PT celebra aniversário com disputas por três ministérios de Lula e racha sobre sucessão


Cúpula do partido está dividida entre apoiadores de Gleisi Hoffmann e Edinho Silva; há disputa entre petistas pela Secretaria-Geral da Presidência, Ministério da Saúde e Ministério do Desenvolvimento Agrário. O Partido dos Trabalhadores (PT) comemora, neste final de semana, os 45 anos de sua fundação num momento de profunda disputa interna sobre os rumos da sigla e também de divisão sobre a estratégia que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve adotar para recuperar a popularidade.
Para além disso, o aniversário ocorre em meio à expectativa da tão propalada reforma ministerial de Lula. Quadros do partido batalham nos bastidores por ao menos três ministérios: Saúde, Secretaria-Geral da Presidência e Desenvolvimento Agrário.
Lula, segundo aliados, “está fechado em copas”, quando o assunto é reforma ministerial, mas dois fatos são dados como certos: a saída de Nísia Trindade do Ministério da Saúde e e entrada no governo de Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT.
Lula no Amapá
Ricardo Stuckert / PR
As comemorações vão ocorrer entre hoje (21) e amanhã no Rio de Janeiro, com shows de artistas e apresentações de baterias de escolas de samba. Lula confirmou que irá participar das atividades do sábado de manhã.
Na programação, haverá uma mesa de debate com a secretária-geral do Morena (Movimento de Regeneração Nacional do México), Carolina Rangel Gracida.
O Morena é o partido da presidente do México, Cláudia Sheinbaum, e do antecessor dela, Andrés Manuel López Obrador. Ambos obtiveram altos índices de popularidade nos seus governos, algo cada vez mais raro nas democracias liberais. O PT busca se inspirar na experiência da esquerda mexicana.
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Gleisi x Edinho
O aniversário do PT ocorre a cinco meses do Processo de Eleição Direta (PED), no qual serão escolhidos o novo presidente e os novos integrantes do diretório nacional do partido.
Neste momento, a disputa interna opõe um grupo articulado em torno da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e outro que se agrupou ao redor do ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva, que é o mais cotado para suceder a atual presidente.
Essa disputa interna envolve divergências sobre a tática e a estratégia do PT para o próximo período, mas também expressa uma concorrência por espaços e recursos na cúpula do partido, ou seja, quem vai dar as cartas na sigla nos próximos anos.
Tanto Edinho, quanto Gleisi, integram a corrente majoritária do PT, a CNB (Construindo um Novo Brasil), que também está rachada.
Aliados de Lula afirmam categoricamente que Edinho é o favorito do presidente para o comando do PT. Ele detém ainda o apoio dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), do ex-ministro José Dirceu, além de boa parte do PT paulista.
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Reuters via BBC
O grupo de Gleisi é formado pelos deputados federais José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, e Jilmar Tatto (PT-SP). O senador Humberto Costa (PT-PE) e a tesoureira do PT, Gleide Andrade. Hoje, Guimarães é o nome mais forte do grupo para as eleições.
Edinho entende que o PT precisa renovar suas ideias e ampliar a interlocução com setores de centro na sociedade, incluindo parcelas do empresariado, do agronegócio e até da direita.
Na visão do ex-prefeito de Araraquara, se o partido não fizer este movimento e voltar sua atuação apenas para o campo da esquerda, pode caminhar rumo à irrelevância.
As posições de Edinho, no entanto, sofrem críticas de setores e dirigentes petistas, que veem nelas uma espécie de capitulação do PT. Estes críticos entendem que o partido precisa se reconectar com suas bases e reafirmar suas posições históricas de esquerda.
Um aliado de Gleisi diz que Edinho antecipou a disputa. “Ele queimou a largada. Achou que teria o apoio do Lula, mas até agora o presidente não fez nenhuma sinalização.”
Um petista histórico, próximo de Lula, afirma de forma reservada que o partido está se perdendo na disputa por nomes e deixando de lado o debate programático sobre qual caminho seguir.
“A ideia de que a Gleisi é radical e o Edinho vai moderar o partido é ruim para a Gleisi e é ruim para o Edinho. É simplista. Temos que discutir qual vai ser a estratégia, as propostas concretas do PT e do governo para superar as dificuldades.”
A disputa se estende para o governo. Os petistas mais alinhados à Gleisi criticam a condução da política econômica por Haddad e defendem que Lula lance mão de medidas populares para recompor a popularidade, especialmente junto à base social petista.
Já o grupo de Edinho sustenta que é o momento de fortalecer Haddad, manter o controle das contas públicas e deixar de lado os atritos com o mercado financeiro, para reduzir a inflação e controlar uma eventual alto do dólar.
“A Gleisi quer manter o controle do PT mesmo fora da presidência. Isso é ruim, o partido precisa de renovação. E, se ela for para o Palácio do Planalto, é mais uma para combater a política econômica do Haddad”, afirma um apoiador de Edinho.
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Expectativa de Gleisi no governo
A ida da Gleisi para um ministério de Lula já é tratada como fato consumado por integrantes do governo e dirigentes petistas. O destino provável dela é a Secretaria-Geral da Presidência, hoje comandada por Márcio Macedo.
A expectativa é que o anúncio ocorra nos próximos dias. Lula e Gleisi já tiveram uma conversa sobre a possibilidade dela entrar no governo, mas, segundo aliados do presidente e da deputada, ainda não houve um convite formal para alguma pasta, apenas uma sondagem.
Petistas esperam que Lula dê algum sinal sobre o futuro de Gleisi durante as comemorações do aniversário da sigla.
Macedo, atual ministro, tem se movimentado nas últimas semanas para conquistar apoios e permanecer no cargo. A ida de Gleisi para o governo enfrenta resistências no Palácio do Planalto e mesmo dentro do PT.
O mandato dela na presidência do partido termina só em julho. A ida para o governo encurtaria o prazo e forçaria a escolha de um presidente interino até as eleições para o comando da sigla.
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Críticos de Gleisi afirmam que a movimentação para que ela assuma um ministério agora faz parte de uma manobra para dificultar a eleição de Edinho Silva para sucedê-la no PT. Isso porque o escolhido para ocupar a vaga de forma interina ganharia força para ser efetivado na presidência do partido.
Um setor do partido entende que o governo, num momento de queda de popularidade, deve retomar o apoio do eleitor de centro que votou em Lula contra Jair Bolsonaro, mas está decepcionado com o trabalho do governo.
A escolha de Gleisi iria na contramão disso, ao passar a mensagem de que Lula está fazendo uma inflexão à esquerda em função das posições políticas da deputada.
Outro argumento usado pelos críticos de Gleisi é a necessidade, segundo eles, de fortalecer Haddad, que enfrenta fogo-amigo e desgaste interno no governo.
A presença de Gleisi no governo, especialmente num ministério palaciano, com acesso diário a Lula, poderia enfraquecer o ministro, dado que a presidente do PT é crítica da política econômica adotada pela Fazenda.
Apoio da cúpula
A escolha de Gleisi, em contrapartida, tem respaldo de uma parcela significativa da cúpula do PT e mesmo das correntes minoritárias.
A avaliação dos apoiadores da deputada é que ela é um quadro qualificado, com densidade política, que ajudaria Lula a definir a estratégia do governo e a constituir um núcleo mais forte no seu entorno.
Para alguns petistas, com a escolha de Gleisi para a secretaria-geral, Lula estaria tentando recompor, agora no Planalto, o grupo que coordenou sua campanha em 2022.
Isso porque Gleisi e o atual ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Sidônio Palmeira, estavam na coordenação da campanha.
Os partidários de Gleisi citam ainda o respaldo que ela tem dos movimentos sociais para ocupar a Secretaria-Geral e rearticular o apoio deste campo junto ao governo.
Por fim, aliados da deputada afirmam que ela tem uma boa relação com o presidente da Câmara, Hugo Motta, por ter conduzido o apoio da bancada do PT ao nome dele.
Integrantes do Planalto afirmam que seria pior para Haddad se Gleisi fosse escolhida para o Ministério do Desenvolvimento Social, no lugar de Wellington Dias. A pasta coordena programas sociais e possui um dos maiores orçamentos da Esplanada.
Padilha e Chioro disputam vaga de Nísia
Auxiliares de Lula no Palácio do Planalto dão como certa a saída da ministra da Saúde, Nísia Trindade, nas próximas semanas. Lula está insatisfeito com o trabalho da ministra pelo fato de a pasta não ter conseguido criar nenhuma nova marca e ainda ter cometido erros na política de vacinação.
A avaliação no Planalto é que o Ministério da Saúde deveria ser uma das principais vitrines do governo para demonstrar as diferenças da atual gestão para a anterior. O presidente tem grande expectativa no programa Mais Acesso a Especialidades, que prevê a ampliação de médicos especialistas. A ação foi lançada há quase um ano e não decolou.
O mais cotado para assumir a vaga de Nísia é o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que foi titular da Saúde durante o governo de Dilma Rousseff. Também aparece na bolsa de apostas outro ex-ministro: Arthur Chioro, que hoje é presidente da Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).
O pano de fundo da provável sucessão de Nísia é a disputa entre Haddad e Rui Costa. O ministro da Fazenda tem relação próxima com Padilha. Já Rui tem predileção por Chioro.
Padilha está desgastado com a cúpula do Congresso, especialmente da Câmara. Há uma pressão dos partidos de centro para que Lula o substitua por um ministro do grupo.
O líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões, e o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, são os preferidos dos partidos de centro para o posto. Também são citados para a vaga de Padilha o senador Jaques Wagner, líder do governo no Senado, e José Guimarães, líder do governo na Câmara. A ida de Padilha para a Saúde, portanto, ajudaria Lula a resolver dois problemas.
O que pesa a favor de Chioro é o fato de não ter mandato e não ter planos de concorrer a algum cargo em 2026. Padilha foi eleito deputado federal nas últimas eleições. Se quiser concorrer a algum cargo eletivo no ano que vem, terá que deixar o governo em março de 2026. Padilha, no entanto, estaria disposto a abrir mão de concorrer a algum cargo em 2026 se esta for a condição para que ele assuma o Ministério da Saúde.
Desenvolvimento Agrário
Por fim, há uma disputa pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. O atual ministro, Paulo Teixeira, é constantemente alvo de críticas por movimentos sociais, sobretudo do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Aliados de Lula afirmam que o presidente também já se queixou do trabalho de Teixeira à frente do MDA.
A pasta é desejada pelo ex-ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Paulo Pimenta, que tem relação próxima de Lula. Pimenta tem boa interlocução com movimentos sociais e tem se movimentado nos bastidores para se cacifar para o posto.
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