
Países de todo o mundo detêm mais de US$ 8,5 trilhões em títulos americanos. O Japão é o maior credor, com mais de US$ 1 trilhão. A China vem em segundo, com US$ 760 bilhões. Após tarifaço, investidores buscam alternativas seguras fora dos EUA
O tarifaço afetou a confiança dos investidores em opções que costumam ser consideradas mais seguras.
“Voo para a qualidade”. É a imagem que os mercados escolheram para definir o movimento de investidores em tempos turbulentos. O dinheiro deixa as economias emergentes – onde o risco é maior, mas as taxas de juros e retornos também – e segue em direção a portos seguros. A consultora econômica Zeina Latif diz que é como na vida de qualquer um de nós:
“Se você está com medo de perder emprego, medo de ter queda da sua renda, você vai tentar se preservar. Então, momentos de maior incerteza, de riscos elevados, que o investidor precisa preservar seu capital, ele tenta colocar seus recursos com liquidez e investimentos que são seguros. Tem que ser um investimento que tenha essa combinação, de ser seguro, não ter risco de calote, nem de perda de capital ou de ter baixa liquidez”, afirma.
Historicamente, em momentos de crise, os Estados Unidos sempre estiveram entre os destinos preferidos dos investidores, que corriam para a compra de dólares ou de títulos do Tesouro americano, atrás da solidez da maior economia do mundo. Só que dessa vez não tem sido assim. Desde o anúncio do tarifaço houve um forte movimento de venda dos títulos da dívida americana. Com isso, o governo Trump precisa pagar mais juros. Ou seja, garantir mais retorno para atrair investidores. Veja como subiram as taxas de juros nos títulos que vencem em dez anos, por exemplo.
Títulos americanos 10 anos
Jornal Nacional/ Reprodução
O professor de economia do Mackenzie Hugo Garbe diz que isso é histórico:
“A gente acaba enxergando uma migração para o ouro, uma migração para outros países que são considerados também porto seguro financeiro no mundo, assim como a Suíça e Hong Kong. Então, esse também é um outro efeito colateral que ações do Donald Trump estão gerando para o próprio Estados Unidos”.
Países de todo o mundo detêm mais de US$ 8,5 trilhões em títulos americanos. O Japão é o maior credor, com mais de US$ 1 trilhão. A China vem em segundo lugar, com US$ 760 bilhões. O Brasil é o 15º país com mais títulos americanos, com quase US$ 200 bilhões.
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Os economistas ressaltam que ter tantos títulos americanos sempre foi estratégico para a China, que agora usa isso para se defender na guerra comercial com os Estados Unidos.
“Essa era uma carta na manga que a China estava pronta para executar. Eles executaram e têm muito mais por aí, ou seja, eles têm muito mais título para poder vender. Os Estados Unidos devem muito para a China”, diz Hugo Garbe.
Investidores vendem títulos do Tesouro americano, normalmente considerados um porto seguro
Jornal Nacional/ Reprodução
Mas essa não é uma questão só entre a China e os Estados Unidos.
“Nesse momento, os Estados Unidos estão calcados na decisão de uma pessoa chamada Donald Trump. E quando você tem decisões econômicas e financeiras tão importantes assim calcadas e ancoradas em uma decisão pessoal, praticamente, com viés absolutamente psicológico, isso assusta o investidor e isso assusta quem está no mercado financeiro”, afirma Hugo Garbe.
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