
Com 65 metros de altura e 5,5 metros de comprimento, exemplar se torna o maior já catalogado da espécie no país. Jequitibá-rosa com 65 metros de altura é o maior já catalogado no Brasil
Fabiano Melo
A maior árvore de jequitibá-rosa (Cariniana legalis) já catalogada no Brasil foi descoberta em fevereiro na Reserva Biológica da Mata Escura, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, pelo professor e pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Fabiano Melo.
Com impressionantes 65 metros de altura e 5,5 metros de circunferência, os pesquisadores estimam que a árvore tenha cerca de 300 anos, com uma altura equivalente à de um prédio de 22 andares.
A descoberta aconteceu enquanto a equipe liderada por Fabiano, que também é primatólogo e trabalha com a ordem há mais de 30 anos, realizava uma expedição para monitorar a população de muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), uma espécie de macaco criticamente ameaçada de extinção.
“É incrível encontrar uma árvore dessa altura e a gente confirmou esse tamanho de 65 metros. Quando a gente busca na literatura, vai atrás de informação, não tem nenhuma árvore hoje catalogada que esteja viva nessa dimensão”, explica o especialista.
Drones com câmeras térmicas foram usados para localizar o jequitibá-rosa
Fabiano Melo
Esse encontro só foi possível graças ao uso de câmeras térmicas acopladas a drones, tecnologia que tem revolucionado a forma de monitoramento de fauna e flora. Essas câmeras permitem identificar a temperatura das áreas ao redor, destacando objetos quentes, como os corpos dos primatas, que se camuflam nas copas das árvores.
Os drones também são capazes de identificar troncos de árvores de grandes dimensões, que absorvem e retêm calor durante o dia. Foi assim que os pesquisadores localizaram o jequitibá-rosa, em um vale dentro da Reserva Biológica da Mata Escura, uma área que cobre quase 51 mil hectares.
“Pra nós é incrível por que todo o histórico que a gente tem de acompanhamento dessas árvores gigantes na Mata Atlântica mostram que essas árvores que tinham um porte parecido já desapareceram, então reencontrar ou de fato ter uma árvore deste tamanho, é uma grande surpresa”, diz Fabiano.
Segundo Fabiano, o desaparecimento dessas espécies de grande porte se deu pela idade centenária, mas principalmente pelo desmatamento.
Árvores seculares ou até mesmo milenares tendem a cair com tempo por causa do tamanho, da idade. Elas podem apodrecer, podem ter diversas doenças e acabam perecendo, mas de fato, na Mata Atlântica, o que mais aconteceu, infelizmente, foi a derrubada de florestas ao longo desses cinco séculos. Então, a gente praticamente perdeu aquela originalidade da floresta. As árvores maiores, normalmente de madeira boa, foram retiradas, consumidas. Boa parte da Mata Atlântica foi perdida
A descoberta do jequitibá de 65 metros integra o programa de monitoramento da fauna e flora, fruto da colaboração entre o ICMBio e a empresa Vale, no contexto da iniciativa Meta Florestal da empresa, reforçando a importância das reservas biológicas para a conservação da biodiversidade e a preservação das árvores seculares.
A árvore foi encontrada dentro da Reserva Biológica da Mata Escura, uma unidade de conservação de proteção integral, gerida pelo ICMBio, que protege a vegetação nativa da região. A Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados do planeta, perdeu cerca de 90% de sua cobertura original, o que torna cada descoberta como essa ainda mais significativa.
“Já estamos falando de uma área protegida, o que é maravilhoso. essa mata primária, onde eu achei o jequitibá, ela é riquíssima. Só de ter muriqui-do-norte, que é um macaco criticamente em perigo, nessa floresta já é uma coisa sensacional”, elucida Fabiano.
Exemplar é o maior já catalogado da espécie no Brasil
Fabiano Melo
Segundo Fabiano, a grande altura do jequitibá-rosa provavelmente se deve ao fato de estar localizado em uma área de floresta primária e de difícil acesso, onde a árvore permaneceu intocada por séculos.
Essa localização isolada permitiu seu crescimento sem as pressões causadas pelo desmatamento e pela exploração de madeira, favorecendo seu desenvolvimento ao longo do tempo. Segundo o pesquisador, é fundamental investigar a genética dessas árvores, além de preservar suas sementes e garantir a proteção dos exemplares.
Desmatamento na Mata Atlântica
Informações divulgadas nesta segunda-feira (12) pelo Atlas da Mata Atlântica revelam que Minas Gerais conseguiu reduzir o desmatamento do bioma em 25% entre 2023 e 2024. Embora essa diminuição seja uma notícia positiva, a devastação continua significativa.
Em 2023, o estado perdeu 14.761 hectares de floresta, enquanto em 2024 o número foi de 11.194 hectares. O estudo foi feito pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com apoio do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica, desenvolvido em parceria com o MapBiomas.
A Mata Atlântica abrange 17 estados no Brasil e Minas Gerais ocupa o terceiro lugar no ranking nacional de desmatamento em 2024, ficando atrás apenas da Bahia (23.218 hectares) e Piauí (20.030 hectares).
A nível nacional, os dados mostram uma redução de 14% no desmatamento, caindo de 82.531 hectares em 2023 para 71.109 hectares em 2024. No entanto, o ideal seria a eliminação total do desmatamento, pois, mesmo que não houvesse mais derrubadas a partir de agora, as consequências negativas da destruição dos últimos anos já estão sendo sentidas.
*Texto sob supervisão de Lizzy Martins
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