
Ele contou que estava na fila para comprar pacote de internet, quando o funcionário levantou os braços para cima e disse que poderia levar tudo. O barbeiro e influencer Aldrieu Araújo Silva afirmou que foi vítima de racismo ao ser confundido com bandido em cruzeiro
Arquivo Pessoal e Marco Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo
O barbeiro e influencer Aldrieu Araújo Silva, conhecido como Dill Black, de 43 anos, afirmou que foi vítima de racismo em um navio de cruzeiro ao ser confundido com um bandido. Ele contou ao g1 que estava na fila para comprar pacote de internet, quando o funcionário levantou os braços para cima e disse que ele poderia levar tudo. A MSC Cruzeiros não se manifestou sobre o caso.
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Dill Black embarcou no navio MSC Seaview no dia 6 de abril, para participar do evento ‘Cruzeiro Barber’, o qual foi convidado para dar uma palestra. Segundo ele, a entrada na embarcação foi tranquila. No entanto, no dia seguinte, o que era para ser um momento importante na carreira dele, virou um transtorno.
O barbeiro está na profissão há mais de 28 anos, mas ganhou o reconhecimento que tem nos últimos 13, quando passou a realizar workshops. A participação dele no evento tinha o objetivo de compartilhar experiência com os profissionais.
Ele estava em uma cabine com quatro amigos, que também eram palestrantes e resolveram pesquisar sobre os pacotes de internet. Na fila para o atendimento, o barbeiro – acompanhado de outros colegas de profissão que também têm a cor da pele preta – ficou conversando sobre assuntos profissionais. Na hora do atendimento, ele se surpreendeu.
“Eu só tinha uma condição de pensamento normal: ‘Boa noite. Tudo bem? Como é que está o pacote de internet?’ Mas antes de eu direcionar a palavra, o rapaz [atendente] fez um gesto que me bloqueou. Ele levantou as mãos, olhou para nós três e falou: ‘Pode levar, pega tudo o que vocês quiserem'”, conta ele.
O barbeiro e influencer Aldrieu Araújo Silva afirmou que foi vítima de racismo ao ser confundido com bandido em cruzeiro
Redes Sociais e Arquivo Pessoal
Dill Black afirmou que não entendeu o motivo para que o funcionário tivesse feito esse gesto negativo. “Fiquei numa condição parado, congelado, não sabia o que ia fazer naquele momento”. Pouco depois, ele resolveu dizer para o atendente que não gostou da atitude.
De acordo com o barbeiro, o funcionário teria tido que foi uma brincadeira e chegou até a mostrar uma guia que carregava, associando a cor da pele à religião africana. No entanto, Dill Black disse para ele que é cristão. Após desistir da compra, ele foi até a recepção do navio relatar o ocorrido.
A recepcionista, segundo ele, disse que não era possível, pois apenas casos envolvendo violência eram registrados. O barbeiro solicitou a presença de um oficial de justiça, mas teve o pedido negado, sendo orientado a registrar o caso na primeira parada, em Búzios (RJ).
O barbeiro e influencer Aldrieu Araújo Silva afirmou que foi vítima de racismo ao ser confundido com bandido em cruzeiro
Arquivo Pessoal
Vergonha
No dia seguinte ao ocorrido, Dill Black afirmou que não teve nenhuma atenção dos funcionários do cruzeiro. “Ficou aquela coisa. Eu fiquei meio que com vergonha de ficar ali na recepção. Ficava mais na cabine. […] Isso ficou no meu emocional por conta da situação”.
Quando o navio parou no Rio de Janeiro, ele chegou a descer da embarcação para buscar orientações na Polícia Federal, mas foi orientado a registrar o caso em Santos. No litoral paulista, ele também não conseguiu registrar a ocorrência.
“Ele [funcionário] comentou como se fosse uma brincadeira e eu falei que não fui para um lugar para ser diminuído […]. Eu não estava esperando uma brincadeira, eu estava esperando uma abordagem profissional”, disse Dill Black.
Para ele, o profissional deveria ter tido postura. “Não é a cor da minha pele que vai demonstrar que eu sou um criminoso. Eu posso ser quem eu sou pela cor da minha pele e ser quem eu quiser ser acima do meu profissionalismo sem mostrar que eu sou criminoso”.
O barbeiro disse que a situação não pode mais ocorrer. “Acho que isso tem que parar. A pessoa se capacita, se esforça para dar o seu melhor, investe nela, de onde ela sai. Ainda mais aonde eu saí, falo por mim, saí de uma comunidade, então é um esforço tão grande para chegar onde cheguei”.
Notificação extrajudicial
Caso ocorreu dentro do navio MSC Seaview, que partiu do Porto de Santos (SP)
Solange Freitas/G1
O advogado Irapuã Santana, que defende o barbeiro, disse que registrou o boletim de ocorrência na Polícia Federal em São Paulo, que conduz a investigação. “A gente está elaborando uma notificação extrajudicial para conversar com a MSC para ver o que ela está disposta, como é que ela se posiciona”.
De acordo com ele, o ideal seria que a empresa se colocasse à disposição para reparar os danos causados ao barbeiro em um acordo amigável e, além disso, auxiliar na investigação já que a situação ocorreu em uma área em que haviam câmeras de monitoramento.
Caso a MSC não ofereça uma indenização por danos morais ao cliente dele, o advogado explicou que pretende iniciar um processo judicial contra a empresa. Além disso, o funcionário que fez o gesto, associando o barbeiro a um assaltante, deverá responder criminalmente.
Em nota, a Polícia Federal informou que não confirma nem se manifesta sobre eventuais investigações em andamento. Procurada, a MSC Cruzeiros não respondeu até a última atualização desta reportagem.
Relembre outro caso:
Passageira impedida de embarcar em cruzeiro fez ‘diário’ de espera no Porto de Santos
Uma professora aposentada, que estava entre as centenas de pessoas impedidas de embarcar no navio ‘Energia On Board’ por overbooking (venda de cabines maior do que a capacidade disponível), gravou momentos de tensão nas filas de espera no Porto de Santos, no litoral de São Paulo.
Telma Guadagnini França, de 53 anos, registrou como em um ‘diário’ os perrengues passados ao lado do marido no terminal de passageiros. O casal pretendia comemorar o 11º aniversário de casamento a bordo do cruzeiro, mas passou a data deitado no chão do local (assista acima).
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