Pandemia de Covid-19: crianças e adolescentes foram vítimas ocultas

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Escolas fechadas, crianças e adolescentes sem sair de casa, numa fase em que a socialização é essencial, a pandemia mudou radicalmente a forma de aprender. A lousa agora era uma tela virtual. A estudante Bianca Ribeiro de 13 anos era uma criança quando a pandemia começou e sentiu os impactos do isolamento social.

“E eu era muito nova para entender isso, era eu era uma criança que era para estar brincando na rua, brincando de boneca e essas coisas, né? Mas infelizmente não deu”.

Muitas famílias tiveram dificuldades de acesso às tecnologias para manter os filhos estudando. Segundo o IBGE, no início da pandemia, 4,3 milhões de alunos não tinham conexão de internet, a maioria deles na rede pública.

Era o caso da estudante Paloma de Souza, hoje com 17 anos.

“Nas aula online eu também não podia participar muito porque são era dois celular e não tinha internet. Aí eu usava ou o da minha mãe ou o do meu pai, mas a maioria das vezes o meu pai estava trabalhando e a internet não pegava onde a gente morava”.

As aulas virtuais, combinadas com o isolamento, tornaram o aprendizado mais difícil, principalmente na alfabetização. O Brasil saiu da pandemia com 30% das crianças de 8 anos sem saber ler, o dobro do índice registrado em 2019, segundo dados do UNICEF, o Fundo das Nações Unida para a Infância.

Francisco Gadelha é diretor de uma escola pública em Ceilândia no Distrito Federal. Ele fala dos desafios que persistem mesmo depois da pandemia ter passado.

“Até hoje essa geração da pandemia a gente teve uma dificuldade muito grande. A gente teve que fazer aula de reforço, a gente teve que fazer, além de outras campanhas, teve que trazer psicólogos para a escola para fazer palestras. Então a gente teve que fazer como se fosse um tratamento de choque, porque muitos em sala de aula são cobrados. Faz isso, faz aquilo. Quando ele tá lá, ele tem que estudar no ritmo dele e ele não tem essa maturidade. Ele não tem a maturidade ainda de estudar no seu ritmo”.

Mesmo para famílias com mais estrutura para aulas online, os desafios foram muitos. A servidora pública Michele Pimenta precisou conciliar o home office com as demandas dos filhos Guilherme, que na época tinha 10 anos, e Luísa, que tinha 6 e estava na alfabetização. Para Michele, essa foi uma época bem complicada.

“Foi um período bem triste mesmo, porque não dava tempo, a gente não sabia manusear a ferramenta, que a gente tinha naquele momento, a escola também não sabia, tinha várias intercorrências, caía sinal, caía o programa, né? E a gente tinha que correr atrás de tudo isso para fazer dever de casa, manter a criança naquele período que tava estudando sentadinha, né? Olhando para tela, para tentar aprender junto com a professora, então eu corria para um lado, ajudava um, ia para o outro, ajudava o outro e tentando fazer o melhor possível, mas foi bem sofrido”.

Quando as escolas começaram a reabrir, entre 2021 e 2022, dois em cada três estudantes dos anos finais do ensino fundamental e médio relataram problemas de ansiedade e depressão, de acordo com dados do Instituto Ayrton Senna. Os sintomas mais comuns eram dificuldade de concentração, cansaço, problemas para dormir e perda de confiança em si mesmo.

A estudante Camila Oliveira de 14 anos sentiu na pele o peso do isolamento na infância.

“As minhas crises de ansiedade começaram porque eu me sentia muito insuficiente na escola. Eu me sentia burra, eu me sentia isolada, eu me sentia mal comigo mesma. Foi quando a primeira aula presencial começou, a gente voltou para as escolas em fase de teste ainda. Eu via, vi um conteúdo na lousa que eu não conhecia. Eu conhecia, sabia o que era, mas eu não conseguia resolver. E aí eu comecei as minhas mãos a ficar suada, minhas pontas dos pés ficarem dormentes, minha vista começou a embaçar, eu comecei a parecer que tinha alguém segurando assim meu coração e meu peito, meu coração tava acelerado, não conseguia respirar”.

A psicóloga Gabriela Barbeitos que as crianças e os adolescentes foram vítimas ocultas da pandemia. Ela relata quais foram os principais impactos do isolamento para crianças e adolescentes.

“Apesar do das crianças adolescentes não terem sido as principais vítimas diretas da covid-19, a gente fala que eles foram as vítimas ocultas. Justamente porque os adolescentes as crianças perderam muito o estilo de vida que eles tinham antes da pandemia, pelo isolamento social, pela mudança de rotina, então uma das principais mais queixas era, essa falta de contato com as outras pessoas ou ficar em casa o tempo inteiro, a saudade da escola. Então, e ainda mais quando a gente pensa nesse atendimento psicológico, nessa intervenção, junto com as crianças e adolescentes, quando a gente enxerga que eles foram afetados de alguma forma pela pandemia, a gente consegue mediar essas questões para que eles não sejam tão afetados na vida adulta, sabe? Eu acho que é uma questão de entender o comportamento dessa criança, ver se ela precisa dessa desse acompanhamento psicológico, se há essa necessidade, e aí sim a gente entra com um pano de ação, sabe? Para que não haja prejuízos futuros”.

Na última reportagem da série sobre os 5 anos da pandemia da COVID-19, vamos mostrar como a ciência avançou no período e os desafios que podem surgir em caso de novas pandemias.

Brasília (DF), 05.07.2024. Memorial Covid RN. Matéria da Radioagência.
Fotos: Wilson Moreno/Divulação

© Wilson Moreno/Divulação

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