas algumas medidas para ajudar a suprir essa carência.
Em 2019, no Sínodo da Amazônia, por exemplo, aventou-se a possibilidade de serem ordenados homens casados. A proposta não passou.
Outra ideia que chegou a ser posta à mesa, com a designação de um grupo de estudos, era a do diaconato feminino. Também não avançou.
Especialistas ouvidos pela reportagem também acreditam que tornar a questão do celibato uma prática facultativa faria com que mais homens se disporiam a aderir ao sacerdócio, vivendo a vida em família como já é praxe entre pastores evangélicos.
“Um celibato voluntário e evangélico há de ser sempre um sinal esperançoso do Reino de Deus; se ele for forçado e pouco motivado, pode ser um elemento de rejeição da Igreja”, diz Zamagna.
Ribeiro defende que outras denominações religiosas poderiam inspirar mudanças no catolicismo romano, seja com a ordenação de mulheres, seja com a ordenação de homens casados.
É o caso da Igreja Católica Apostólica Brasileira, uma dissidência que, pontua ela, “há cerca de 80 anos ordenando padres casados o que também permite ter uma visão sobre os resultados desta mudança cultural nas comunidades onde esta igreja atua”.
Moraes tem uma posição semelhante, ao afirmar que “a experiência no mundo protestante mostrou que não tem problema nenhum” que funções de liderança sejam feitos por sacerdotes que sejam homens casados ou que sejam mulheres.
Frei Betto cobra uma “reforma profunda” para renovar “a questão vocacional do clero”.
“Primeiro, tem de acabar com o celibato obrigatório. Em segundo lugar, na vida religiosa deveria haver comunidades mistas, com votos, compromissos, não para toda a vida como ainda é hoje, mas por dois, três anos, cinco anos”, diz o frei.
“Os jovens iriam aderir à espiritualidade dominicana, franciscana, jesuítica, etc., por um período determinado. Depois, poderiam renovar esse compromisso, ou não renovar.”
Ribeiro Neto pondera, no entanto, que a questão é outra. “O problema não é o celibato, como tantos dizem, mas sim a oferta de novos caminhos profissionais mais atraentes do que o trabalho pastoral”, argumenta o sociólogo.
“Conheço muitas pessoas que optaram por uma vida de consagrados celibatários, mantendo uma vida comunitária, como nas ordens religiosas tradicionais, mas sem o compromisso pastoral típico dos padres.”
Notícias envolvendo abusos sexuais praticados por sacerdotes ainda minam a credibilidade da vida religiosa. Este é mais um ingrediente que, no entendimento de especialistas, diminui o interesse pela carreira.
“Escândalos e abusos podem ser comparados com o câncer. Mesmo não sendo algo normal, sempre alguém vai desenvolver a doença”, diz Souza.
A orientação de Francisco, em seu papado, foi de não buscar abafar tais casos e levá-los para a Justiça comum, embora alguns críticos do papa afirmem que ele não enfrentou esse problema como se esperava.
“Hoje, com a internet, qualquer denúncia ou caso comprovado é divulgado com muita rapidez a um grande contingente de pessoas. Da mesma forma, todos os processos disciplinares deveriam ser divulgados a fim de mitigar os efeitos deletérios dos escândalos”, diz Ribeiro.
“É imprescindível que a igreja desenvolva total transparência acerca dos problemas em que possa estar envolvida.”
Atuação política e polarização
Ao longo de seu pontificado, Francisco demonstrou que a Igreja Católica não pode ficar alheia ao mundo contemporâneo, diz Frei Betto, posição que é compartilhada por outros especialistas ouvidos pela BBC News Brasil
De forma concreta, Francisco demonstrou preocupações políticas, sociais e ambientais. Publicou uma encíclica, a Laudato Si’, sobre o meio ambiente. Discursou contra o que ele considerou abusos do capitalismo. Demonstrou inúmeras vezes que acredita ser importante um catolicismo que se preocupe com questões sociais.
Em um contexto de polarização política, Francisco foi muitas vezes taxado como “comunista” pelos mais conservadores. Em sua defesa, especialistas dizem que ele não partidarizou a fé — e tudo o que fez foi se guiar por ensinamentos na base da mensagem do cristianismo: o amor ao próximo, a solidariedade e a fraternidade.
“A Igreja deve envolver-se cada vez mais com a sociedade brasileira e atuar diretamente com os problemas das comunidades onde se insere”, argumenta Ribeiro.
Especialistas ouvidos pela reportagem entendem que a Igreja Católica deve se posicionar sobre temas de relevância contemporânea, mas tomando o cuidado de ser coerente com seus princípios e não simplesmente se alinhar a ideologias políticas.
“Sabemos que não devemos fazer campanha nem tomar partido político, mas a verdadeira política que é a busca do bem-comum é nossa missão também”, diz Souza.
Para o teólogo, “a polarização se dá porque as pessoas vivem presas em seus mundos pequenos e relacionam-se com os demais como se fossem inimigos e não como humanos e semelhantes”.
Zamagna aponta que a Igreja tem uma doutrina social que não pode ser ignorada ou esquecida. “Faz parte desta doutrina trabalhar pela erradicação da miséria, combater as desigualdades, preservar o meio ambiente. A espiritualidade cristã abarca todos esses desafios, com empatia”, diz o professor.
“Mas há quem pense que a Igreja deveria estar confinada em um claustro, em um falso purismo que a afastaria da política, da economia, da diplomacia, da cultura etc. Estas pessoas evidentemente, por ignorância ou desígnios escusos, não compreendem ou ficam escandalizadas com a ação social da Igreja”, prossegue.
“É, por exemplo, o caso da ação da Igreja na Amazônia, onde a floresta deve ser preservada, e por isso deve-se condenar, denunciar e lutar pelos indígenas, seringueiros, ribeirinhos e posseiros que são sistematicamente explorados por madeireiras, garimpos, mineradoras, contrabandistas e narcotraficantes.”
A Amazônia tem merecido um olhar especial nos últimos anos e isto deve continuar por parte da Igreja. Após o Sínodo de 2019, estudou-se até mesmo a criação de um rito litúrgico adaptado à realidade dos povos originários amazônicos. Isso ainda não avançou, mas não significa que a ideia tenha sido descartada.
“Depois do Concílio Vaticano 2º, concluído em 1965, a Igreja abriu-se para o mundo, deixando que a luz das diversas culturas entrasse por suas janelas e portas”, contextualiza Souza.
“Ainda há muita resistência às mudanças, mas não se pode fechar os olhos diante dos desafios em diversos âmbitos. Algumas propostas de celebração da fé mais adaptada à realidade local vêm sendo acolhidas pela Igreja, mas de modo muito devagar.”
Ele acredita que “os frutos do Sínodo” dedicado à Amazônia ainda “estão por serem colhidos no futuro”.
Ribeiro ressalta que o debate amazônico também significou maior espaço e visibilidade para as mulheres.
“O Sínodo da Amazônia foi uma clara demonstração da força feminina na Igreja das florestas. Mesmo extraoficialmente, as mulheres têm desempenhado sua liderança eclesiástica perante as comunidades amazônicas”, comenta.
Não há nada que seja humano que não interesse à Igreja, resume Frei Betto.
“A Igreja ainda faz, muitas vezes, uma divisão que não existe na prática de Jesus entre aquilo que é político e aquilo que é religioso. Ora, tudo o que é religioso é político. A sabedoria é não confessionalizar a política e não partidarizar a religião.”
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