Vice de Nunes defende policiais acusados de gesto nazista e que queimaram cruz em SP: ‘quem critica não entende nada de polícia’


O vice-prefeito de São Paulo, Ricardo Mello Araújo, é coronel aposentado da PM e ex-comandante da Rota. Filiado ao PL, foi indicado a vice na chapa de Nunes por Jair Bolsonaro. O vice-prefeito de São Paulo, coronal Mello Araújo (PL), saiu em defesa dos policiais do 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) de São José do Rio Preto (SP).
Montagem/g1/Reprodução/Divulgação/PMSP
O vice-prefeito de São Paulo, Ricardo Mello Araújo (PL), saiu na quarta-feira (16) em defesa dos policiais do 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) de São José do Rio Preto (SP), que são acusados de apologia ao nazismo.
Em um vídeo que circulou nas redes sociais, os agentes aparecem colocando fogo em uma cruz com o braço erguido na altura do ombro, gesto que está sendo comparado ao nazismo e passou a ser investigado pelo Ministério Público de SP.
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Ao comentar em uma rede social um vídeo em que o tenente-coronel Costa Junior, que comanda o 9° Baep, justifica o ato, o vice de Ricardo Nunes (MDB) disse que “quem critica [o gesto dos policiais no vídeo] não entende nada de polícia”.
“Quem critica é porque não entende nada de polícia e nunca vai entender. São especialistas em denegrir, parabéns aos policiais militares que passaram pelo treinamento difícil que prepara vcs para as piores missões”, escreveu o vice-prefeito.
O g1 procurou a assessoria do vice-prefeito para saber se ele gostaria de comentar o assunto, mas não havia obtido retorno até a última atualização desta reportagem.
Vídeo de policiais militares queimando cruz no interior de SP gera críticas nas redes sociais
Mello Araújo é coronel aposentado da Polícia Militar e ex-comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).
Com 53 anos, o vice-prefeito vem de uma família de militares e foi a terceira geração a atuar na segurança pública de São Paulo.
O ex-Rota chegou à política por meio da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que o nomeou presidente da Ceagesp durante os anos de 2020 e 2023.
Em troca de apoio eleitoral a Nunes na eleição de outubro do ano passado, Bolsonaro exigiu que Mello Araújo ocupasse o vaga de vice na chapa.
Comentário do vice-prefeito de SP em post que fala da atitude dos policiais 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) de São José do Rio Preto (SP).
Reprodução/Instagram
Justificativa dos gestos nazistas
No vídeo em que o tenente-coronel Costa Junior justifica o ato, ele afirma que os gestos e a queima da cruz são rotineiros na corporação.
No pronunciamento, publicado no Instagram do Baep, o comandante afirmou que o objetivo principal da cerimônia é “valorizar o empenho e o esforço que os policiais dedicaram ao longo do período de estágio” antes da entrega dos braçais que os identificam como parte desse grupo de policiais (assista abaixo).
Comandante do Baep explica sobre vídeo em que policiais colocam fogo em cruz em Rio Preto
Segundo Costa Junior, o vídeo publicado na terça-feira (15), que mostra uma cruz em chamas, uma trilha com velas e um brasão de fogo no chão, no qual consta a palavra “Baep”, com pelo menos 14 policiais ao redor, não tem nenhum cunho religioso, racial ou político.
“Devemos esclarecer que, em nenhum momento, tivemos a intenção de trazer uma cerimônia com cunho religioso, político, racial. Isso não faz parte da nossa rotina, nós não fazemos rituais; nós cumprimos cerimônias, e esse foi o único propósito daquilo que aconteceu”, explicou.
Ainda de acordo com o comandante, os elementos na cerimônia possuem uma simbologia dentro dos princípios da Polícia Militar.
“A estrutura em formato de cruz envolta em chamas simboliza a vitória sobre os sacrifícios e o peso que doravante o policial adquire para honrar esse Baep que conquistou. O caminho iluminado simboliza toda a trajetória difícil percorrida pelos policiais até chegarem à etapa do juramento e reafirmam, perante toda sociedade, até nos sacrifícios da própria vida, defendê-la a qualquer custo”, explica no vídeo.
Vídeo de policiais militares queimando cruz em São José do Rio Preto (SP)
Após repercussão negativa na web, o vídeo da cerimônia foi apagado do Instagram do Baep na tarde de terça, pouco tempo depois de ter sido publicado. Segundo o comandante, a medida foi tomada para evitar que houvesse algum tipo de confusão por parte dos internautas.
“Optamos em retirar devido a toda essa repercussão que não desejávamos, mas é importante trazer agora esse esclarecimento e deixar bem claro para o cidadão rio-pretense e de toda a nossa região que o Baep não se confunde. Isso não vai trazer qualquer confusão ou abalar o nosso compromisso em defesa da sociedade, em combater o crime e cumprir as leis”, explica.
O vídeo foi publicado nas redes sociais do Baep de São José do Rio Preto (SP)
Reprodução / Rede Social
Ministério Público investiga conduta de PMs
Na quarta-feira, o Ministério Público confirmou ao g1 que vai investigar o caso. A promotoria da Justiça de Rio Preto deu prazo de dez dias ao comando do Baep local para que informe sobre as medidas adotadas em relação à publicação do vídeo.
Ainda segundo o MP, as ações estão sendo comparadas aos rituais da “Ku Klux Klan” na web. Internautas ainda relacionaram o ritual com um ato nazista. Outros classificaram como algo “desrespeitoso” e “fora dos padrões”.
O vídeo foi publicado nas redes sociais do Baep de São José do Rio Preto (SP)
Reprodução / Rede Social
O que diz a Polícia Militar
A Polícia Militar, por sua vez, justificou que o vídeo mostra a cerimônia de encerramento de um treinamento noturno, com o intuito de representar simbolicamente a superação dos limites físicos e psicológicos enfrentados, mas que em nenhum momento houve intenção de associar a ideologias políticas, raciais ou religiosas.
Ainda assim, a corporação disse que vai investigar as circunstâncias da produção dos vídeos. A Polícia Militar ainda completou que repudia qualquer alusão a símbolos nazistas, bem como qualquer manifestação de intolerância, preconceito ou discriminação.
O vídeo foi publicado nas redes sociais do Baep de São José do Rio Preto (SP)
Reprodução / Rede Social
O g1 também questionou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) sobre o teor das imagens. Em nota, a SSP informou que, assim que teve ciência das imagens, a corporação instaurou um procedimento para investigar as circunstâncias do caso.
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