Parque das Neblinas abriga quase 300 espécies de aves, incluindo animais ameaçados


Estudo atualiza lista de aves da reserva paulista e reforça a importância da área para a conservação da Mata Atlântica. Apuim-de-costas-pretas é uma das espécies ameaçadas que aparece na lista
Fabio Schunck
Um levantamento inédito revelou que o Parque das Neblinas, localizado entre os municípios de Mogi das Cruzes (SP) e Bertioga (SP), abriga 293 espécies de aves, incluindo 88 endêmicas da Mata Atlântica e nove ameaçadas de extinção.
O estudo, publicado na revista Zoologia, compilou dados coletados ao longo de 20 anos por pesquisadores, observadores de aves e equipes da reserva. Entre as espécies registradas, estão aves raras e de grande interesse para a conservação. Veja a lista das espécies ameaçadas:
Macuco (Tinamus solitarius)
Jacutinga (Aburria jacutinga)
Gavião-pombo-pequeno (Amadonastur lacernulatus)
Gavião-pombo-grande (Pseudastur polionotus)
Araçari-poca (Selenidera maculirostris)
Apuim-de-costas-pretas (Touit melanonotus)
Maria-leque-do-sudeste (Onychorhynchus swainsoni)
Pixoxó (Sporophila frontalis)
Cigarrinha-do-sul (Sporophila falcirostris)
Macuco é uma ave da família Tinamidae
Fabio Schunck
Além disso, o estudo identificou a possível ocorrência de híbridos do pica-pau-anão (Picumnus sp.), levantando novas questões sobre a dinâmica das populações de aves na região. Segundo o pesquisador Fabio Schunck, um dos autores do artigo, ainda serão necessários mais estudos sobre o fenômeno e o mapeamento abre caminho para isso.
“Foi a primeira vez que essa questão dos híbridos foi mencionada para o parque. Entender esse processo de contato entre as duas espécies de Picumnus e a geração de híbridos pode contribuir para o entendimento geral e evolutivo das espécies, pois é um processo natural ainda pouco conhecido no Brasil e que pode influenciar diretamente a conservação”, diz.
Durante o trabalho, foi possível reunir 24 registros de novas espécies na região, evidenciando seu alto potencial para novas descobertas.
Araçari-poca
Rudimar Narciso Cipriani
“Outra surpresa foi a ocorrência de nove espécies ameaçadas de extinção, que estão ameaçadas principalmente pela destruição dos seus habitats. O fato de estarem no Parque das Neblinas mostra que a região está protegida e está protegendo essas aves”, completa.
Na comparação dos especialistas, os dados indicaram a falta de registros recentes para algumas espécies registradas no passado, como a choca-de-chapéu-vermelho. Por outro lado, espécies que não haviam sido registradas anteriormente foram observadas nos últimos anos, como o coró-coró.
“No entanto, são dados que precisam ser melhor investigados para saber se é apenas um problema de amostragem ou algo a mais, talvez relacionado a uma possível mudança no ambiente ou mesmo às mudanças climáticas. São dados prévios que poderão subsidiar novas investigações”, finaliza o pesquisador.
De acordo com a publicação, um total de 1.971 espécies de aves ocorrem no Brasil, com a Mata Atlântica se destacando tanto por sua alta riqueza de espécies – são aproximadamente 849 espécies, incluindo cerca de 223 endêmicas.
Corujinha-sapo (Megascops atricapilla) não é considerada ameaçada
Fabio Schunck
O bioma também possui um grande número de espécies ameaçadas de extinção, com mais de 100 táxons entre espécies e subespécies. Isso faz com que a Mata Atlântica seja um dos hotspots de biodiversidade mais ameaçados do mundo.
Potencial imenso
Com 7 mil hectares, a reserva privada Parque das Neblinas desempenha importante papel na conservação da bacia do Rio Itatinga e do maior contínuo de Mata Atlântica do país: o Parque Estadual da Serra do Mar e a Serra de Paranapiacaba.
Desde a criação de um programa de pesquisas em 2002, a reserva já apoiou mais de 70 projetos científicos, incluindo a descrição de espécies novas para a ciência, como três anfíbios, uma formiga e um crustáceo. Ademais, o parque se mostra um destino promissor para o turismo de observação de aves, atividade em crescimento no Brasil.
Endêmica do Brasil, corocoxó é uma ave passeriforme da família Cotingidae
Fabio Schunck
“A riqueza de aves da Mata Atlântica e da Serra do Mar é muito alta e o Parque das Neblinas está justamente nessa região. Com base nos estudos realizados, ainda existe um potencial para detecção de novas espécies, entre corujas, gaviões, beija-flores e outros grupos”.
E o potencial da área não traz benefícios somente científicos. Com o apoio da comunidade na proteção da área, as aves locais podem auxiliar no controle de insetos e roedores que muitas vezes transmitem doenças ao ser humano. Para isso, os moradores devem ficar atentos ao abandono de animais domésticos, que podem predar ou transmitir doenças à fauna silvestre.
“Com a observação de aves crescendo, o parque certamente vai receber cada vez mais observadores, então os moradores do entorno podem participar deste processo se tornando guias de observação, investindo em infraestrutura voltada ao turismo, além de artesanatos e produtos alimentícios”, finaliza o biólogo.
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