FMI reduz projeções para o PIB do Brasil para 2% em 2025 e 2026


Com pressão das tarifas de Donald Trump, crescimento da economia global também foi revisada para baixo, para 2,8% e 3%, respectivamente. Logotipo do FMI é visto do lado de fora do prédio da sede em Washington
Yuri Gripas/Reuters
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu as projeções de crescimento do Brasil para 2% em 2025 e também em 2026, de acordo com novas estimativas divulgadas no relatório Perspectiva Econômica Global nesta terça-feira (22).
O corte foi de 0,2 ponto percentual para ambos os anos em comparação com estimativas divulgadas em janeiro.
Os números são mais pessimistas do que os do governo:
O Ministério da Fazenda projetou em março que o Brasil crescerá 2,3% neste ano e 2,5% em 2026.
O Banco Central passou a ver que o PIB crescerá 1,9% este ano.
Analistas avaliam que uma produção agrícola forte dará sustentação à economia neste início de ano, mas que ela passará a mostrar desaceleração gradual em meio a uma inflação ainda elevada e uma política de juros que afeta o crédito.
Em relação à inflação, o FMI calcula que o aumento dos preços no Brasil ficará em uma taxa média anual de 5,3% este ano e de 4,3% no próximo. A meta oficial de inflação é de 3% em 12 meses com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
O FMI citou em seu relatório as medidas tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e as contramedidas de diversos países como um “importante choque negativo ao crescimento”. O Brasil recebeu a tarifa padrão norte-americana de 10%.
O Fundo explicou que, “dada a complexidade e fluidez do atual momento, esse relatório apresenta uma ‘projeção de referência’ com base em informações disponíveis até 4 de abril de 2025 (incluindo as tarifas de 2 de abril e respostas iniciais)”.
Para a América Latina e Caribe, o FMI reduziu também em 0,5 ponto percentual a projeção para a região em relação a janeiro. Para 2026, o Fundo reduziu a estimativa de crescimento em 0,3 ponto, a 2,4%.
Segundo o FMI, as revisões para a América Latina e Caribe se devem principalmente a uma redução significativa na projeção para o crescimento do México, de 1,7 ponto percentual para 2025, para uma retração de 0,3%, e de 0,6 ponto para 2026, para um crescimento de 1,4%.
Isso reflete “uma atividade mais fraca do que o esperado no final de 2024 e início de 2025, bem como o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos, a incerteza associada e as tensões geopolíticas, e um aperto das condições de financiamento”, explicou.
As perspectivas para as Economias de Mercados Emergentes e em Desenvolvimento, das quais o Brasil faz parte, também foram reduzidas, em 0,5 ponto percentual para 2025 e em 0,4% para 2026. As contas agora são respectivamente de expansão de 3,7% e 3,9% para o grupo.
Isso se deveu a cortes significativos para os países mais afetados pelas recentes medidas comerciais, como a China, cuja projeção agora é de expansão de 4,0% neste e no próximo ano, com cortes de 0,6 e 0,5 ponto percentual, respectivamente.
O Fundo Monetário Internacional reduziu nesta terça-feira suas previsões de crescimento para Estados Unidos, China e a maioria dos países citando o impacto das tarifas norte-americanas, agora em máximas de 100 anos, alertando que novas tensões comerciais desacelerarão ainda mais o crescimento.
O FMI divulgou uma atualização de seu relatório Perspectiva Econômica Global, compilado apenas 10 dias após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar tarifas universais sobre quase todos os parceiros comerciais e taxas mais altas — atualmente suspensas — sobre muitos países.
O Fundo cortou sua previsão de crescimento global em 2025 em 0,5 ponto percentual, para 2,8%, e em 0,3 ponto percentual para 2026, a 3%, na comparação com o relatório de janeiro.
Ele disse que a inflação deve cair mais lentamente do que o esperado em janeiro devido ao impacto das tarifas, atingindo 4,3% em 2025 e 3,6% em 2026, com revisões “notáveis” para cima para os EUA e outras economias avançadas.
O FMI chamou o relatório de “previsão de referência” com base nos acontecimentos até 4 de abril, citando a extrema complexidade e fluidez do momento atual.
“Estamos entrando em uma nova era, à medida que o sistema econômico global que operou pelos últimos 80 anos está sendo redefinido”, disse o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, a repórteres.
O FMI disse que a rápida escalada das tensões comerciais e os “níveis extremamente altos” de incerteza sobre políticas futuras terão um impacto significativo na atividade econômica global.
“É bastante significativo e está afetando todas as regiões do mundo. Estamos vendo menor crescimento nos EUA, menor crescimento na zona do euro, menor crescimento na China e menor crescimento em outras partes do mundo”, disse Gourinchas à Reuters em entrevista.
“Se houver uma escalada nas tensões comerciais entre os EUA e outros países, isso alimentará mais incerteza, criará mais volatilidade no mercado financeiro e apertará as condições financeiras”, disse ele, acrescentando que o efeito conjunto reduzirá ainda mais as perspectivas de crescimento global.
Perspectivas de crescimento mais fracas já haviam reduzido a demanda por dólar, mas o ajuste nos mercados de câmbio e o reequilíbrio de carteiras vistos até o momento foram ordenados, disse ele.
“Não estamos preocupados, neste momento, com a resiliência do sistema monetário internacional. Seria necessário algo muito maior do que isso”, disse Gourinchas.
No entanto, as perspectivas de crescimento a médio prazo permaneceram fracas, com a previsão de cinco anos calculada em 3,2%, abaixo da média histórica de 3,7% de 2000 a 2019, sem alívio à vista a menos que haja reformas estruturais significativas.
O FMI reduziu sua previsão de crescimento do comércio global em 1,5 ponto percentual, para 1,7%, metade do crescimento visto em 2024, refletindo a fragmentação acelerada da economia global.
O comércio continuará, mas custará mais e será menos eficiente, disse ele, citando confusão e incerteza sobre onde investir, onde obter produtos e onde comprar componentes. “Restaurar a previsibilidade e a clareza do sistema comercial, em qualquer formato, é absolutamente crucial”, afirmou.
CRESCIMENTO NOS EUA EM QUEDA, INFLAÇÃO EM ALTA
O FMI reduziu sua previsão para o crescimento dos EUA em 2025 em 0,9 ponto percentual, para 1,8% — um ponto percentual abaixo do crescimento de 2,8% em 2024 — e em 0,4 ponto percentual para 2026, a 1,7%, citando incerteza política e tensões comerciais.
Gourinchas disse a repórteres que o FMI não está prevendo uma recessão nos EUA, mas que as chances de retração aumentaram de cerca de 25% para 37%. Ele disse que o FMI agora projeta que a inflação geral dos EUA atingirá 3% em 2025, um ponto percentual acima da previsão de janeiro, devido às tarifas e à força subjacente dos serviços.
Isso significa que o Federal Reserve terá que ser muito vigilante para manter as expectativas de inflação ancoradas, disse Gourinchas, observando que muitos norte-americanos ainda estão assustados com o aumento da inflação durante a pandemia de Covid.
Questionado sobre o impacto de quaisquer medidas da Casa Branca para remover o chair do Fed, Jerome Powell, Gourinchas disse que é “absolutamente crítico” que os bancos centrais consigam permanecer independentes para manter sua credibilidade no combate à inflação.
Os vizinhos dos EUA Canadá e México, ambos alvos de uma série de tarifas de Trump, também tiveram suas previsões de crescimento reduzidas. O FMI previu que a economia canadense crescerá 1,4% em 2025 e 1,6% em 2026, em vez de 2% projetado para ambos os anos em janeiro.
O Fundo previu que o México será duramente atingido pelas tarifas, com retração de 0,3% em 2025, uma queda acentuada de 1,7 ponto percentual em relação à previsão de janeiro, antes de se recuperar para um crescimento de 1,4% em 2026.
MENOR CRESCIMENTO NA EUROPA E ÁSIA
O FMI prevê que o crescimento na zona do euro desacelerará para 0,8% em 2025 e 1,2% em 2026, com ambas as previsões sendo reduzidas em de 0,2 ponto percentual ante janeiro. A Espanha é um caso atípico, com uma previsão de crescimento de 2,5% para 2025, uma revisão para cima de 0,2 ponto percentual, refletindo dados sólidos.
As forças compensatórias incluíram um consumo mais forte devido ao aumento dos salários e um alívio fiscal projetado na Alemanha. O FMI cortou sua previsão de crescimento em 2025 para a Alemanha em 0,3 ponto percentual, para estagnação, e em 0,2 ponto percentual em 2026, para 0,9%.
A previsão de crescimento da China foi reduzida para 4% para 2025 e 2026, refletindo revisões para baixo de 0,6 ponto percentual e 0,5 ponto percentual, respectivamente, em relação à previsão de janeiro.
Gourinchas disse que o impacto das tarifas sobre a China — altamente dependente das exportações — foi de cerca de 1,3 ponto percentual em 2025, mas isso foi compensado por medidas fiscais mais fortes.
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