Anac notifica Voepass por falhas na manutenção de avião que fez pouso de emergência em Uberlândia


Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil, um dos mecânicos da empresa aérea fez ‘anotações fraudulentas’ quanto à correção de irregularidades. Incidente ocorreu em 2024. Modelo do avião que fez pouso de emergência em uberlândia trecho voepass atr 82-600 rio verde uberlândia pouso emergência
Divulgação
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) notificou a Voepass por irregularidades na manutenção do avião PS-VPA da companhia, que fez um pouso de emergência em Uberlândia (MG) em agosto de 2024, por motivos técnicos.
📄A notificação resulta de uma fiscalização realizada em agosto de 2023, portanto, antes do pouso de emergência.
O documento, ao qual o g1 teve acesso, responsabiliza um dos mecânicos que fizeram a manutenção na aeronave por supostamente preencher “anotações fraudulentas” quanto à correção de uma das irregularidades que haviam sido apontadas pela Anac.
trecho voepass atr 82-600 rio verde uberlândia pouso emergência
Flight Aware/Reprodução
🛬Na fiscalização, a Anac identificou bolhas em lâminas que protegem as hélices de danos causados por partículas no ar, como água e poeira.
O mecânico registrou a correção do problema no sistema de gestão da aeronave, mas, ao retornar ao local, a Anac notou que as lâminas não haviam sido trocadas.
“Essa situação configurou-se como prática no exercício da função que revela falta de idoneidade profissional e, além da sanção de multa, existe a indicação da sanção de suspensão da licença de mecânico, a ser avaliada pela primeira instância de julgamento”, diz o documento.
As bolhas nesse tipo de equipamento apontam a deterioração do material protetor e, segundo especialistas consultados pelo g1, podem levar ao desgaste prematuro das pás das hélices e desequilíbrios em voo.
✈️A mesma fiscalização da Anac também apontou outros problemas na aeronave:
A tampa de acesso a um equipamento que permite a localização da aeronave em caso de emergência estava solta e com limitadores danificados
A “porca castelo”, que fixa elementos estruturais, do trem de pouso principal estava sem selante e com sinais de oxidação
Os mecânicos não ajustaram os parafusos das carenagens ventrais com torquímetros. As carenagens ventrais são equipamentos protegem elementos críticos da aeronave. A falta de ajuste adequado, segundo especialistas consultados pela reportagem, pode levar ao desprendimento dos equipamentos em voo (parafusos frouxos) ou dano estrutural por excesso de tensão (parafusos muito apertados).
À reportagem, a Voepass afirmou que a aeronave estava com o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) válido quando pertencia à sua frota.
“A companhia ressalta ainda que a aeronave em questão não integra mais a frota da empresa e foi devolvida ao arrendador de forma programada no início deste ano”, disse em nota. (Leia a nota completa mais abaixo)
Troca de peça por item de outro avião
Exclusivo: mensagens extraídas do celular do copiloto expõem problemas na Voepass
A fiscalização da Anac apontou que, após registrar que a tampa de acesso ao equipamento de localização estava solta, os mecânicos trocaram a tampa por outra, de uma aeronave identificada como PR-PDZ.
A tampa que estava solta e foi apontada pela fiscalização, por sua vez, foi colocada na aeronave PR-PDZ. Como mostrou o Fantástico, a troca de equipamentos entre aeronaves da Voepass não era uma prática incomum.
Em carta enviada à Anac pela Voepass, à qual o g1 também teve acesso, a empresa diz que a troca foi feita “deliberadamente pelos mecânicos”.
Ajuste com ferramentas inadequadas
Sobre a falta de ajuste com o torquímetro – que é ferramenta indicada no manual da aeronave – nas carenagens ventrais, a Voepass disse à Anac que “a instrução a todos os mecânicos [da empresa] é a execução dos serviços de manutenção observando aos procedimentos descritos no manual de manutenção”.
O g1 perguntou à Anac se as irregularidades identificadas deram origem à notificação ou a processos administrativos contra a Voepass, mas a agência não respondeu a esses questionamentos.
Procurada, a Anac disse que o “auto de infração representa uma atuação da Anac, de caráter punitivo, quando se verifica descumprimento de regra”.
A agência afirmou ainda que o auto em questão não está relacionado à suspensão das atividades da Voepass a partir de 11 de maio.
Agência Nacional da Aviação Civil suspende as operações da Voepass
“A suspensão das operações da Voepass não se motivou de auto de infração ou descumprimento isolado de regra, tampouco tem viés punitivo. Trata-se de uma medida acautelatória, adotada diante da existência de um risco à segurança, com o fim de fazer cessar de imediato o perigo identificado”, disse a agência em nota.
Contudo, o g1 apurou que o treinamento dos mecânicos da Voepass foi um dos problemas apontados pela Anac ao suspender a operação da companhia no último dia 11.
A Anac identificou que os funcionários estavam agindo por juízo próprio, sem obedecer aos manuais das aeronaves, mesmo após treinamento oferecido pela companhia.
Para especialistas ouvidos pela reportagem sob anonimato, os problemas identificados na fiscalização de 2023 não são flagrantemente graves, mas apontam para uma falta de manutenção adequada, que pode comprometer a segurança das operações.
O que diz a Voepass
Leia a nota encaminhada pela Voepass ao g1:
“A VOEPASS Linhas Aéreas informa que a aeronave ATR 72-600, de matrícula PS-VPA, estava com o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) válido e com todos os sistemas requeridos em funcionamento enquanto pertencia à sua frota. A companhia ressalta ainda que a aeronave em questão não integra mais a frota da empresa e foi devolvida ao arrendador de forma programada no início deste ano.”
O que diz a Anac
Leia a íntegra da nota divulgada pela Anac:
“O auto de infração representa uma atuação da Anac, de caráter punitivo, quando se verifica descumprimento de regra. Durante uma fiscalização, quando identificada uma discrepância da atuação do operador em relação à regulamentação vigente, é feito um relatório que subsidia uma análise criteriosa, envolvendo outros dados da Agência e atendendo aos princípios de legalidade, proporcionalidade e da regulação responsiva. Ao final, caso se entenda pela admissibilidade, será aberto um ou mais processos sancionadores, para aplicação das devidas sanções aos responsáveis.
Quando há sanção, o operador tem o direito ao contraditório e à ampla defesa, de acordo com o devido processo legal, o que pode alterar o entendimento adotado. Dentro do conjunto de sanções passíveis de serem aplicadas, existe a multa e a suspensão de prerrogativas de atuação do regulado.
No entanto, esta sanção não se confunde com a ação adotada em relação à Voepass a partir do dia 11 de março de 2025. A suspensão das operações da Voepass não se motivou de auto de infração ou descumprimento isolado de regra, tampouco tem viés punitivo. Trata-se de uma medida acautelatória, adotada diante da existência de um risco à segurança, com o fim de fazer cessar de imediato o perigo identificado.”
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