Mais de 40% dos entregadores por app já sofreu acidente e um terço vive em insegurança alimentar


Dados fazem parte de relatório da Ação da Cidadania feito a partir das entrevistas de 1,7 mil entregadores do Rio de Janeiro e de São Paulo. Mais de 40% dos entregadores já sofreu acidente; um terço vive em insegurança alimentar
Uma pesquisa revela que 41,3% dos entregadores de aplicativos de comida já sofreram algum tipo de acidente no exercício da função. Além disso, 32% sofrem algum tipo de insegurança alimentar.
Os dados fazem parte do relatório: “Entregas da Fome: Insegurança Alimentar Domiciliar em trabalhadores de aplicativos de entrega de comida nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro”, produzido pela ONG Ação da Cidadania.
A coleta de dados contou com as entrevistas de 1,7 mil entregadores nas duas maiores cidades do país com o objetivo de analisar as condições socioeconômicas dos aplicativos de entrega.
O resultado mostra uma rotina de jornadas exaustivas, insegurança e precariedade.
Rodrigo Kiko Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania, afirma que a pesquisa ajuda a desmistificar o modelo de trabalho no qual estes trabalhadores estão inseridos.
“Eu acho que a pesquisa ela traz uma vontade de desmistificar e mostrar para a sociedade a real condição a qual esses trabalhadores estão sujeitos, o que isso dá de consequência na vida dessas pessoas e pautar também esse debate baseado em dados, para que a gente possa pensar numa regulação que realmente beneficie esses trabalhadores.”, disse Rodrigo.
Protesto de entregadores em Botafogo
Reprodução/TV Globo
A divulgação acontece na mesma semana que os entregadores de aplicativos realizaram uma paralisação nacional de dois dias pedindo mais direitos. Os entregadores querem receber uma taxa mínima de R$ 10 por entrega, aumento no valor do quilômetro rodado e limite de três quilômetros de distância para quem usa bicicleta.
Rodrigo Kiko Afonso destaca vida de sobrecarga que a maioria dos trabalhadores enfrenta, de acordo com o estudo.
“Esse trabalhador trabalha quase todos os dias da semana, quase 60% trabalham 7 dias na semana, quase 60% trabalham mais de 9 horas por dia. Para ganhar um salário irrisório. Você vê que a renda familiar é muito baixa, mesmo com a contribuição desse trabalhador. E é um trabalho de altíssimo risco. Mais de 40% dos entregadores sofreram algum acidente durante as entregas”, destacou.
Insegurança
Manifestação de entregadores em frente ao Pacaembu, em SP
David Irikura/TV Globo
A pesquisa revelou que o trabalho como entregadores é a ocupação principal que exercem (91,5%) e fazem entregas todos os dias da semana, sem folgas (56,7%). As famílias têm renda mensal entre 2 e 5 salários mínimos.
Os dados mostram que a insegurança é uma constante no exercício da função.
Questionados sobre acidentes de trabalho, 41,3% revelaram terem sofrido algum tipo de acidente durante o trabalho. A maioria falou sobre acidentes leves, mas 38,8% relataram terem sofrido algum acidente grave que precisou de afastamento do trabalho. Apenas uma minoria contribui para a previdência social (27,8%).
Alimentação
A maioria dos entregadores afirma ter boa alimentação, mas pelo menos um terço sofre de algum tipo de insegurança alimentar.
De acordo com os dados, 18,5% das famílias dos trabalhadores sofria algum tipo de insegurança alimentar leve, em outros 5,5% eram casos de insegurança moderada e em 8% casos graves.
“A grande maioria trabalha muito e acaba virando, realmente, um trabalho que é o único dele, que toma a semana inteira e que também tira a possibilidade de futuro desse trabalhador. No fim do dia, esse trabalhador não paga imposto, então ele não tem previdência, não tem aposentadoria garantida para o futuro, não tem plano de saúde. E o que que acontece com isso? O Estado acaba arcando com esses gastos por esse trabalhador, enquanto a empresa tá lucrando milhões de reais nesse modelo”, disse o diretor da ONG.
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