
Em entrevista ao g1, novo diretor-presidente da concessionária detalhou o projeto e o que ele considera as principais dificuldades. Modal vai ligar Campinas a São Paulo em 64 minutos; previsão de operação é para 2031. A concessionária responsável pelo Trem Intercidades (TIC), que vai ligar Campinas (SP) a São Paulo (SP) em uma locomotiva sobre trilhos com velocidade de até 140 km/h, prevê o início das obras em maio de 2026. O serviço expresso percorrerá 101 km/h entre o Terminal da Barra Funda, na capital, e o Pátio Ferroviário da metrópole do interior, em 64 minutos, com parada em Jundiaí (SP).
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Em entrevista ao g1, o novo diretor-presidente da TIC Trens, Pedro Moro, garantiu que as obras vão começar no prazo e reiterou que o modal estará em operação em maio de 2031. Além disso, ele detalhou o projeto, a fase de “pré-construção” e apontou o que considera os principais desafios da implantação, como desapropriações que serão realizadas e a readequação do transporte de cargas.
“A gente já fez o primeiro pedido de DUP (Declaração de Utilidade Pública) para as desapropriações junto ao governo federal. Esse vai ser um dos nossos maiores desafios porque a negociação é com órgãos distintos, áreas que precisam ser regularizadas com o governo para que a gente possa fazer a obra. Então, acredito que seja a parte mais complexa, mas a gente está cumprindo o cronograma e alinhando toda a documentação para facilitar os processos”, disse Moro.
Além do serviço expresso do Trem Intercidades, será implantado o Trem Intermetropolitano, com paradas em Louveira (SP), Vinhedo (SP) e Valinhos (SP). O mesmo contrato de concessão ainda prevê a implantação da linha 7-Rubi: ramal privatizado da CPTM que liga a Barra Funda, em São Paulo, a Jundiaí. Veja abaixo o raio-x.
Infográfico mostra trajeto previsto e detalhes do projeto do Trem Intercidades, que vai ligar Campinas à Estação da Luz, na capital de SP
Arte/g1
Nesta reportagem, você vai ver o seguinte detalhamento do projeto do TIC:
Readequação do transporte de cargas
Em que fase está o projeto atualmente
Estações
Segurança e tecnologia
Funcionamento do trem e preços
Como foi o leilão e a escolha do consórcio
Histórico
Readequação do transporte de cargas
Além das desapropriações, Pedro Moro também entende com um dos grandes desafios da implantação do Trem Intercidades a readequação do transporte de cargas, considerando que, em alguns trechos da linha férrea onde o modal vai passar, atualmente há o fluxo de locomotivas com mercadorias.
A missão da concessionária será, então, segundo o diretor presidente, fazer a transposição do trecho onde passa o trem de carga para fora da estação, deixando a linha exclusivamente para o transporte de passageiros.
“A nossa intenção é que não se tenha mais a convivência entre o transporte de cargas e o de passageiros. Então será um desafio também também de como passar essa linha de carga por fora. De Jundiaí até Campinas a linha férrea é usada atualmente pelo transporte da carga, então a gente vai precisar remanejar isso”, explicou.
Em que fase está o projeto atualmente?
A concessionária trabalha, até começar efetivamente a obra, no processo de “pré-construção”, o qual Pedro Moro considera que tem três diretrizes principais:
Elaboração de todos os projetos executivos de obra, estações, sistemas, energia, etc.
Obtenção das licenças ambientais
Desapropriações
“O edital ele dá todas as diretrizes básicas da obra, mas agora a gente precisa trabalhar em toda a aprovação dos projetos concentuais, com foco principalmente em como serão as estações”, completou o diretor-presidente.
Estações
De acordo com Moro, existem duas principais preocupações em relação à implantação das estações: fazer com que ela seja o mais funcional possível ao usuário e preservar os espaços onde há algum tipo de tombamento e não podem ser modificados.
“De Jundiaí para frente, em Vinhedo, Louveira, Campinas, Valinhos, todas as estações têm algum tombamento em alguma parte. Então, a gente está trabalhando nisso, no que vamos fazer com as estações. Em alguns casos, a gente preserva a estação original e dá um novo sistema ou em outros a gente vai manter as plataformas só para o TIC”, disse.
Segurança e tecnologia
O novo diretor-presidente afirmou que atua também com foco em tecnologia e segurança. A ideia é que o Trem Intercidades tenha um circuito de monitoramento por câmeras.
A concessionária também estuda, no projeto, medidas de segurança como as portas de plataforma, que mantêm o usuário distante da linha e evita acidentes, como o que matou um homem de 35 anos, na estação do metrô Campo Limpo, em São Paulo – ainda que os modelos de trem e metrô sejam diferentes. O sistema de bilhetagem também deve ser todo eletrônico.
“A gente está falando de algo que estará em operação daqui seis anos. Então, não sabemos o que teremos em relação a tecnologia, há seis anos você não imaginaria embarcar em um avião com reconhecimento facial, e agora isso já acontece. Então, não sabemos como será nosso sistema de bilhetagem, mas não devemos usar nada de papel”, finalizou.
Funcionamento dos trens e preços
Trem Intercidades (São Paulo – Campinas)
Trajeto: Barra Funda – Campinas
Tempo de trajeto: 1 hora e 4 minutos
Velocidade do trem: até 140 km/h
Capacidade: 860 passageiros por viagem
Preço da passagem (previsão): R$ 64,00
Trem Intermetropolitano (Jundiaí – Campinas)
Trajeto: Jundiaí – Campinas
Tempo de trajeto: 33 minutos
Velocidade do trem: entre 44 km/h e 80 km/h (média)
Capacidade: 2.048 passageiros por viagem
Preço da passagem (previsão): R$ 14,05
Modelo de trem da CRRC, empresa chinesa que compõe o consórcio vencedor do leilão do Trem Intercidades
CRRC
Assinatura do contrato
Governador de São Paulo autoriza assinatura de contrato do Trem intercidades
Em evento em maio de 2024, em Campinas, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) assinou a autorização para a assinatura de contrato. A cerimônia contou com a presença de representantes do consórcio C2 Mobilidade sobre Trilhos, vencedor do leilão, composto por:
CRRC Hong Kong: empresa chinesa construtora de trens que tem 40% do consórcio.
Comporte: grupo brasileiro, pertencente à família Constantino, que administra empresas de ônibus, o metrô de Belo Horizonte (MG) e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) da baixada santista. A holding tem 60% do consórcio.
A TIC Trens é a empresa formada pelas duas empresas que foram o consórcio. Ou seja, é a pessoa jurídica que responde pelo projeto. O consórcio foi o único a apresentar proposta e ser declarado vencedor do leilão.
Histórico do projeto
O Trem Intercidades é discutido pelo governo de São Paulo pelo menos desde 2013, quando foi anunciado para 2014 o prazo para publicação do edital que previa uma Parceria Pública Privada (PPP) para ligar a capital tanto ao interior quando à Baixada Santista.
À época, a proposta previa 430 km de extensão, com início por Campinas, mas teria dois eixos, um indo de Americana até o litoral, e outro entre Sorocaba e Taubaté. O projeto chegou a ser usado, em 2014, como promessa em campanha de reeleição de Geraldo Alckmin ao governo do estado.
Quatro anos depois, o então candidato ao governo de São Paulo, João Doria, garantiu que iria, se eleito, tocar o projeto do antecessor, ainda com previsão de ligação entre Americana e a capital, em uma PPP sem uso de dinheiro público na implantação.
A discussão pelo Trem Intercidades ganhou um novo desdobramento quando, em dezembro de 2018, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) defendeu o prolongamento do sistema até Limeira (SP), por entender que o trecho poderia acrescentar um movimento maior ao transporte por trilhos.
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Em 2019, Tarcísio de Freitas, quando ainda era ministro da Infraestrutura, disse em audiência na Comissão de Transportes da Câmara dos Deputados que o governo federal pretendia atrelar a implantação do trem intercidades, ainda previsto para chegar até Americana (SP), à renovação da concessão das linhas férreas, sob responsabilidade das empresas de carga.
É em 2019 que é dado início a sondagem de mercado do projeto, tendo sido realizadas audiência e consulta pública no ano de 2021, e depois uma sondagem de mercado pública em setembro do mesmo ano.
Em 2022, sob a gestão do governador Rodrigo Garcia, o projeto do TIC Eixo Norte, que já previa a ligação que vai a leilão atualmente, entre Campinas e São Paulo, ganhou uma nova etapa com a assinatura de convênio com prefeituras por onde o trem rápido virá a percorrer.
O Trem Intercidades Eixo Norte (TIC) foi incluído no Programa de Parceria e Investimentos do governo paulista em fevereiro de 2023, e a expectativa era de que o leilão fosse realizado em novembro do mesmo ano, mas uma atualização do edital, com revisão do valor de investimento e com mudanças para ficar “mais atrativo” aos interessados, culminou com a marcação da sessão pública para 29 de fevereiro de 2024.
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