Em meio à onda de imagens geradas pela Inteligência Artificial, equipe de basquete lança projeto com artistas locais em Bauru


Projeto do Bauru Basket valoriza a arte feita pelos próprios profissionais. Artistas Amy Maitland e João Risu contaram ao g1 sobre a importância da iniciativa. Bauru Basket realiza ação para divulgar artistas locais
Joaquim Xavier/Bauru Basket/Divulgação
Em um momento em que imagens geradas por inteligência artificial se popularizam na web, o Bauru Basket, equipe de basquete da cidade do interior de SP, escolheu seguir na contramão e valorizar o talento humano. O clube convidou cinco artistas visuais locais para criar ilustrações inéditas inspiradas na essência do Dragão.
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A proposta é levar a identidade do clube por meio da arte urbana e reforçar a parceria com a cultura local. O resultado do projeto foi publicado nas redes sociais do time em três etapas, entre esta segunda-feira (7) e quarta-feira (9).
O projeto parte da ideia de que esporte e cultura caminham juntos e que os moradores de Bauru(SP) podem enxergar o basquete também como uma forma de expressão artística.
Em entrevista ao g1, o designer João Risu contou que chegou em Bauru jovem, e como gostava de basquete, logo se identificou com a equipe da cidade.
“Quando eu vim pra Bauru, soube do time. Tenho alguns outros familiares que já acompanham bastante o basquete. Aí eles sempre perguntam se eu já tinha ido a um jogo, e quando eu tive a oportunidade de ir a um jogo, eu comecei a gostar muito, acompanhar mais”, explica.
João torcedor da equipe de Bauru desde que chegou á cidade
Arquivo Pessoal/Reprodução
João conta que na temporada de 2024, o jogador️ Dontrell Brite jogou muito. Juntando esse fato com o amor pelo clube, o artista decidiu fazer a ilustração dele, inspirado em capas de quadrinhos.
Alguns integrantes da equipe gostaram do trabalho, e a partir daí começou um projeto de ilustração de artes entre João, outros artistas parceiros dele e o Bauru Basket.
Outra artista que também fez parte do projeto foi a Amy Maitland, uma australiana de 26 anos, que chegou em Bauru no ano de 2009. Ela é formada em Design Gráfico e por acompanhar a equipe de basquete desde que chegou à cidade, teve interesse em participar do projeto.
À reportagem, Amy relata que a iniciativa mostra a cultura da cidade e também pode servir de inspiração. “A iniciativa ajuda por mostrar os vários artistas talentosíssimos que tem em Bauru e região e inspirar outros a seguirem o mesmo caminho que o nosso. Fiz essa ilustração pensando na comunidade, nos torcedores e amantes do Bauru Basket”, explica Maitland.
Amy é australiana mas mora em Bauru desde 2009 e sempre acompanha os jogos de basquete
Arquivo Pessoal/Reprodução
Inteligência Artificial
O objetivo do projeto é incentivar e mostrar à população o quanto o trabalho desses artistas é importante e não deve ser ignorado com a crescente de imagens produzidas por meio de inteligências artificiais (IA).
João explica que as IAs podem auxiliar os projetos em algumas situações, como traduzir um texto para outros idiomas com maior coerência. Entretanto, para ele, uma arte de IA não tem a mesma qualidade de um produto que pode ser criado em estúdio por um profissional qualificado.
Inteligência Artificial tem seus aspectos positivos e negativos em diversas área de trabalho
Pixabay/Reprodução
“Ela é uma ferramenta muito simples ainda, com recursos muito iniciais. Eu acho que a IA vai ser revolucionária, tem muita coisa que ela pode gerar, mas quem está resolvendo mesmo são editores, criadores, jornalistas e escritores, que estão principalmente nessa área criativa assim.”
O uso de inteligência artificial na criação de imagens ainda está distante da realidade daqueles que atuam em estúdios e agências. Segundo João, os resultados não atingem o padrão de qualidade exigido por clientes e, muitas vezes, servem apenas como rascunhos ou referências para trabalhos que são desenvolvidos e comercializados posteriores.
“Se ela usa imagens de outros artistas para treinar essa IA, a gente precisa saber se esses artistas querem ceder essas imagens, se eles estão recebendo para isso. Porque pode ser que ela gerar imagem inspirada em um estilo não seja roubo, mas para ela conseguir gerar aquele estilo, ela precisou ser alimentada com aquilo. Ela praticamente está roubando.”
Amy também disse que tem receio da IA, mas entende que ela pode ser importante em um futuro próximo.
“Ela faz parte da evolução natural da tecnologia. Na minha experiência pessoal, é bem difícil a IA chegar perto do que eu imagino. Já tentei gerar algumas imagens e quase sempre sai meio esquisito. O artista sempre está em desvantagem, mas a IA acaba prejudicando quando empresas e pessoas optam por usar porque é mais barato que contratar artista mesmo. Acaba tendo uma maior desvalorização. ”
João já faz algumas artes para o Bauru Basket desde 2024
João Risu/Reprodução
Os dois artistas são unanimes em expressar suas opiniões sobre o uso da IA e como ela poderá ser aplicada.
“Acho que procurar, estudar e entender como funciona o IA. Usar ela a seu favor é um primeiro passo. Claro que vai ter empresa e gente que opte por usar IA, mas isso já está fora do nosso controle. Muitas empresas, editoras e agências ainda optam por contratar ilustradores, pois o trabalho final nosso acaba sendo de maior qualidade mesmo” , relata Amy.
João acredita que é necessário uma regulamentação dessas novas ferramentas e das redes sociais, para que não vire uma “bola de neve” e gere novos problemas.
“A gente precisa de uma regulamentação sobre como esse treinamento está sendo feito e por onde ele acontece. Hoje, praticamente tudo o que você acessa na internet pode estar servindo para treinar uma inteligência artificial. E isso não é um problema só dos ilustradores ou designers que estão na área, não é só o trabalho do artista, do criador, do editor, do jornalista, do escritor, do tradutor ou do dublador que está em jogo. Isso impacta uma cadeia de produção inteira”, finaliza.
Amy acredita que a iniciativa do Bauru Basket inspira outros artistas
Amy Maitland/Reprodução
* Sob supervisão de Henrique Souza
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