Gestão Guti em Guarulhos deixou de construir reservatório em bairro que está há 1 semana embaixo d’água e culpa Tarcísio por não enviar verba


A exemplo do Jardim Pantanal, a cidade de Guarulhos ainda tem quatro bairros às margens do Rio Tietê embaixo d’água: Vila Any, Vila Izildinha, Jardim Guaracy e Vila Laurita. Pôlder na Vila Any minimizaria crise, mas desde 2021 não saiu do papel. Governo de SP diz que recebeu documento da prefeitura que necessitava de aprofundamento técnico. O ex-prefeito de Guarulhos, Guti Costa (PSD), o bairro alagado da Vila Any e o governador de SP, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Montagem/g1/Reprodução/Redes Sociais/TV Globo/Secom/GESP
Vizinha do Jardim Pantanal, na Zona Leste de SP, a Vila Any, em Guarulhos, é um dos quatro bairros da cidade vizinha à capital paulista que está há uma semana também embaixo d’água.
O drama dos moradores do bairro poderia ter sido ao menos minimizado se, em 2021, a gestão do ex-prefeito Gustavo Henric Costa, o Guti Costa (PSD), tivesse levado em frente um projeto de construção de um pôlder na região.
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Pôlder é uma porção de terrenos baixos e planos, usados como áreas alagáveis ou reservatórios, para que a água da chuva não invada regiões habitadas ou de plantio na agricultura.
Do lado paulistano, a prefeitura já entregou um na região do bairro da Vila Itaim e está prestes a entregar um segundo reservatório, que demorou dois anos para ficar pronto e não foi entregue a tempo de evitar a enchente da semana passada no Jardim Pantanal.
O segundo é construído na Vila Seabra, mas não ficou pronto. A promessa é a de que ele comece a operar em 45 dias, mas a unidade ficou completamente embaixo d’água, em razão das chuvas da sexta (31).
Do lado de Guarulhos, o g1 teve acesso ao projeto do reservatório da Vila Any, que estava pronto e chegou a ser apresentado ao prefeito pela secretaria de infraestrutura da cidade em 2021.
Projeto original do reservatório da Vila Any, em Guarulhos, que está parado desde 2021.
Reprodução
A obra da Vila Any não saiu do papel durante a gestão do ex-prefeito Guti, que governou Guarulhos por dois mandatos e deixou a cadeira em 31 de dezembro do ano passado.
Por meio de nota, Guti Costa disse ao g1 e ao SP2, da TV Globo, que não conseguiu levar adiante o projeto porque não tinha recursos no município e que a execução do reservatório, às margens do rio Tietê, é de responsabilidade do governo do estado de SP.
“O projeto de 2021 demonstra a preocupação de nossa gestão em buscar soluções. Porém, o Município não dispunha dos recursos necessários para a realização da obra, até porque não seria de responsabilidade da Prefeitura, mas sim do Estado. Em 2023, quando o governador Tarcísio de Freitas solicitou para que as prefeituras apresentassem suas demandas para a região, reiteramos nosso pedido”, disse o ex-prefeito.
Projeto do reservatório da Vila Any, em Guarulhos, que está parado desde 2021.
Reprodução/TV Globo
“Em março de 2023, em reunião com o DAEE solicitamos a construção do pôlder, a partir de nosso projeto, na região que abrange os bairros Vila Izildinha, Vila Any e Jardim Guaracy, incluindo medidas para realocação de parte das famílias que vivem naquela região, construção de um reservatório de contenção, além do desassoreamento do rio Tietê”, completou.
O que diz a gestão Tarcísio
Por meio de nota, a SP Águas, agência do governo Tarcísio que substituiu o antigo Departamento de Águas (DAEE), afirmou que “recebeu um documento da Prefeitura de Guarulhos em 2023, que necessitava de aprofundamento técnico”.
“Foram solicitados os ajustes e a Agência aguarda devolutiva para avaliação. A SP Águas está à disposição da Prefeitura de Guarulhos e de todas as prefeituras para dialogar e buscar soluções conjuntas para desafios como o dos alagamentos enfrentados nesse período chuvoso”, declarou o órgão.
Porém, Guti rebateu a nota do governo Tarcísio, de quem foi aliado durante os dois últimos anos, dizendo que a SP Águas precisa provar que enviou notificação de reparo no projeto.
“A SP Águas informa que pediu detalhamento do projeto em 2023 e aguarda isso até hoje. Nós desconhecemos essa informação. Seria importante que eles mostrassem esse pedido, caso tenham feito”, disse o ex-prefeito.
Água baixa no Jardim Pantanal e moradores contam prejuízos
A exemplo de muitos moradores que residem na região de várzea do Tietê, tanto no Jardim Pantanal em SP, como na Vila Any em Guarulhos, Guti colocou a culpa das enchentes no fechamento da barragem da Penha, administrada pela SP Águas, pelo caos vivido pelos munícipes daquela área, que também engloba os bairros guarulhenses Vila Izildinha, Jardim Guaracy e Vila Laurita.
O ex-prefeito também culpou o agravamento da crise na área falando das obras da Prefeitura de São Paulo nos bairros vizinhos que pertencem à cidade de São Paulo.
“Não é de hoje que os moradores desses bairros sofrem com as enchentes. Os problemas de alagamentos na região da Vila Any se arrastam por décadas, já que há mais de 40 anos as áreas de várzea abaixo do rio Tietê foram ocupadas de forma irregular. Desde o início do meu primeiro mandato buscamos soluções, já que se trata do transbordamento do rio Tietê, de responsabilidade do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), órgão do Governo do Estado”, declarou.
“Com a construção de um pôlder no lado paulistano, os problemas na margem guarulhense se agravaram ainda mais nos últimos anos. Com as constantes chuvas e o fechamento da barragem da Penha, medida adotada pelo DAEE, os transbordamentos se agravam tanto em Guarulhos como em São Paulo”, completou.
Guti também afirmou que durante o último mandato na Prefeitura de Guarulhos assumiu outras obras que eram de responsabilidade do estado, usando recursos municipais para promover outras obras de drenagem.
Vale frisar que, em 2019, a Prefeitura de Guarulhos assumiu uma outra obra para combater as enchentes no município, que era de responsabilidade do Governo do Estado. Graças a um financiamento obtido junto à CAF (Banco Andino de Fomento) iniciamos o programa de macrodrenagem do rio Baquirivu-Açu, com investimentos de R$ 500 milhões. A obra, que ladeia o Aeroporto Internacional de Guarulhos, segue em andamento e se estende por uma área até oito vezes maior que o da Vila Any e que irá diminuir em até 70% as enchentes registradas em todo o território de Guarulhos.”
O ex-prefeito de Guarulhos, Guti Costa (PSD), e o aliado Tarcísio de Freitas (Repúblicanos): jogo de empurra sobre o pôlder da Vila Any.
Reprodução/Instagram
O que diz o novo prefeito
Rua alagada na Vila Izildinha, em Guarulhos, no sexto dia de enchentes na área.
Reprodução/TV Globo
Por meio de nota, a gestão do novo prefeito da cidade, Lucas Sanches (PL), disse que a Vila Any foi o bairro mais afetado pelas fortes chuvas do início deste ano (cerca de 95mm) e, por estar na várzea do Rio Tietê, sofre historicamente com as enchentes.
O novo prefeito afirmou que o problema na região é crônico e que “está sendo tratado com prioridade máxima”.
“A Prefeitura de Guarulhos se solidariza com a situação das famílias da Vila Any e dos bairros atingidos pela pior chuva dos últimos tempos na região. É um problema crônico que está sendo tratado como prioridade máxima pela Prefeitura de Guarulhos. (…) Possíveis soluções planejadas são estudadas pelos departamentos competentes e só serão divulgadas após certeza de que a execução de qualquer que seja a obra possa realmente resolver o problema das pessoas daquela região”, declarou.
Segundo Lucas Sanches, no último final de semana, pelo menos 120 pessoas, sendo 30 no sábado e 90 no domingo, foram resgatadas por meio de botes nas áreas atingidas.
Equipes de diversas secretarias e da Defesa Civil de Guarulhos estão presentes nos locais para oferecer o apoio à população.
“A Secretaria de Assistência Social forneceu 620 kits com lanches, 2.600 garrafinhas de água, 104 cestas básicas e 88 colchões para os moradores da região mais atingida pelas chuvas. Já a Defesa Civil doou, até a última semana, 748 cestas básicas, 618 colchões, 515 kits de higiene pessoal e 252 kits de higiene doméstica”, disse.
“A Prefeitura de Guarulhos seguirá cuidando da população da Vila Any e dos bairros vizinhos para minimizar os efeitos da elevação das águas, com o empenho das equipes da Defesa Civil e da Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social, além de outras pastas que estão de prontidão para ajudar os guarulhenses atingidos pelas chuvas”, completou.
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