Suposta vítima era comparsa: assalto à casa de praia com mineiros no ES tem reviravolta


Proprietária de imóvel invadido em 2024 era tratada como vítima, mas, na verdade, era uma das idealizadoras do crime que teve bebê usado para chantagem. Mulher se faz de vítima em crime na Serra, mas polícia diz que ela foi intermediadora
O inquérito policial sobre o assalto a uma casa alugada por turistas de Minas Gerais em na Serra, na Grande Vitória, em julho de 2024, foi concluído com uma reviravolta. A proprietária do imóvel, que se dizia alvo dos suspeitos, na verdade, era uma das integrantes do grupo e foi a mente por trás de uma trama para roubar o dinheiro das verdadeiras vítimas. As informações foram divulgadas pela Polícia Civil do Espírito Santo nesta terça-feira (25).
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Na época do caso, dois homens invadiram a casa, no balneário de Jacaraípe, e renderam a proprietária do imóvel, o filho dela, e dois casais que estavam hospedados. Dentre as vítimas estava um bebê de seis meses, filho de um dos casais mineiros. Na ação violenta, a criança teria sido jogada no chão e o pai, desesperado, acabou reagindo e foi baleado na perna durante a confusão com os criminosos. Outro homem foi atingido por uma pedrada na cabeça e um vigilante foirendido.
Na época, ninguém foi preso e, desde então, a polícia passou a investigar o caso, que teve um desfecho nos últimos dias.
Segundo a Polícia Civil do Espírito Santo (PCES), Elisângela Muniz da Silva, conhecida como “Loira”, participou da ação planejada pelos irmãos Gabriel Ferreira Adão e Jhonatas Ferreira Adão. Para o crime, eles contrataram Valclides Pessoa da Silva e David Lopes da Silva, responsáveis pela invasão da casa. Todos estão presos.
David Lopes, Valclides Pessoa, Elisângela Muniz, Gabriel Ferreira e Jhonatas Ferreira foram presos pelo crime premeditado cometido em julho de 2024
Divulgação / Polícia Civil
A trama para atrair as vítimas
De acordo com o inquérito concluído pela Polícia Civil, Gabriel era conhecido de um morador de Timóteo — cidade do Vale do Aço, em Minas Gerais — que buscava uma opção para passar as férias com a esposa e mais um casal de amigos na praia.
Ciente da vontade do amigo mineiro, Gabriel ofereceu uma casa na Serra e, em um primeiro momento, o grupo reclamou das condições da estrutura do imóvel.
A ação de oferecer o espaço aparentemente deteriorado, segundo a polícia, era premeditada para que a casa de Elisângela fosse ofertada com o pagamento de uma diária de R$ 200.
A partir daí, a dupla responsável pela invasão (formada por Valclides e David) foi informada que a casa ficaria com o cadeado aberto e que eles poderiam usar o bebê para chantagear o grupo com ameaças para pedir dinheiro.
Durante a invasão, os homens foram amarrados em um quarto e as mulheres em outro. A todo momento, os criminosos eram agressivos e pediam transferências via PIX às vítimas. A estratégia, porém, não deu certo, já que nenhuma transferência foi concluída.
Em determinado momento, os criminosos pegaram a criança no colo para chantagear o grupo. Desesperado, o pai do bebê conseguiu se levantar e levou um tiro na perna.
Já durante a fuga dos criminosos, o outro homem que estava rendido tentou correr atrás dos indivíduos e acabou atacado com uma pedrada na cabeça. Na ocasião, ele precisou ser levado ao hospital para tratar dos ferimentos.
Trabalhando na região, um vigilante de uma obra pública viu a ação e tentou intervir, porém, virou alvo de disparos dos criminosos e precisou fugir. Valclides foi o responsável pelos tiros na casa e também na rua, onde a arma acabou falhando durante o ataque ao vigilante (assista abaixo).
Assalto em casa de praia com mineiros no ES: polícia descobre que vítima era comparsa
Apesar de toda a trama, Valclides e David só saíram da casa com um telefone e com um carro, ambos roubados das vítimas.
Irmãos são “criminosos de alta periculosidade”, diz polícia
O delegado Rodrigo Sandi Mori, chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Serra, explicou que Gabriel Ferreira, um dos idealizadores do crime, já tinha passagem pela polícia por um assassinato registrado em fevereiro de 2024 em Parque Jacaraípe e, além disso, ainda era responsável por um ponto do tráfico de drogas no bairro Feu Rosa, também na Serra.
Já Jhonatas, irmão de Gabriel, tem na ficha criminal registros de crimes como tráfico de drogas, tentativa de latrocínio e homicídio. Ele era uma das dez pessoas mais procuradas pela polícia na Região do Vale do Aço, em Minas Gerais.
“A prisão dos dois é de suma importância, pois impediu que outros homicídios ocorressem na Serra, visto a periculosidade desses dois irmãos”, disse Sandi Mori.
Elisângela, por sua vez, não tinha ficha criminal. Ela era conhecida dos irmãos e, em um primeiro momento, foi tratada como vítima dos criminosos. Com o avanço das investigações e depoimentos, porém, inconsistências foram encontradas pelos policiais.
“Não houve arrombamento [na casa], o celular dela não foi roubado e ela não foi amarrada. Já os demais ainda tomaram coronhadas”, disse o delegado Gabriel Monteiro, chefe do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic).
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Ainda segundo o delegado, Elisângela foi a responsável pela ideia de usar a criança para chantagem do grupo. Ela ainda teria exigido que seu telefone e o de seu filho não fossem levados e que o crime fosse executado por apenas duas pessoas, pois estaria preocupada com a quantia de dinheiro a ser dividida após a ação.
Presos, os envolvidos vão responder por tentativa de latrocínio e roubo circunstanciado. Além disso, Valclides e David ainda serão indiciados por tentativa de homicídio contra o vigilante.
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