Cristo Redentor reabre na terça após interdição devido à morte de turista gaúcho


Em reuniião, ficou acordado que uma ambulância ficará disponível no Alto Corcovado durante todo o horário em que houver visitação. No domingo, turista morreu ao sofrer um subito quando não havia socorristas. Os acessos ao Cristo Redentor vão reabrir na terça-feira (18), após ficarem fechados nesta segunda (17). A interdição ocorreu um dia após um turista gaúcho Jorge Alex Duarte, de 54 anos, morrer ao passar mal nas escadarias de acesso ao monumento, que não tinha socorristas no momento.
A reabertura foi acordada após uma reunião para elaborar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no início da noite.
Ficou acordado que uma ambulância ficará disponível no Alto Corcovado durante todo o horário em que houver visitação.
A morte do turista
O turista passou mal às 7h39 e foi atendido pelo Samu, que chegou ao local às 8h13, de acordo com o Santuário do Cristo Redentor.
Ao g1, a nora da vítima, Melissa Schiwe, 24, relatou demora para chegada do socorro e afirmou ter iniciado, por contra própria, os primeiros socorros. “Comecei a gritar pra todo mundo no parque ‘é parada cardíaca'”, afirma ela, que é formada em enfermagem.
O Trem do Corcovado, responsável pelo posto médico, segundo o contrato de concessão, informou que os socorristas começam a trabalhar às 8h, que seria o horário de chegada do primeiro trem no alto do Corcovado. Mas, como o turista subiu de van, acabou chegando antes.
Segundo a empresa, os socorristas teriam chegado às 7h50 onde Jorge Alex passou mal. Em nota, afirmou que “não houve possibilidade alguma de salvamento apesar dos socorristas chegarem com o desfibrilador no mesmo instante e, em seguida, o Samu”.
O turista Jorge Alex Duarte
Reprodução/Instagram
A Nora contou que, por cerca de 5 minutos, fez massagem cardíaca no sogro. Depois, teve ajuda de pessoas que se aproximaram, entre elas, o padre João Damasceno, da capela do local. A nora estima que a ambulância do Samu tenha chegado cerca de 35 minutos após Jorge passar mal.
Nas redes sociais, Melissa lamentou a falta de ambulância no parque e disse que não existia atendimento de urgência aberto.
Gutemberg Fonseca, secretário de Defesa do Consumidor, explica que a bilheteria abre às 7h, mas o posto médico não.
“O posto médico só funciona a partir de 9h. E, às 17h, ele fecha. Se os consumidores subirem, estiverem lá e precisarem de posto médico não tem”, disse Fonseca.
Jorge Alex Duarte tirou uma foto no Centro de Visitantes Paineiras, antes da subida para o Cristo Redentor.
Reprodução
Jogo de empurra
O Santuário do Cristo Redentor, que administra o monumento, afirmou que o posto médico estava fechado na hora que o homem passou mal.
Em nota, faz outras críticas: diz que o “Alto Corcovado o não possui ambulância, acessibilidade universal, pontos de hidratação, brigadistas, banheiros adequados com acessibilidade, escadas rolantes e elevadores em pleno funcionamento, nem internet e sinal de telefonia de acesso público que permita que os visitantes possam fazer ligações”.
O Trem do Corcovado afirma que funciona há 140 anos sem qualquer problema de operação e que disponibiliza uma enfermaria com todos os equipamentos necessários aos primeiros socorros no alto do Corcovado. Sobre a morte do visitante, o Trem do Corcovado afirmou que não houve possibilidade alguma de salvamento apesar dos socorristas chegarem com o desfibrilador no mesmo instante e, em seguida, o Samu.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICM-Bio, que administra o Parque Nacional da Tijuca, afirmou que a responsabilidade de atendimento médico é do Trem do Corcovado, o que está previsto no contrato de concessão.
O documento diz que “o concessionário deverá responsabilizar-se pela implantação e manutenção de uma sala no Alto do Corcovado para abrigar um posto de atendimento de primeiros socorros, com os mínimos equipamentos de urgência e emergência, bem como profissional capacitado para realização dos procedimentos necessários”. E que “os serviços ambulatoriais de primeiros socorros deverão estar disponíveis durante todo período de funcionamento do Corcovado”.
O Santuário afirma que ” tentativa do ICMBio de transferir toda a responsabilidade à concessionária é uma manobra inaceitável, que escancara a negligência do órgão e sua incapacidade de garantir a segurança e o bem-estar dos visitantes”.
O ICMBio afirma ainda que não recebeu ofício ou comunicado da Secretaria de Estado de Defesa do Consumidor e nem do Procon informando, previamente, que faria uma ação de vistoria no Corcovado. “O ICMBio demonstra preocupação com a atitude da Secretaria, que causa prejuízo aos visitantes nacionais e internacionais no Corcovado. Tão logo o instituto seja formalmente notificado, irá avaliar e tomar as medidas cabíveis, principalmente para restabelecer o acesso pleno ao Corcovado de todos os visitantes”, diz o texto da nota.
Afirma ainda que “a Arquidiocese do Rio de Janeiro busca a todo momento colaborar com o desenvolvimento do Alto Corcovado, mas esbarra nos entraves burocráticos impostos pelo ICMBio”.
“Há duas semanas, notificamos o ICM-Bio, estamos recebendo diversas denúncias sobre problemas e eles nos responderam dizendo que deveríamos falar com o Iphan. Lamentavelmente, aconteceu o episódio do falecimento de um turista. O que não pode é ficar um jogando para a conta do outro. A responsabilidade é de todos e da concessionária”, disse o secretário Gutemberg.
O Procon-RJ realizou uma vistoria e interditou a venda de bilhetes do trem que leva ao Cristo Redentor enquanto o posto médico estiver fechado.
Reprodução/ TV Globo
“[Apuramos] Que o posto médico não estava funcionando. Tem a relação de consumo, tem a parte de venda e o mínimo que o consumidor precisa não estava funcionando. Viemos hoje e está interditado. Vamos fazer uma reunião com todos os órgãos competentes para firmarmos um TAC para que o consumidor não seja lesado”, disse o secretário.
O Procon-RJ destaca que, entre as medidas solicitadas, estão questões de acessibilidade e funcionamento do monumento no mesmo horário da presença do atendimento médico no local.
O g1 esteve no posto de venda do trem no Largo do Machado e funcionários informaram que a comercialização estava suspensa nesta segunda.
Nas redes sociais, o Trem do Corcovado informou que, para solicitação de reembolso, os interessados devem entrar em contato pelo e-mail: [email protected].
No Cosme Velho, onde ocorre o embarque, havia pouco movimento na tarde desta segunda. Denilson Julião, turista que veio de Fortaleza-CE, iria embora do Rio na terça (18), quando decidiu visitar o Cristo Redentor com a família nesta segunda.
Ele afirma que ficou frustrado ao chegar no parque e não poder visitar o monumento. “Agora só nos resta voltar para o hotel. E nem se fosse amanhã daria tempo, nosso voo sai pela manhã”.
Posto de venda do Trem do Corcovado
Dayane Zimmerman/g1
O que diz o Santuário
Acerca da interdição dos acessos à visitação ao monumento Cristo Redentor, esclarecemos que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que se autodenomina o poder concedente da área do entorno do Santuário Cristo Redentor, é a autoridade pública responsável por garantir a correta execução do contrato de concessão firmado com as concessionárias Trem do Corcovado e Paineiras Corcovado.
Isso significa que, ainda que a operação do posto médico tenha sido delegada à concessionária Trem do Corcovado, o dever de fiscalização e de garantir que o serviço esteja em funcionamento é exclusivamente do ICMBio, conforme prevê a Lei nº 8.987/1995.
Caso o órgão tivesse exercido sua função de forma diligente e identificado a falha na prestação de serviço, deveria ter aplicado as sanções cabíveis conforme previsto no contrato. No entanto, o ICMBio permaneceu inerte, permitindo que uma situação crítica de desassistência ocorresse dentro de um dos pontos turísticos mais visitados do mundo.
O Alto Corcovado não possui ambulância, acessibilidade universal, pontos de hidratação, brigadistas, banheiros adequados com acessibilidade, escadas rolantes e elevadores em pleno funcionamento, nem internet e sinal de telefonia de acesso público que permita que os visitantes possam fazer ligações.
A tentativa do ICMBio de transferir toda a responsabilidade à concessionária é uma manobra inaceitável, que escancara a negligência do órgão e sua incapacidade de garantir a segurança e o bem-estar dos visitantes.
O Santuário Cristo Redentor não aceitará que esse triste episódio seja tratado com indiferença e exige que as medidas cabíveis sejam tomadas imediatamente, para que outra tragédia não ocorra por omissão do poder público.
A Arquidiocese do Rio de Janeiro busca a todo momento colaborar com o desenvolvimento do Alto Corcovado, mas esbarra nos entraves burocráticos impostos pelo ICMBio. Diversos projetos estão sem o devido andamento sem nenhuma justificativa legal para tal, inclusive o de colocar uma ambulância de prontidão no Alto Corcovado.
Atualmente, existem dois Projetos de Lei tramitando no Congresso que objetivam devolver o Complexo do Alto Corcovado à Arquidiocese do Rio de Janeiro, responsável por sua construção há quase um século.
A Arquidiocese do Rio de Janeiro está prestando todo o apoio e suporte à família, enviando ao Rio Grande do Sul, nesta segunda-feira, 17 de março, o sacerdote que conduziu o velório realizado na Capela Laudato Si, no Santuário, para acompanhar a família até a cidade de São Leopoldo.
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