O que acontece se a mulher tomar tadalafila? Brasil ‘lidera’ perguntas no Google sobre o remédio com alta puxada por universo feminino


Apesar de o medicamento ser indicado para uma doença ligada à genitália masculina, as perguntas que puxaram essa alta nas buscas são sobre o uso por mulheres. Especialistas explicam que hype nas redes com promessas de melhora no sexo e treino são desinformação. Brasil tem recorde de vendas de tadalafila nos últimos dez anos
O Brasil é o país que mais fez buscas sobre tadalafila no Google, segundo dados da plataforma. Apesar de o medicamento para disfunção erétil ser indicado para uma doença ligada à genitália masculina, as perguntas que puxaram essa alta nas buscas são sobre o uso por mulheres.
💊 A “tadala”, como ficou conhecida nas redes sociais, é um medicamento usado no tratamento da disfunção erétil, uma doença que se caracteriza pela dificuldade de ter ou manter uma ereção satisfatória para a penetração. O medicamento está no mercado desde os anos 2000, quando chegou para substituir a sildenafila, o popular viagra, e tem menos efeitos colaterais.
Nos últimos anos, ele saiu de um tabu para o destaque da farmácia, com vendas recordes. Em 2024, foram vendidas 64 milhões de unidades no país – o maior número em dez anos, como mostrou o g1 com exclusividade.
A alta é um reflexo do hype que a droga tem nas redes sociais. Há milhares de vídeos no TikTok e no Instagram em que criadores de conteúdo que não são especialistas em saúde ensinam a usar o medicamento para turbinar o sexo ou melhorar a performance nos treinos.
➡️ Uma das vertentes em alta desse tipo de conteúdo fala sobre mulheres usando a substância para aumentar a libido, melhoria no treino e até combinação com uso de esteroides.
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A consequência desse tipo de conteúdo pode ser vista com a alta de buscas no Google. Segundo a plataforma, a pergunta que mais cresceu neste ano, impulsionando as pesquisas pelo nome do medicamento, foi: o que acontece se a mulher tomar tadalafila?
➡️ O que médicos e especialistas com quem o g1 conversou explicam é que esse aumento tem relação com a desinformação sobre o medicamento, alimentada por conteúdos que estimulam a automedicação para finalidades em que não há qualquer evidência científica de que funcione – como é o caso das mulheres.
Nesta reportagem você vai ver:
O brasil como líder de pesquisas no Google sobre tadalafila
Por que mulheres estão pesquisando sobre tadalafila no Google?
Especialistas respondem as perguntas mais frequente
Tadalafila é o 2º remédio mais vendido do Brasil
Reprodução/TV Globo
Brasil é líder de buscas
A pedido do g1, o Google analisou em sua plataforma o interesse de pesquisas por tadalafila no mundo nos últimos 20 anos. De acordo com os dados, o Brasil foi o país com o maior número de buscas sobre o medicamento.
📈 Além de liderar o ranking, o país teve o dobro do interesse em relação ao segundo colocado, o Líbano. O interesse é medido em uma escala de 0 a 100, e o Brasil foi o único da lista a alcançar um patamar próximo do limite máximo. (Veja abaixo o ranking)
Buscas sobre tadalafila
Arte/g1
Esse número tem relação com o hype do medicamento no país. Dados da Anvisa mostram que, em dez anos, o Brasil nunca teve um volume tão alto de vendas de tadalafila. O número de 2024 foi o maior da década, com um salto de quase 40% em relação ao ano anterior. (Veja abaixo os dados)
Médicos e especialistas apontam que essa alta é reflexo de um fenômeno online. O urologista Eduardo Miranda, da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), explica que houve, sim, um aumento nos diagnósticos de disfunção erétil — justamente por causa do debate nas redes —, mas que o volume de vendas não acompanha essa demanda real por tratamento.
Os dados consideram apenas medicamentos produzidos por farmacêuticas e não incluem aqueles manipulados em farmácias. Nas redes, há dezenas de anúncios desse tipo de produto — inclusive de receitas com misturas que prometem uma “tadalafila natural”.
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Por que mulheres estão pesquisando sobre tadalafila no Google?
A maior parte das perguntas que mais cresceram no Google, ou seja, que tiveram o maior número de buscas no último ano sobre tadalafila, têm a ver com o uso para mulheres. Sim, mulheres parecem estar pesquisando sobre o consumo por elas de um remédio para disfunção erétil.
🔎 Segundo o Google, as cinco perguntas mais feitas são:
O que acontece se a mulher tomar tadalafila?
Tadalafila funciona em mulher?
Quanto tempo demora para a tadalafila fazer efeito?
Tadalafila, mulher pode tomar?
Tadalafila retarda a ejaculação?
O remédio tem indicação para o tratamento da disfunção erétil, hipertensão pulmonar e problemas de próstata aumentada. Ou seja, não há na bula qualquer menção à questões de libido feminina.
O g1 conversou com os ginecologistas Marcelo Steiner, ginecologista ligado à Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), e Mariane Nadai, médica ginecologista e professora da Faculdade de Medicina USP. Os dois são uníssonos em dizer:
Não existe qualquer indicação para mulheres tomarem tadalafila.
Os especialistas explicam que o remédio é um vasodilatador que age nos chamados corpos cavernosos do pênis, estruturas responsáveis pela ereção. Ela inibe uma enzima, promovendo o relaxamento da musculatura lisa e facilitando o fluxo sanguíneo durante a estimulação sexual. Ou seja, sua função é ligada à estrutura masculina e não teria como ter efeito na mulher.
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🔎 Já foram feitas pesquisas para entender se o remédio poderia, por exemplo, agir aumentando a circulação na região do clitóris e, com isso, aumentar a sensibilidade à estimulação. No entanto, os resultados não trouxeram evidências que provem que funciona.
“A gente já tem pesquisas que mostram que isso não ajuda mulheres. As pessoas estão sendo levadas por desinformação. A libido feminina tem uma relação hormonal que o medicamento não é capaz de influenciar e ainda que ele, por exemplo, aumentasse o clitóris, a sexualidade feminina é muito complexa e isso não é garantia de prazer”, explica o médico Marcelo Steiner.
A médica Mariane Nadai explica que é preciso cuidado porque o medicamento não foi criado para a estrutura feminina e as pesquisas de segurança que se tem são sobre seu uso para as finalidades que é indicado.
“Entendo as mulheres buscarem alternativas porque o acesso a uma solução é mais fácil para os homens que para elas. Mas é preciso cuidado porque esse medicamento não foi estruturado para o corpo feminino. A gente não sabe sobre a segurança dele e automedicação pode colocar as pessoas em risco”, explica.
A médica explica que a disfunção sexual na mulher é multifatorial com questões que vão desde distúrbios hormonais, problemas de lubrificação, questões no assoalho pélvico até emocionais, ligadas à relação com o parceiro. Nesse contexto, os profissionais de saúde podem ajudar a encontrar soluções que possam, de fato, ajudar.
Mulheres estão buscando sobre uso de tadalafila
Ivan Babydov
🚨 O ginecologista Marcelo Steiner alerta sobre outro ponto: mulheres, assim como homens, têm tomado esses medicamentos como “potencializador” de treinos, associados ao uso de anabolizantes.
Nas redes, há vídeos de “coachs” ensinando a usar o medicamento para o treino. A justificativa é de que o medicamento é um vasodilatador que poderia ajudar na melhora da oxigenação dos tecidos, potencializando o fluxo sanguíneos nos músculos, o que ajudaria nos esportes como corrida e musculação. No entanto, ele não funciona assim.
O médico do esporte Carlos Eduardo Viterbo explica que já foram feitas pesquisas sobre o desempenho no esporte como vasodilatador, mas que os resultados mostraram que não há qualquer melhora no desempenho.
O especialista, que também usa as redes sociais para falar sobre desinformação em saúde, explica que a tadalafila faz parte de um coquetel de substâncias que vem ganhando espaço nas redes por quem faz uso de esteroides e anabolizantes e que isso inclui mulheres.
“Estamos vendo corpos irreais serem colocados como alvos. Não são corpos atléticos de quem treina, mas um corpo feito à base de substâncias. Isso afeta homens e mulheres e os dados mostram o quanto elas estão nesse grupo e são vulneráveis. Estão vendendo promessas irreais e as pessoas estão acreditando”, explica o médico arlos Eduardo Viterbo.
Sexualidade feminina é multifatorial
Cliff Booth
As respostas às perguntas mais feitas no Google
O que acontece se a mulher tomar tadalafila?
O que os médicos explicam é que ela não tem potencial de ajudar a mulher com nenhuma questão, mas como não há pesquisas de segurança sobre esse uso, é como o ditado: o remédio pode acabar virando veneno. Ou seja, de forma geral, não acontece nada, além da exposição ao risco.
“Se temos pesquisas que mostram que não ajuda em nada, tomar tadalafila, ainda mais todos os dias, com quantidades que não são controladas, podem ser um risco”, explica o ginecologista Marcelo Steiner.
Alguns dos sintomas, podem ser:
Dor de cabeça, dor nas costas, rubor facial, dores musculares, congestão nasal e indigestão;
Efeitos graves como priapismo, perda de audição ou visão, queda de pressão arterial e eventos cardiovasculares.
Tadalafila funciona em mulher?
O medicamento é indicado para a disfunção sexual. Neste sentido, já foram feitas pesquisas para entender se poderia ter efeito em mulheres, mas os resultados não trouxeram evidências que provem que funciona.
Sobre demais finalidades, não há qualquer evidência de que ele funcione como vasodilatador fortalecendo músculos ou melhora do desempenho no esporte.
Quanto tempo demora para a tadalafila fazer efeito?
Segundo a bula do medicamento, ele começa a fazer efeito após 30 minutos de uso e segue por 36 horas.
Tadalafila, mulher pode tomar?
Não há indicação para que mulheres usem tadalafila e os médicos e especialistas contraindicam a automedicação.
Tadalafila retarda a ereção?
Não, a tadalafila não age retardando a ereção. O medicamento age estimulando o fluxo sanguíneo na região íntima, o que permite que o homem chegue até a ereção. No entanto, ele não prolonga a ereção fazendo com que mantenha o pênis ereto por mais tempo.
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