
Para muitos crentes, a morte não é o fim de tudo. Mas o que acontece biologicamente durante e após ela? Existe uma alma separada do corpo? A ciência é capaz de analisar e explicar fatores físicos. O resto é artigo de fé.
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Na Páscoa, os cristãos celebram a ressurreição de Jesus, e a vitória da vida sobre a morte. Também os judeus ortodoxos e os muçulmanos acreditam na ressurreição. Para os hindus e budistas, a ênfase está sobretudo na redenção através da reencarnação. Portanto para os crentes, misturada ao luto pela perda de um ente querido devido a doença, idade, acidente ou violência, está sempre a esperança de que a morte não represente o fim de tudo.
Porém o consolo de uma vida após a morte não é exclusividade das grandes religiões mundiais. Também entre os primeiros coletores e caçadores, os egípcios, vikings e muitas outras culturas, aqueles que ficavam despediam-se com rituais e oferendas fúnebres, aplainando assim o caminho para o além-morte.
Biologicamente, o limite de funcionamento do corpo humano é de cerca de 120 anos. Porém a expectativa de vida concreta depende das condições de saúde e higiene, e ao longo do tempo tem se prolongado consideravelmente. Na Alemanha, por exemplo, a cada ano ela aumenta em três meses.
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Entretanto, para a maioria, não é tanto a morte em si a despertar temor, mas sim a incerteza do que ocorre quando se morre, e depois. Do ponto de vista médico, há mais de uma forma de óbito: na morte clínica, o sistema cardiovascular entra em colapso, pulso e respiração param, os órgãos deixam de ser supridos de oxigênio e nutrientes. Uma reanimação através de ventilação artificial e massagem cardíaca ainda é possível, e muitas vezes com êxito.
No caso da morte cerebral, contudo, não há mais essa possibilidade: cérebro, cerebelo e tronco cerebral deixam de funcionar. Certas células cerebrais, nas camadas mais profundas, ainda podem estar ativas, porém a consciência está irreversivelmente perdida.
Apesar disso, ainda se pode manter artificialmente a vida de “mortos cerebrais” por muito tempo. Certos pacientes talvez até reajam a impulsos externos, por exemplo durante cirurgias, mas do ponto de vista da medicina, trata-se de meros de reflexos medulares, não de sensações dolorosas.
As visões da experiência de quase morte que mexem na forma como alguém encara a vida
O que sentimos e pensamos no momento da morte?
Patógenos permanecem perigosos
Os órgãos humanos ainda resistem por algum tempo sem ser supridos. Só após algum tempo a divisão celular vai parando gradualmente, até que as células morrem. Se o número delas é grande demais, uma regeneração dos órgãos não é mais possível.
O primeiro a sucumbir é o cérebro, cujas células já morrem após três a cinco minutos sem oxigênio. O coração aguenta ainda cerca de meia hora. O sangue que para de circular cede à gravidade, depositando-se nas partes mais baixas e formando manchas de hipóstase, ou livor mortis.
Passadas duas horas, cessa a formação do transportador de energia trifosfato de adenosina, e os músculos se enrijecem. Esse estado de rigor mortis, ou rigidez cadavérica, se desfaz após alguns dias.
O trato gastrointestinal só morre após dois a três dias, e as bactérias que contém aceleram a decomposição do corpo. Os patógenos do organismo, contudo, permanecem em parte perigosos por bastante tempo. Os vírus da hepatite, por exemplo, seguem ativos por dias; os bacilos da tuberculose, até por anos. Ao todo, a decomposição total de um corpo humano leva uns 30 anos.
Embora não se saiba exatamente o que acontece na hora da morte, a ciência começou a revelar alguns detalhes sobre o que se passa em nossos cérebros.
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Experiências de quase-morte e o enigma da alma
A ciência registra experiências de quase-morte entre a morte clínica e a reanimação. Porém também as religiões e o esoterismo se ocupam intensamente das sensações relatadas, as quais variam fortemente, de acordo com os diferentes condicionamentos culturais.
Uma parte dos pacientes não tem qualquer lembrança dessa fase. Outros contam sobre uma avalanche de lembranças, libertação do corpo, paisagens ou uma luz forte (no fim do túnel). Enquanto uns sentem grande felicidade, outros sentem medo ou pânico.
Há indícios de que experiências de quase-morte sejam mais frequentes quando a reanimação leva mais tempo, e o fornecimento de oxigênio ao cérebro é suspenso mais longamente. Essa carência tem impacto especial nos lobos temporais e parietais, assim como na zona de conexão entre ambos, o giro angular. Não está claro se é lá que se formam as sensações de quase-morte.
Embora a morte seja parte da vida, é difícil para os seres humanos aceitá-la como um fim inevitável. Na maioria dos casos, o termo “alma” designa a essência nuclear de uma pessoa, separada do corpo. Em muitas regiões, é ela que define um indivíduo.
A crença numa alma imortal está profundamente arraigada numa mentalidade dualista, que divide o mundo em duas categorias antagônicas: bem x mal, certo x errado, corpo x alma. Filósofos como Platão, Sócrates e Descartes consideravam corpo e alma duas unidades separadas.
Dados das ciências neurológicas sugerem que todos os processos mentais estão conectados com a função cerebral. Desse modo, seria possível explicar toda a “vida anímica” através de neurônios, mensageiros químicos e redes.
Mas será que a essência, a alma humana se reduz realmente a atividades cerebrais mensuráveis, processos bioquímicos e influências socioculturais? Ou será que se trata de uma interação altamente complexa de tudo isso? Cientificamente não há como provar nem tal interação, nem a existência de uma alma. E para além das ciências empíricas começa a fé.
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