
Pesquisadores da UFPE estudam o ciclo de vida de insetos que se alimentam de cadáveres para auxiliar a perícia forense. Técnica pode revelar até envenenamentos. Larvas de mosca podem ajudar a identificar data da morte de cadáveres
Na natureza, as larvas têm um papel essencial na decomposição e renovação dos ecossistemas. Mas, em investigações criminais, elas podem fazer o caminho inverso: ajudar a trazer de volta informações que pareciam perdidas.
Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) estudam como os insetos que colonizam corpos em decomposição podem ser usados como prova pericial. O trabalho é feito no Laboratório de Zoologia da instituição (veja vídeo acima).
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A análise do tempo de desenvolvimento de larvas coletadas em corpos é pode ser utilizada como ferramenta para determinar a data da morte de alguém.
🪰 Por exemplo: se uma larva coletada de um corpo leva oito dias para atingir a fase adulta, e a ciência sabe que aquela espécie leva 15 dias para completar o ciclo, a perícia pode concluir que a morte ocorreu cerca de uma semana antes da coleta.
“A gente tem investigado quais moscas colonizam os cadáveres, como elas identificam, como elas se reproduzem e, principalmente, quanto tempo elas levam para completar o seu ciclo de vida. Isso é a primeira parte para que um perito criminal possa usar um inseto como uma prova pericial”, explicou Simão Vasconcelos, doutor em zoologia da UFPE.
O método pode ser bastante preciso, especialmente quando o corpo está em avançado estado de decomposição. Segundo o pesquisador, as moscas chegam rapidamente ao local da morte.
“Em cerca de 5 minutos, várias espécies de moscas já estão lá, colocando seus ovinhos, porque são as formas jovens da mosca que vão se alimentar dos tecidos de um cadáver”, afirmou Simão Vasconcelos.
Além de indicar o tempo da morte, as larvas também podem revelar se a vítima foi envenenada. Mesmo que a substância tóxica não seja mais detectável no corpo humano, ela pode estar presente nos insetos que se alimentaram dele.
“Existe uma área que é chamada de entomotoxicologia, que estuda exatamente como esses compostos, essas substâncias químicas, se acumulam no corpo de insetos que se alimentam de cadáveres. A depender da condição do corpo, apenas essas larvas podem ser uma fonte confiável dessas substâncias”, explicou Franciele Barros, mestranda em biologia animal da UFPE.
Nos últimos 15 anos, os pesquisadores analisaram mais de 400 corpos nos Institutos Médicos Legais de Pernambuco e da Paraíba. O objetivo foi identificar as principais espécies de insetos que se alimentam de cadáveres na região.
“A nova geração de peritos criminais está bastante aberta a essa cooperação, e o próximo passo é a gente formalizar essa parceria. Então, eu acho que há uma tendência de que essas parcerias sejam mais sólidas no futuro próximo”, especulou Simão Vasconcelos.
Larvas de mosca podem ajudar a identificar a data da morte de um cadáver
TV Globo/Reprodução
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