
Às vésperas da festa, a cidade assinou contratos de R$ 28 milhões para festejos ao longo de 2025. Somados, esses custos ultrapassam os gastos com áreas essenciais, como Assistência Social, Cultura e Transportes, por exemplo. A prefeitura de Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, completou 192 anos e teve cinco noites de shows em comemoração. As atrações contratadas custaram R$ 2,2 milhões aos cofres públicos da cidade.
Um vídeo mostra que o prefeito Marcelo Delaroli até mesmo subiu ao palco para dar uma palhinha ao lado do cantor Belo. Outros artistas renomados se apresentaram ao longo da semana passada.
O município tem pouco mais de 240 mil habitantes e investiu alto na festa. Só com o cachê dos artistas, o município gastou pelo menos R$ 2,5 milhões. Mas, às vésperas da festa, a cidade se comprometeu em pagar R$ 28 milhões para festejos ao longo de 2025.
O RJ2 localizou 9 termos aditivos em contratos com empresas que fornecem estruturas para eventos. Todos assinados em maio. Somados, esses custos ultrapassam os gastos com áreas essenciais, como Assistência Social, Cultura e Transportes, por exemplo.
O orçamento para Defesa Civil o ano inteiro, que é de R$ 365 mil, é menor do que o pago a quatro dos artistas que se apresentaram no aniversário da cidade.
Em meio aos preparativos para o aniversário, no início desse mês, um estudo mostrou que a cidade estava em 73ª lugar entre os 92 municípios em desenvolvimento municipal.
O estudo é o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal, que analisa dados de Saúde, Educação e Geração de Emprego e Renda.
A pior avaliação de Itaboraí foi a Educação, considerada de desenvolvimento baixo, a segunda pior no ranking.
A Saúde fica na posição de número 44 no ranking do estado.
Um especialista em Direito Administrativo afirma que cabe ao gestor público priorizar os gastos da cidade.
“Qual sentido de se gastar uma fortuna em uma festa, ainda que seja boa para a população, quando a população carece de serviços básicos? Quando se usa recursos públicos, é preciso ser razoável e proporcional”, afirma Victor Accioly.
Prefeitura de Itaboraí gasta R$ 2,5 milhões apenas em cachês de artistas para aniversário da cidade
Reprodução/TV Globo
Não é a primeira vez que a cidade faz uma festa cara. No ano passado, depois dos eventos de aniversário, que consumiram milhões dos cofres públicos, o Tribunal de Contas do Estado fez determinações à prefeitura.
Uma delas pede a apresentação de um estudo técnico que comprove a regular prestação dos serviços públicos e também a comprovação dos ganhos diretos e indiretos ao desenvolvimento local garantidos pelo show. O TCE afirma nunca ter recebido o estudo.
O que diz a prefeitura
Em nota, a prefeitura disse que aplica os percentuais mínimos em Saúde e Educação e que a avaliação do impacto econômico indica uma movimentação de aproximadamente R$ 40 milhões na economia da cidade.
O RJ2 pediu o documento deste ano, mas também não recebeu.
O posicionamento da prefeitura diz que o calendário anual tem 47 eventos previstos e que o contrato de estrutura é anual porque contempla todos eles.
O município declarou que seguiu todas as recomendações do Tribunal de Contas do Estado e que o hospital municipal passou por obras de modernização e ampliação e agora atende pacientes de toda a região.
A prefeitura disse ainda que o incentivo à cultura e ao turismo é uma política pública estratégica, voltada à valorização da identidade local, ao estímulo da economia e à geração de emprego e renda.