
Acidente aconteceu na Av. Goiás, em São Caetano do Sul, via que tem limite de velocidade de 60 km/h. O estudante de Direito Brendo Sampaio, de 26 anos, está preso desde 9 de abril; ele se tornou réu por duplo homicídio qualificado. Defesa alega que o sinal estava verde para o motorista. Jovens morrem após serem atropeladas na faixa de pedestres na Grande São Paulo
O motorista Brendo Sampaio, que atropelou e matou duas amigas em abril deste ano em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, dirigia o carro a cerca de 108,1 km/h, apontou laudo da Polícia Técnico-Científica. Câmeras de segurança gravaram o momento do atropelamento (vídeo acima).
No início de maio, ele se tornou réu por duplo homicídio qualificado — por motivo fútil e mediante recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa das vítimas. Ele responde preso ao processo.
O acidente aconteceu em abril, na Avenida Goiás, via que tem limite de velocidade de 60 km/h.
As amigas Isabela Priel Regis e Isabelli Helena de Lima Costa, ambas com 18 anos, tinham ido comemorar o novo emprego de uma delas. Elas foram atravessar a avenida na faixa de pedestres quando foram atingidas pelo carro, um Honda Civic. Com o impacto, foram arremessadas a mais de 50 metros de distância.
Brendo, que tem 26 anos, é estudante de direito e, na hora do acidente, voltava da faculdade.
O advogado Rafael Felipe Dias, que defende os interesses das famílias das vítimas, informou que, durante a audiência ocorrida nesta semana, foram ouvidas as testemunhas de acusação e defesa, além do interrogatório do acusado.
“Brendo afirmou que não viu as vítimas atravessando a rua pois estava concentrado no segundo semáforo, um semáforo após o que estava logo a sua frente, e que não tentou desviar devido a não ver as vítimas, o que é um absurdo. Afirmou ainda que tem 4 graus de astigmatismo, mas não usa óculos segundo orientação médica”, disse o advogado.
“A imprudência do acusado, que não prestava atenção ao dirigir, somada à alta velocidade, confirmam o dolo eventual e a necessidade do acusado ser submetido a julgamento popular. As famílias das vítimas clamam por Justiça”, pontuou Dias.
O g1 não conseguiu contato com a defesa de Brendo.
O acidente
Câmeras de segurança gravaram o momento em que o Honda Civic dirigido por Brendo atinge Isabela e Isabelli. Elas tinham atravessado a faixa quando o sinal estava vermelho para elas e verde para os carros.
Apesar disso, segundo a Lei nº9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), independentemente se o semáforo estiver aberto ou fechado, os pedestres terão sempre a prioridade nas vias em relação aos veículos.
“Quando me deparei, eu estava olhando para o semáforo da frente e vi que ele amarelou. Quando olhei para o meu, que é o de cima, eu vi que ele estava verde. Daí ia amarelar também (…) Nessa hora que eu dei de encontro. Que o carro deu de encontro com as duas mulheres. E aí eu parei. Parei o carro. Tentei prestar socorro. O cara, que estava do meu lado, já estava chamando ambulância. E eu fiquei, no meu carro, até a chegada de todos os órgãos competentes”, disse Brendo em depoimento à Justiça.
Réu por duplo homicídio
Na início de maio de 2015, a Justiça de São Paulo aceitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público contra Brendo.
O teste do bafômetro constatou que Brendo não estava bêbado. Depois, ele também foi submetido a uma contraprova no Instituto Médico Legal (IML), mas o resultado não foi divulgado. A polícia suspeita que ele estivesse participando de um racha.
Segundo a denúncia da promotora Erica Philipi, Brendo Sampaio “habitualmente infringia regras de velocidade, não respeitava os semáforos e dirigia manuseando o celular”.
De acordo com o MP, ele tampouco tentou desviar das vítimas, assumindo o risco de matar as duas jovens. “O delito foi praticado por motivo fútil, já que o motorista dirigia em alta velocidade por sua mera diversão”, disse a promotora.
“O acusado foi denunciado por dois homicídio dolosos (dolo eventual), duplamente qualificados, por motivo fútil e circunstância que dificultou/impediu a defesa das vítimas”, falou ao g1 o advogado Rafael Felipe Dias, que defende os interesses das famílias das vítimas. “A assistência de acusação está plenamente de acordo com os termos da denúncia e as famílias se sentem aliviadas, embora o processo não tenha acabado, com a denúncia apresentada e já recebida, sentem a sensação de que a justiça está sendo feita e seguirá dessa forma”.
Isabelli Costa, Brendo Sampaio e Isabela Régis. As amigas foram atropeladas e mortas pelo motorista em São Caetano do Sul
Reprodução
Sete multas por alta velocidade
Antes do atropelamento, Brendo acumulava 12 multas de trânsito no Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP), segundo a Polícia Civil.
Sete delas eram por excesso de velocidade, uma, por avançar o sinal vermelho e outras, por estacionar em local proibido.
Em 13 de janeiro deste ano, por exemplo, o carro envolvido no atropelamento, um Honda Civic preto, foi fotografado por um radar eletrônico a 97 km/h numa outra via em São Caetano onde a velocidade máxima permitida é de 60 km/h. Para a polícia, Brendo dirigia o carro.
Segundo a investigação, a carteira de habilitação do motorista tinha previsão de ser suspensa dias após o atropelamento das amigas, uma vez que ele tinha ultrapassado o limite de pontos permitido pelo Detran.
Duas jovens de 18 anos morrem após serem atropeladas na faixa de pedestres e terem corpos
O que diz o motorista
Ao ser interrogado, Brendo ficou em silêncio na delegacia. Mas em um vídeo gravado pela Justiça no dia seguinte ao acidente, durante audiência de custódia, o motorista alegou em sua defesa que o sinal estava verde para ele, que só viu as vítimas quando o carro as atingiu, que não fugiu e tentou socorrê-las.
Quando me deparei, eu estava olhando para o semáforo da frente e vi que ele amarelou. Quando olhei para o meu, que é o de cima, vi que ele estava verde. Daí, ia amarelar também (…) Nessa hora que eu dei de encontro. Que o carro deu de encontro com as duas mulheres. E aí eu parei. Parei o carro. Tentei prestar socorro. O cara que estava do meu lado já estava chamando ambulância. E eu fiquei no meu carro até a chegada de todos os órgãos competentes.
Jovens foram atropeladas na faixa de pedestre na Avenida Goiás
Reprodução/CGE
O motorista, no entanto, não citou em nenhum momento se disputava um “racha” com outro carro nem se dirigia em alta velocidade, conforme uma testemunha que disse ter visto o atropelamento contou à Polícia Civil.
Um dos advogados de Brendo chegou a dizer à imprensa que seu cliente falou que deveria estar um pouco acima da velocidade máxima permitida.
“Ele não tem muito bem a percepção da velocidade. Fala que estava entre 60 km/h e 70 km/h, mas ele não consegue descrever com certeza a velocidade real do veículo”, falou o advogado Francisco Ferreira.
Duas mulheres morrem atropeladas na faixa de pedestres em Santo André
Reprodução/TV Globo