Estudo revela que manguezais do Amapá abrigam 312 milhões de toneladas de carbono azul


Estado possui o terceiro maior estoque no Brasil, segundo levantamento do projeto Cazul. Costa Amazônica detém a maior faixa contínua de manguezais no mundo. Área de mangue no Capo Orange, no Amapá
ICMBio/Divulgação
Um estudo divulgado pela plataforma Cazul revelou que o estado do Amapá concentra o terceiro maior estoque de carbono azul do país, com 312 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO₂) armazenadas em seus manguezais. A pesquisa também identificou que, apesar da importância, as áreas de mangue enfrentam ameaças como desmatamento e poluição.
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Segundo o levantamento, o potencial encontrado no Amapá pode gerar pelo menos R$ 8,067 bilhões em créditos de carbono no mercado voluntário. Os cálculos fazem parte do estudo “Oceano sem Mistérios: Carbono azul dos manguezais”, conduzido pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e pelo projeto Cazul.
De acordo com o pesquisador Alexander Turra, que é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), professor titular do Instituto Oceanográfico da USP e responsável pela Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano, para garantir a manutenção desse estoque, por estar associado a ambientes marinhos, os estados precisam proteger seus manguezais, mantendo-os saudáveis.
“Dessa forma, é possível assegurar todos os benefícios que esses ecossistemas oferecem, como a proteção da linha de costa, reduzindo a força e o alcance das ondas, a manutenção da produção pesqueira, a conservação da biodiversidade, entre muitos outros. Além disso, os créditos de carbono representam uma estratégia adicional para financiar a conservação dessas áreas”, descreveu o pesquisador.
O Brasil possui a segunda maior extensão de manguezais do planeta, ficando atrás apenas da Indonésia. O estudo “Oceano sem Mistérios: Carbono azul dos manguezais” identificou a presença de 1.390.664 hectares de manguezais ao longo da costa brasileira – área equivalente a nove cidades de São Paulo ou 11 cidades do Rio de Janeiro.
Eles estão presentes em 300 municípios brasileiros – principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Em relação aos biomas, 75% estão conectados com a Amazônia, 18% com a Mata Atlântica, 5% com o Cerrado e 2% com a Caatinga.
Estima-se que o Brasil já tenha perdido cerca de 25% da vegetação original de seus manguezais. As principais ameaças a esse ecossistema incluem:
a conversão de áreas para a produção de commodities na aquicultura e na agricultura, especialmente para o cultivo de camarões, peixes, arroz e palma;
o desmatamento para extração de carvão vegetal e madeira;
a ocupação desordenada devido ao crescimento urbano;
práticas predatórias de pesca, como a pesca de arrasto e a captura de espécies fora do período de defeso;
além da poluição causada por resíduos químicos (que incluem agrotóxicos e derramamento de óleo, por exemplo), além de lixo e esgoto.
Efeitos das mudanças climáticas, como o aumento do nível do mar e a erosão costeira, também intensificam os riscos para esses ambientes.
Manguezais da costa Amazônica
Ponta do Mosquito no Cabo Orange, no Amapá
Divulgação/ICMBIo
A costa Amazônica brasileira, que inclui o estado do Amapá, abriga a maior faixa contínua de manguezais do mundo. Esse ecossistema conectado à Amazônia ocupa 75% do território brasileiro, numa extensão de 1,043 milhão de hectares em 68 municípios da Amazônia Legal. Veja a distribuição:
29 no Pará
4 no Amapá
35 no Maranhão
Segundo a pesquisa, no total, os manguezais da Amazônia armazenam 1,3 bilhão de toneladas de CO₂, com um potencial de geração de até R$ 35,4 bilhões em créditos no mercado voluntário, com potencial de chegar a R$ 770,3 bilhões em um mercado regulamentado numa economia de baixo carbono.
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Créditos de carbono
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O mercado de créditos de carbono ganha força com as metas ambientais de cada país para frear o aquecimento global, tornando necessária a descarbonização de diversos setores da economia. Nesse cenário, o crédito de carbono é um mecanismo que permite que empresas e países compensem suas emissões de CO₂, comercializando créditos e investindo em projetos que reduzam ou capturem gases do efeito estufa, como a conservação de florestas e manguezais.
Parcela significativa das emissões vem de ações humanas, como o uso de combustíveis fósseis, o desmatamento, a agropecuária e processos industriais. Parte desse carbono é capturada pela vegetação, mas também por outros organismos fotossintetizantes, como as algas, e armazenada em troncos, galhos, raízes, folhas e, especialmente no manguezal, no solo, auxiliando no equilíbrio atmosférico e minimizando o aquecimento global e seus eventos extremos. Cada crédito equivale a uma tonelada de CO₂ que deixou de ser emitida ou foi absorvida da atmosfera.
Crédito de carbono
Freepik
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