Trilhas Amazônicas: Juventude atua para mudar os rumos do futuro agora

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A crise climática está aí e parte da juventude tem plena consciência dos problemas que essas mudanças estão gerando. Não se trata mais de “deixar um mundo melhor para os nossos filhos”. O futuro catastrófico que os ambientalistas dos anos 80 e 90 alertavam, já chegou. Neste último episódio do podcast Trilhas Amazônicas, vamos trazer a juventude, que apesar da pouca idade, já tem muita história para contar na defesa do meio ambiente e do próprio futuro.

Histórias de luta que, muitas vezes, vem do berço. Como a da jovem seringueira Raiara Barros, que comanda a Associação de Produtores e Produtoras Agroextrativistas do Seringal Floresta e Adjacências, na comunidade Rio Branco, em Xapuri, no Acre. Raiara é filha de Raimundo Mendes de Barros, o Raimundão, primo do ativista ambiental Chico Mendes, que foi assassinado em 1988.

“Realmente o futuro, da Amazônia está nas nossas mãos. É uma tarefa nossa, a gente correr atrás de alguma forma de adiar o fim do mundo. Eu me inseri nesse local onde eu estou, porque eu sabia que um dia quem estaria no lugar do meu pai seria eu, seriam meus irmãos, seriam os jovens.”

Além dos problemas causados pelas mudanças climáticas, Raiara destaca o desafio de engajar mais jovens da região na conservação da floresta: “Essa é a nossa vontade, inspirar outros jovens, mas, infelizmente, a questão do agro, ela é muito pregada, principalmente no Acre, ela é muito visibilizada e a nossa questão ambiental chega a ser apagada, por eles.”

Já no território indígena, aos 27 anos, Lídia Guajajara tenta conciliar as diferentes frentes de luta de que participa. Natural do Território Indígena Arariboia, no município de Imperatriz, no sul do Maranhão, atualmente mora em Brasília e integra o coletivo de comunicação Mídia Índia e a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade, a Anmiga: “ Eu me considero uma ativista, jovem ativista do meu povo, com a pauta mais centralizada na questão do meio ambiente, inclusive, e eu trago muito isso na produção dos meus vídeos”

Morando em Brasília, Lídia teve de dar uma pausa nos estudos de direito, para se dedicar à coordenação de juventude do Ministério dos Povos Indígenas.

“A gente está reeducando a sociedade através da presença indígena nas redes sociais… E a minha vinda, inclusive, para o serviço público foi até consequência desse meu trabalho, questão da pauta da juventude, veio também de movimentos jovens… A gente trabalha aqui justamente nessa formulação dessas políticas a partir dos territórios.

E quando se trata da questão indígena, a luta também é ancestral. Nesse caso, o ativismo tem pelo menos 500 anos no nosso país.

Para que esse ativismo ambiental se espalhe para além dos povos da floresta, é preciso “reflorestar mentes”. E o senso de urgência move todos os que têm se dedicado a defender a Amazônia. No ritmo das mudanças climáticas, do desmatamento, dos incêndios, da poluição, da violência contra os povos tradicionais, o tempo é curto.

A Karina Penha, de 28 anos, moradora de São José de Ribamar, na parte amazônica do Maranhão é bióloga e uma das idealizadoras do movimento Amazônia de Pé, criado em 2022. A ideia é coordenar uma rede de ativistas para levar ao Congresso Nacional um projeto de lei para proteger florestas públicas, povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pequenos extrativistas e unidades de conservação.

“Desde muito pequena eu já me considerava uma ambientalista, já tinha essa pauta, assim como essa pauta da proteção do território, da proteção da Amazônia em especial, entendendo as questões ambientais e climáticas… Então já no ensino médio eu comecei a participar mais de alguns programas de liderança …E aí, no final do ensino médio, eu começo a participar do Engajamundo, que é uma organização de juventude brasileira que pauta as questões mais relacionadas também aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e, em especial, o clima.”

Atualmente, além de coletar assinaturas em todo o país, o movimento Amazônia de Pé organiza campanhas, festivais, conteúdos para serem divulgados nas redes sociais e nas ruas, eventos e ações culturais. Programas pedagógicos e treinamentos voltados para ativistas climáticos, comunicadores e profissionais de educação indígena.

“Hoje a gente se considera, né, entendendo esse nível de organização, como o maior movimento organizado pela proteção da Amazônia. Hoje nós temos uma coalizão de 350 organizações que são parceiras diretas e que constroem o movimento da Amazônia de Pé junto com a gente.”

Karina também participa da coordenação do PerifaConnection, plataforma de confluência das periferias brasileiras por meio da comunicação. E faz parte do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima. Justiça socioambiental e protagonismo dos povos tradicionais são pautas que ela tem abraçado ao longo desses anos.

Para a juventude, o slogan é claro e direto: nós somos a última geração que pode salvar a Amazônia.

Os jovens sabem o que precisa ser feito. Os tomadores de decisão que se reunirão em novembro na COP 30, no Pará, deveriam ouvi-los. Afinal, o mundo que estamos deixando será também problema deles.

O podcast Trilhas Amazônicas é uma parceria entre a Agência Brasil e a Radioagência Nacional. A série abre o ano da Trigésima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, a ser realizada em Belém, em novembro. Serão sete episódios publicados toda sexta-feira na Radioagência Nacional e nos tocadores de áudio.

*A equipe viajou a convite da CCR, patrocinadora do TEDxAmazônia 2024. 

PODCAST Trilhas AmazônicasEpisódio 7: Juventude – o futuro é agora

VINHETA: Trilhas Amazônicas

SOBE SOM 🎶 

KARINA: Eu acho que nós, jovens, a gente agora pensa sobre isso nesse contexto de urgência, mas também num contexto de que a gente não fala só para as próximas gerações. Eu acho que no passado se falava muito do tipo, o que a gente vai fazer para as próximas gerações? E agora a gente fala também dos impactos na nossa geração. Então, o que a gente também pode reduzir, o que a gente também pode mudar, não só para as próximas gerações, mas para a gente que ainda vai estar nessa geração, né.

RAFAEL: A crise climática está aí e a juventude tem plena consciência dos problemas que essas mudanças já estão gerando. Não se trata mais de “deixar um mundo melhor para os nossos filhos”. O futuro catastrófico que os ambientalistas dos anos 80 e 90 alertavam, já chegou.

RAIARA: Aqui na minha casa, a gente teve que fazer um poço artesiano, porque secou a nossa água aqui, da fonte, e várias outras pessoas também. E é muito curioso, porque aqui na nossa casa, a nossa nascente é rodeada de mata, e é bem preservado o local, e mesmo assim secou. Plantações também, assim, a gente não consegue mais falar assim, ‘ah, em tal tempo eu vou plantar isso’. A gente não consegue mais ter essa noção porque a gente não sabe se vai estar sol, se vai estar chovendo.

RAFAEL: Eu sou Rafael Cardoso, repórter da Agência Brasil. Neste último episódio do podcast Trilhas Amazônicas, vamos trazer a juventude, que apesar da pouca idade, já tem muita história para contar na defesa do meio ambiente e do próprio futuro. História de luta que, muitas vezes, vem do berço.

RAIARA: Meu pai é o Raimundão, né, ele é primo legítimo de Chico Mendes e automaticamente a gente é inserido, né, nesse local de luta socioambiental. Então, desde criança, eu já via meu pai participando das atividades, né, e tudo mais, construindo junto com os companheiros. E daí quando eu comecei a entender mesmo sobre o movimento que ele fazia parte, eu comecei a participar também, comecei a ter interesse e saber que um dia quem estaria no lugar deles seria um dos filhos.

RAFAEL: Filha de Raimundo Mendes de Barros, o Raimundão, primo de Chico Mendes. Aos 20 anos, a jovem seringueira Raiara Barros comanda a Associação de Produtores e Produtoras Agroextrativistas do Seringal Floresta e Adjacências, na comunidade Rio Branco, município de Xapuri, no Acre, que reúne 32 famílias.

RAIARA: Realmente o futuro, né, da Amazônia está nas nossas mãos. É uma tarefa nossa a gente correr atrás de alguma forma de adiar o fim do mundo. Eu me inseri nesse local onde eu estou, porque eu sabia que um dia quem estaria no lugar do meu pai seria eu, seriam meus irmãos, seriam os jovens, né. E eu acho que nós somos, sim, responsáveis, juntar tantos outros jovens que tem por aí. Eu sempre digo que não é só a juventude de reserva, né, que tem que estar nesse local de luta, né, e tudo mais. Acho que a juventude também da cidade tem que estar, porque não afeta só a gente que está aqui dentro, afeta a todos. Então seria muito fundamental, né? Todas as pessoas participarem, porque daqui a um tempo, se a gente continuar da forma que está, aí não tem futuro para ninguém.

RAFAEL: O seringueiro, sindicalista e ativista político Chico Mendes foi assassinado em 1988, aos 44 anos, justamente pela defesa que fazia da floresta e contra o desmatamento. Os pastos estavam substituindo as áreas onde ele e os companheiros trabalhavam na extração do látex. Mendes também lutava por melhores condições de trabalho para a categoria. Raiara nasceu quase 20 anos após a morte do primo em segundo grau. Mesmo assim, a jovem tem na luta de Chico Mendes sua grande inspiração de vida.

RAIARA: A Carta aos Jovens do Futuro, que foi deixada por ele, foi ela que praticamente me fez, me senti chamada por ela. Chico, ele foi e é uma grande inspiração para muitos jovens que hoje fazem parte, né, desse movimento. Teve um ato também na semana Chico Mendes. E meu pai passou uma poronga, né? Poronga é um utensílio que foi usado pelos seringueiros na cabeça, que era pra iluminar as estradas. Daí colocou aquela poronga na sua cabeça dizendo, né, que a luz dessa poronga serve de luz para o caminho de vocês e tal. E aquilo também foi muito marcante, assim, sabe, no momento, pra mim. E são histórias que contribuem muito, né, Chico contribui muito pra mim estar onde eu estou hoje.

RAFAEL: Raiara diz que ainda enfrenta preconceitos e desconfiança de alguns pelo gênero e pela idade, mas já coleciona vitórias importantes durante esse pouco tempo à frente da Associação.

RAIARA: Quando eu entrei na associação ela estava com 6 anos parada. Daí foi um ano de burocracia, né, pagando dívidas e tudo mais pra deixar ela ativa novamente. Então foi bem difícil, mas a gente já conseguiu. E com isso a gente conseguiu já ter o nosso ateliê da floresta. É um espaço onde a gente produz alguns artefatos, né, de madeira que já foram caídas há 30, 40 anos atrás. Então a gente reutiliza essas madeiras. E também uma cozinha comunitária, né, porque a gente recebe muita visita aqui. É turismo de natureza, porque meu pai também tem uma história boa para contar, né, e daí eles se interessam muito em escutar do meu pai toda a história que já foi vivida, nessas questões de impacto, essas coisas do tipo, e também de fazer trilha, de cortar uma seringa, quebrar uma castanha também, quando é época. Conhecer, né? Viver um pouco da reserva.

RAFAEL: Além dos problemas causados pelas mudanças climáticas, Raiara destaca o desafio de engajar mais jovens da região na conservação da floresta.

RAIARA: Essa é a nossa vontade, né, inspirar outros jovens, mas, infelizmente, a questão do agro, ela é muito pregada, principalmente no Acre, ela é muito visibilizada e a nossa questão ambiental chega a ser apagada, né, por eles. É questão de governo, questão de prefeitura, essas coisas assim, tentam apagar a nossa história. Então, a juventude acaba que já crescendo com aquela mentalidade de que quem vai trazer progresso, né, pra nossa vida futuramente será a derrubada, será o gado, essas coisas assim do tipo. E isso acaba afetando muito a gente, né, no nosso movimento. Que a gente é tão pouco, né, a gente tenta trazer eles pra perto, mas com aquela mente que está muito poluída pelas pessoas.

SOBE SOM 🎶 

RAFEL: Agora vamos sair dos seringais, para o território indígena.

LÍDIA: Eu me considero uma ativista, jovem ativista, né, do meu povo, com a pauta mais centralizada na questão do meio ambiente, inclusive, e eu trago muito isso na produção dos meus vídeos, inclusive, sou comunicadora e trabalho muito nessa pauta, direitos indígenas, territórios indígenas e meio ambiente.

RAFAEL: Aos 27 anos, Lídia Guajajara tenta conciliar as diferentes frentes de luta de que participa. Natural do Território Indígena Arariboia, no município de Imperatriz, no sul do Maranhão, atualmente mora em Brasília e integra o coletivo de comunicação Mídia Índia e a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade, a Anmiga.

LÍDIA : Teve muito essa necessidade da gente falar, os povos indígenas falarem da gente, porque a gente sempre via as pessoas contando a nossa história de forma errada, de forma equivocada. Então, até a minha ida para as redes sociais, por exemplo, foi essa questão de necessidade também, então, de pessoas ali pautando a questão, né, levando conhecimento. A gente está reeducando a sociedade através da presença indígena nas redes sociais, até em palestras as pessoas chamam a gente pra, né, pautar a questão indígena. E a minha vinda, inclusive, para o serviço público foi até consequência desse meu trabalho, né, questão da pauta da juventude, veio também de movimentos jovens.

RAFAEL: Morando em Brasília, Lídia teve de dar uma pausa nos estudos de direito, para se dedicar à coordenação de juventude do Ministério dos Povos Indígenas.

LÍDIA: A gente trabalha aqui justamente nessa formulação dessas políticas a partir dos territórios, né. Então, a gente está com agora uma iniciativa de realizar seminários regionais a partir das organizações de base da APIB, né, que é a nossa articulação maior dos povos indígenas. Pensando na criação dessas políticas, a gente não tem como criar políticas sem consultar a juventude ali nas bases. Então, para a gente criar essas políticas, tem que ouvir, tem que fazer essa consulta. E a gente está um pouco nessa missão agora, para criar, inclusive, um programa para a juventude, né, com foco também nessa questão da saúde mental, né, que é uma problemática urgente, que tem afetado vários jovens, a questão da saúde mental.

RAFAEL: Ansiedade climática, ou ecoansiedade, é a doença que tem afetado as pessoas que vivenciam as tragédias dos eventos climáticos extremos. Entre elas, muitos jovens, que percebem a gravidade da situação se aproximar. Mas Lídia aposta na força da juventude para encarar o problema.

LÍDIA: Eu tenho apostado muito na juventude, porque a juventude, ela traz consigo a sua energia, a sua interação e a habilidade com as novas tecnologias, né, de interagir, trazer um olhar diferenciado para as causas, para as lutas. A juventude, eu acredito que ela é muito esperançosa, muito aguerrida, guerreira, porque é uma juventude que realmente está em outro momento. A gente aposta muito nesses jovens. É por isso que a gente tem todo esse cuidado, né. Que a juventude, inclusive, está à frente de vários movimentos, inclusive à frente do movimento indígena no geral. A juventude que pauta a questão ambiental, que pauta a questão da demarcação dos territórios indígenas, que é a nossa pauta principal, né.

RAFAEL: E quando se trata da questão indígena, a luta também é ancestral. Nesse caso, o ativismo tem pelo menos 500 anos no nosso país.

LÍDIA: E essa luta que o ativismo traz, muita gente acha que é moda, não é. A gente vem do ativismo desde criança, a gente nasce ativista, já nasce sabendo o que a gente defende, o que a gente precisa defender, que é as florestas e seus povos. Pra nós não tem sentido ter o território ali também se ele não é protegido. Então, a gente pauta muito essa questão das vidas indígenas que fazem a defesa, a luta ali, pelo aquele ambiente, pelas florestas, porque são vidas que têm sido até ceifadas porque fazem a defesa, né, do seu habitat, da sua casa, que é seu território.

RAFAEL: Para que esse ativismo ambiental se espalhe para além dos povos da floresta, é preciso “reflorestar mentes”.

LÍDIA: Eu acredito que é possível a gente mudar, né. A gente usa muito uma frase das mulheres indígenas, que é reflorestar mentes das pessoas. Não basta só reflorestar o meio ambiente, as florestas, a gente agora está numa missão de reflorestar a mente das pessoas. Todo esse movimento, eu acredito que vai dar um resultado muito positivo. As pessoas também precisam chegar mais aos indígenas, se aproximar mais desse conhecimento, porque é um conhecimento ancestral que faz muita diferença. Então, você conhecer esses povos, quem são esses povos que lutam, que estão ali nesses territórios, até sofrendo ameaças, porque faz a defesa do meio ambiente, faz a defesa dessas florestas. Então, eu ainda acredito muito que não só a sociedade muda, não só as pessoas mudam, mas que o nosso meio ambiente traga isso, essa reflexão pra essas pessoas, que ainda é possível fazer essa mudança.

SOBE SOM 🎶 

RAFAEL: O senso de urgência move todos os que têm se dedicado a defender a Amazônia. No ritmo das mudanças climáticas, do desmatamento, dos incêndios, da poluição, da violência contra os povos tradicionais, o tempo é curto. Vamos agora conectar a cidade na pauta ambiental.

KARINA: Desde muito pequena eu já me considerava uma ambientalista, já tinha essa pauta, assim como essa pauta da proteção do território, da proteção da Amazônia em especial, entendendo as questões ambientais e climáticas, sempre foi uma coisa muito presente. Então já no ensino médio eu comecei a participar mais de alguns programas de liderança, mais nesse lugar também de entender a política, de fazer a política mais local, dentro também dos espaços, assim como escola, e outros espaços mais sociais. E aí, no final do ensino médio, eu começo a participar do engajamundo, que é uma organização de juventude brasileira que pauta as questões mais relacionadas também aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e, em especial, o clima. Então, eu começo a coordenar o grupo de trabalhos de clima do engajamundo e aí é onde eu começo a um pouco mais esse ativismo climático, né, mais organizado, digamos assim, dentro de movimentos. Então, começo também a ocupar alguns espaços nesse lugar de construção do movimento climático brasileiro.

RAFAEL: Essa é a Karina Penha, de 28 anos, moradora de São José de Ribamar, na parte amazônica do Maranhão. Ela é bióloga e uma das idealizadoras do movimento Amazônia de Pé, criado em 2022. A ideia é coordenar uma rede de ativistas para levar ao Congresso Nacional um projeto de lei para proteger florestas públicas, povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pequenos extrativistas e unidades de conservação.

KARINA : Hoje a gente se considera, né, entendendo esse nível de organização, como o maior movimento organizado pela proteção da Amazônia. Hoje nós temos uma coalizão de 350 organizações que são parceiras diretas e que constroem o movimento da Amazônia de Pé junto com a gente. Nessa construção, a gente tem tanto a coalizão de organizações como também a gente tem os ativistas, que são pessoas que acessam os nossos dados, que contribuem diretamente com a Amazônia de Pé, que se cadastraram no nosso site. Porque uma das ferramentas centrais que a gente tem para essa mobilização nacional é a criação de um projeto de lei de iniciativa popular pela proteção da Amazônia. Então, essa é uma inovação que a gente traz também, que é construir mobilização através de uma ferramenta política, que é o projeto de lei de iniciativa popular, que para a gente alcançar esse projeto, para que ele chegue no Congresso, a gente precisa mobilizar a assinatura física de um milhão e meio de pessoas.

RAFAEL: Além de coletar assinaturas em todo o país, o movimento organiza campanhas, festivais, conteúdos para serem divulgados nas redes sociais e nas ruas, eventos e ações culturais. Programas pedagógicos e treinamentos voltados para ativistas climáticos, comunicadores e profissionais de educação indígena.

KARINA: Agora está finalizando a segunda edição do programa Amazônia de Pé nas Escolas, que são escolas indígenas, inicialmente, é, na primeira edição foram 10 escolas, agora na segunda foram 40 escolas, né. Então 40 professores diretamente distribuindo tanto o material que a gente tem produzido especificamente pra esse programa, quanto participando, né, e desenvolvendo atividades. Ano que vem a gente vai fazer em territórios quilombolas. A gente tem os programas de líderes também, em que a gente abre um programa para essas pessoas que a gente chama de polinizadores, que são os nossos mega ativistas, que são as pessoas mais engajadas, para serem líderes regionais. Então, a gente tem líderes regionais espalhados por todo o Brasil também, trabalhando, fazendo ações pela Amazônia de Pé, desenvolvendo também esse ativismo através do programa, porque ele é um programa que também tem formações para essas pessoas.

RAFAEL: Para alcançar e engajar cada vez mais pessoas, a bióloga acredita que é fundamental pensar em estratégias de comunicação que deem conta das particularidades de cada comunidade, uma vez que os impactos climáticos não são os mesmos em todas as regiões e grupos sociais.

KARINA: A gente desenvolveu um material muito legal, que é uma HQ, uma história em quadrinho, que chama As Aventuras de Kayanako. Kayanako é uma das pessoas que trabalham com a gente, né? Ela é uma liderança indígena lá do Xingu. E a gente conta, dentro dessa história em quadrinho, sobre como se percebe as mudanças climáticas dentro dos territórios indígenas. Então, é um material bem legal, que conta desde as primeiras percepções, até a Kayanako indo para a COP, e aí explicando o que que é a COP e tudo mais. Mas além disso, a gente prepara formações para esses professores sobre mudanças climáticas. Então a gente faz esse repasse para eles também terem ferramentas de como falar sobre mudanças climáticas dentro das escolas indígenas. Então a gente tem desenvolvido e aprimorado o programa. Então, tem vários encontros semanais, a gente também faz encontros mais individuais com eles, de mentoria e tal. E eles sempre terminam esse projeto culminando em uma ação que é feita com a escola. Então, tem todo o envolvimento da comunidade estudantil, dos alunos, gestores. Então é mais pra ser essa formação mesmo sobre mudanças climáticas, né.

RAFAEL: Karina também participa da coordenação do PerifaConnection, plataforma de confluência das periferias brasileiras por meio da comunicação. E faz parte do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima. Justiça socioambiental e protagonismo dos povos tradicionais são pautas que ela tem abraçado ao longo desses anos.

KARINA: Quando a gente fala em justiça climática ela é uma justiça que ela não acontece se a gente também não tem resolução em outros problemas, digamos assim, sabe? Então, tipo, não existe uma justiça climática onde a gente tenha um processo de racismo ambiental acontecendo comumente, diariamente, né, dentro das periferias, por exemplo. Assim, se a gente não avança nesse combate, se a gente não avança em ter territórios mais arborizados, né, se a gente não avança em fazer com que os territórios quilombolas, né, tenham o seu bem viver garantido, ou que as aldeias, né, tenham seus territórios garantidos, a gente não avança com justiça climática. A mesma coisa são as pautas de gênero, assim, que inclusive é um debate que a gente tem levado bastante para os espaços da ONU, assim. Porque tanto a questão racial quanto a questão de gênero não são pautas, que, elas até chegam a ser discutidas, mas elas não chegam nos acordos finais. E aí o nosso grande receio é de ficar realmente uma perda de tempo, sabe? Porque como que a gente avança com metas se essas metas não incluem essa redução de desigualdades, assim? Tipo, não bate. Não bate as coisas, né?

RAFAEL: Para a juventude, o slogan é claro e direto: nós somos a última geração que pode salvar a Amazônia.

KARINA: A gente está vivendo o território da Amazônia muito próximo de um ponto de não retorno, né? Então, se a gente continua fazendo da mesma forma ou se a gente continua fazendo o uso da terra como ele é feito agora, nesse mesmo formato, nesse nível de destruição, de devastação, a gente pode muito facilmente chegar ao nível de não retorno em que a gente consiga, enfim,né, ter a Amazônia sem função de floresta. A gente não fala só sobre a função da floresta, né. Dentro da Amazônia de pé a gente fala que nós somos um movimento da Amazônia pela Amazônia e os seus povos. Então, a gente sempre faz questão de lembrar que a Amazônia é um território ocupado, povoado, que vão desde as periferias, aos campos, às florestas, aos quilombos, às aldeias, aos territórios urbanos. E que, enfim, a gente tem desafios muito diferentes, né, então a gente se ver como essa última geração que pode salvar a Amazônia, não muito nesse lugar de fora, né, de que os outros podem salvar esse território, mas que a própria população, né, nessa busca por salvar também o seu modo de vida, né, nessa construção de bem viver, a gente sabe que a gente tem uma corrida contra o tempo, né, pensando o tempo mesmo das mudanças climáticas, né, e desses desastres que podem acontecer. Então, aliado a isso, a gente sabe, né, como tá dado aí também, pelos últimos relatórios da ONU, enfim, que a gente tem pouco tempo nesse contexto de salvar o bioma Amazônia, né, esse território.

PASSAGEM 🎶 

RAIARA: Eu acho que lutar pela Amazônia é lutar pela vida. A gente hoje, nunca né, nunca se vive sem uma água, não se vive sem um ar puro, né, para a gente respirar. Então, lutar pela Amazônia é lutar pela vida. Muito queria, né, que esses jovens se achegassem com a gente e visse o encanto que é a gente preservar as nossas florestas, de viver dela, que dá muito para viver dela.

PASSAGEM 🎶 

LÍDIA: A gente acredita que nós somos a geração que pode decidir, mas também que pode fazer muita diferença. Então, se a gente não se mover agora, é impossível que outras pessoas se conscientizem. Muita gente não leva a sério o que está acontecendo, não só com a Amazônia, mas com outros biomas, que é muito importante a gente levar em consideração os biomas. Tem biomas que estão queimando e que muita gente não sabe, porque acha que a Amazônia é mais importante. Então, todos os biomas importam.

RAFAEL: Os jovens sabem o que precisa ser feito. Os tomadores de decisão que se reunirão em novembro na COP 30, no Pará, deveriam ouvi-los. Afinal, o mundo que estamos deixando será também problema deles.

SOBE SOM 🎶 

CRÉDITOS

RAFAEL: Este foi o último episódio do podcast Trilhas Amazônicas, uma parceria entre a Agência Brasil e a Radioagência Nacional, dois serviços públicos de mídia da Empresa Brasil de Comunicação, a EBC. Muito obrigado a você, que nos acompanhou até aqui e a todos, todas e todes entrevistados.

A série abre o ano da Trigésima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP30, que vai ser realizada em Belém, em novembro.

A equipe viajou a convite da CCR, patrocinadora do TEDxAmazônia 2024.

A reportagem, entrevistas e apresentação foram minhas, Rafael Cardoso.

Adaptação, roteiro, edição e montagem de Akemi Nitahara.

Coordenação de processos e supervisão de Beatriz Arcoverde, que também faz a implementação web junto com Lincoln Araújo.

Mara Régia gravou a vinheta e os títulos dos episódios.

A trilha sonora original foi composta para nós por Ricardo Vilas.

Também utilizamos a música Japurá River, de Uakti e Philip Glass.

Identidade visual da equipe de arte da EBC.

SOBE SOM 🎶 

RAFAEL: Ouça também os outros podcasts da Radioagência Nacional, como Crianças Sabidas, Futuro Interrompido e Histórias Raras. Se gostou, curta no seu tocador, nos dê umas estrelinhas e siga a Radioagência, isso ajuda o nosso trabalho a chegar a mais pessoas. Até a próxima!

SOBE SOM 🎶 

Em breve

Reportagem, entrevistas e apresentação

Rafael Cardoso
Edição, roteiro, adaptação e montagem Akemi Nitahara 
Coordenação de processos e supervisão

Beatriz Arcoverde

Identidade visual e design:

Caroline Ramos

Interpretação em Libras: Equipe EBC
Implementação na Web:

Lincoln Araújo e Beatriz Arcoverde

Trilha sonora original Ricardo Vilas
Locução da vinheta e títulos dos episódios Mara Régia
Música Japurá River  Uakti e Philip Glass
Youtube Luciana Gatti em reunião da Comissão Especial de Prevenção e Auxílio a Desastres Naturais da Câmara, março de 2024.

 

Trilhas Amazônicas EP 7 banner_1170x700-7 O futuro é agora

© Arte EBC

Meio Ambiente Podcast mostra como jovens se organizam em defesa do meio ambiente Rio de Janeiro 02/05/2025 – 07:15 Beatriz Arcoverde Rafael Cardoso e Akemi Nitahara Trilhas Amazônicas Podcasts Radioagência Nacional Especiais crise climática Mudanças Climáticas juventude sexta-feira, 2 Maio, 2025 – 07:15 23:23

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