
Leão XIV compartilha princípios semelhantes aos de seu antecessor, de quem esteve próximo nos últimos anos. Em 30 de setembro de 2023, na Cidade do Vaticano, o então papa Francisco com o Robert Francis Prevost, eleito o novo papa nesta quinta-feira, 8 de maio.
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“Não perca o senso de humor. É preciso sorrir.”
O conselho foi dado pelo Papa Francisco ao cardeal Robert Prevost, eleito Papa Leão XIV, numa das reuniões que ambos mantinham todos os sábados de manhã, nos últimos dois anos.
Foram grandes aliados e compartilharam princípios, como de um clero próximo ao povo e uma Igreja direcionada aos pobres.
Essa convivência se estreitou muito depois que Francisco o nomeou prefeito do Dicastério para os Bispos, uma espécie de selecionador dos monsenhores em todo o mundo. Para tanto, prevaleceu a linha de Prevost de que um bispo deve ser antes de tudo um pastor, e não um príncipe sentado num trono.
Na última entrevista do então cardeal americano ao site Vatican News, logo após a morte do pontífice, ele dá detalhes sobre o relacionamento próximo com o papa, que começou em Buenos Aires. Jorge Bergoglio era o arcebispo da cidade e Prevost, prior geral da Ordem de Santo Agostinho.
“Sempre tive a impressão de um homem que queria viver o Evangelho de forma autêntica e com coerência”, contou.
Quando o Papa foi eleito, em março de 2013, Prevost estava em Roma e o reencontrou na primeira missa celebrada por ele, na paróquia de Santa Ana.
Achou que o pontífice não o reconheceria, mas se enganou. Francisco abriu um sorriso e aceitou, de imediato, o convite para presidir, em agosto, a missa de abertura do Capítulo Geral, na Basílica de Santo Agostinho em Campo Marzio, em Roma.
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No ano seguinte, o papa designou-o a administrador apostólico da diocese peruana de Chiclayo. Nomeou-o bispo, em 2015, e cardeal, há dois anos.
Pela vasta experiência no Peru, onde morou 20 anos, Prevost presidiu também a Pontifícia Comissão para a América Latina.
Ao Vatican News, ele conta que aprendeu muito com Francisco, a quem descreveu como coerente, autêntico e próximo dos que sofrem.
Lembrou da primeira viagem do Papa à ilha de Lampedusa e a sua proximidade com os imigrantes. E, da mesma forma, citou a carta escrita, em fevereiro passado, aos bispos americanos, durante a crise deflagrada pelas deportações em massa de imigrantes ilegais dos EUA, sob a determinação do recém-empossado presidente Donald Trump.
Na mensagem, Francisco destacava a importância de “de estar perto daqueles que sofrem”. Prevost indica que esteve ao lado do papa no embate contra os conservadores que o rejeitaram.
Nos encontros semanais em Roma, marcados para as 8h, o papa sempre chegava primeiro e informado sobre os temas que discutiriam. Mesmo quando Prevost se antecipava em meia hora, já encontrava Francisco a postos.
“Até o fim ele quis dar tudo a seu ministério, ao trabalho, ao serviço na Igreja.”
Nesse sentido, a consonância de princípios entre Leão XIV e seu antecessor é evidente, embora o novo papa aparente ser mais discreto e menos brincalhão.