Alunos e mães serão indenizados em quase R$ 500 mil após Guarda Civil usar spray de pimenta em escola


O caso aconteceu na Escola Municipal D’Alka Leles, em 2022. Em nota, a GCM e a Prefeitura de Goiânia informaram que ainda não foram notificadas da decisão. Guarda Civil Municipal
Reprodução/TV Anhanguera
O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) condenou a Guarda Civil Metropolitana (GCM) e a Prefeitura de Goiânia a pagarem quase R$ 500 mil após dois guardas fazerem uso de spray de pimenta contra os alunos da Escola Municipal D’Alka Leles, em 2022. Os pais dos estudantes moveram uma ação em conjunto de indenização por danos morais, e a Justiça determinou que cada aluno receba o valor de R$ 15 mil e os seus responsáveis recebem R$ 10 mil.
“Guardas civis metropolitanos teriam comparecido à unidade escolar e, em ato de flagrante descontrole e abuso, proferiram ameaças, utilizaram spray de pimenta, provocando reações físicas e psicológicas adversas em diversos alunos”, narra o documento de decisão.
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Em nota, a GCM e a prefeitura informaram ainda não terem sido notificadas da decisão. Como o nome dos guardas envolvidos não foi divulgado, o g1 não conseguiu localizar a defesa deles para que pudessem se posicionar sobre o ocorrido.
A sentença foi obtida pelo O Popular e publicada na quinta-feira (10). No entanto, ainda há possibilidade de recurso.
Processo e decisão
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) considerou que os guardas agiram “de forma abusiva”. “Houve abalo psíquico grave e direto aos menores, bem como dano moral reflexo (ricochete) aos pais, recomendando a indenização tanto aos alunos quanto aos genitores”, alegou o órgão.
“Sustenta-se que os atos foram presenciados por servidores escolares e que as crianças foram submetidas a atendimentos médicos emergenciais em virtude dos efeitos da substância química utilizada”, completou o MP.
Por outro lado, a Prefeitura de Goiânia afirmou que não houve provas o suficiente para embasar as acusações de abuso por parte da GCM. Conforme pontuado pelo município, o processo administrativo, que foi aberto na época em que o caso aconteceu, foi arquivado por ausência de irregularidades.
“Ressalta que o dano moral não é presumido e que o pedido indenizatório é desproporcional”, defendeu a prefeitura.
A juíza Simone Mendes acatou a denúncia, que reconheceu que houve:
Uso reiterado de spray de pimenta direcionado ao solo e, por vezes, às crianças;
Ameaças verbais graves, como a confissão de homicídios por parte de um dos guardas;
Sintomas físicos e emocionais imediatos, como vômito, desmaios, crises de ansiedade e dificuldade respiratória;
Necessidade de atendimento médico, com acionamento do Corpo de Bombeiros.
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“Assim, estando configurado o nexo causal entre a atuação dos agentes públicos e os danos sofridos pelas vítimas, impõe-se o reconhecimento da responsabilidade civil objetiva do Município de Goiânia, nos moldes constitucionais e legais”, decidiu a juíza.
No total, 19 alunos e 17 mães participaram do processo. De acordo com a defesa, as famílias pediram uma indenização no valor de R$ 50 mil para cada aluno e R$ 10 mil para os seus responsáveis, totalizando R$ 840 mil.
A juíza tenha reconhecido a responsabilidade dos envolvidos, mas definiu o valor de R$ 15 mil para cada aluno. “Embora inferior à inicialmente pleiteada, mantém-se suficiente para reparar o abalo experimentado e reafirmar o caráter punitivopedagógico da condenação”, destacou.
Relembre o caso
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O caso ocorreu no dia 3 de maio de 2022, na Escola Municipal Professora Dalka Leles, no setor Residencial Orlando de Morais, em Goiânia.
Na época, a coordenadora de turno do colégio, Claudia Machado, relataou ao g1, que a GCM estava fazendo uma ronda de rotina na escola. De acordo ela, a confusão começou durante o horário do recreio dos alunos.
“Recebemos uma ronda normal da GCM. Eles não foram convidados para nenhuma palestra […]. Durante o recreio, houve gritaria entre os meninos, começamos a ter um surto entre os alunos. Era aluno desmaiando, aluno com crise de pânico, aluno chorando. Foi uma cena horrorosa dentro da escola”, descreveu.
Após o ocorrido, os pais dos estudantes foram ao local preocupados com os filhos. A Polícia Militar e outras equipes da GCM foram acionadas para controlar a situação. O Corpo de Bombeiros e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) atenderam os estudantes atingidos com spray de pimenta.
A Polícia Civil começou a investigar o caso e os guardas envolvidos foram afastados do cargo. Inicialmente, a GCM Informou que foi até o local devido aos constantes relatos de brigas, e que usou a força necessária para colocar ordem em uma briga envolvendo dezenas de estudantes, mas negou ter agredido crianças e adolescentes.
No dia, um dos alunos que estava presente na confusão contou que se sentiu muito mal durante toda a situação. “Doeu na hora, eu chorei muito. Eu quero ir para uma escola para aprender, brincar. Que não tenha essa violência”, disse.
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