Pedro Severino: Qual a atual condição do jogador após alta e os próximos passos da recuperação em casa

Jogador de futebol, que superou um grave traumatismo craniano, inicia nova etapa de reabilitação com cuidados multidisciplinares e otimismo da equipe médica sobre o futuro no esporte. Após 98 dias de intensa luta pela vida e uma recuperação que surpreendeu a equipe médica, o jogador Pedro Severino, que sofreu um grave acidente na Rodovia Anhanguera (SP-330) em março, recebeu alta hospitalar na terça-feira (10).
Em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (12), os médicos responsáveis pelo caso detalharam o atual estado de saúde do atleta e abordaram as perspectivas para o futuro dele no esporte.
Cardiologista e coordenadora de enfermaria da Unimed Ribeirão, Amanda Benelli Kujavo destacou que Pedro recebeu alta em uma condição “muito satisfatória”.
“Ele está consciente, orientado, verbalizando e deambulando com muito pouco auxílio. É um paciente que realmente teve uma recuperação muito positiva e, a cada dia, manifesta uma evolução bem satisfatória”.
Apesar da evolução notável, Pedro ainda apresenta um quadro inflamatório cerebral e um leve déficit motor no membro superior esquerdo. A capacidade de comunicação, segundo Amanda, está coerente, mas lenta.
“Se você estimula ele com qualquer pergunta, um estilo de fala, ele responde de forma coerente, lúcida, mas mais lentificada.”
Um dos pontos de atenção apontados pela equipe durante a coletiva é a ptose palpebral, uma condição que afeta os nervos da face, comum em traumas de base de crânio, que foi o caso do Pedro.
“Um dos nervos foi afetado [o que levanta a pálpebra]. Se vai recuperar ou não, precisamos aguardar. Caso não recupere, existem cirurgias que são possíveis de ajudar, mas tudo precisa ter tempo”, explicou o neurocirurgião Romeu Boullosa.
A volta para casa
A saída de Pedro do hospital não foi um processo simples e exigiu um planejamento meticuloso da equipe multidisciplinar.
Médico intensivista e coordenador da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Unimed, Gil Teixeira explicou que a alta hospitalar dependeu de múltiplos fatores, incluindo o desmame do paciente e da família.
“Nós estimulamos que os familiares que cuidem e participem do cuidado, eles estavam prontos e estão prontos. Uma batalha foi finalizada e ele vai melhorar mais. O tempo vai nos dizer o quanto ele vai melhorar”.
O preparo para o retorno de Pedro para casa incluiu adaptação do ambiente familiar com acesso facilitado e até mesmo a instalação de uma cama hospitalar, para garantir uma transição segura e eficaz.
“Ele tem consciência de tudo que aconteceu e muita gratidão à toda a equipe”, diz Amanda.
Foco na reabilitação
Com a alta, a recuperação de Pedro entra em uma fase domiciliar intensa, com o foco na reabilitação contínua. Os cuidados principais incluem um acompanhamento neurológico rigoroso e uma fisioterapia motora constante.
“Ele já foi direcionado para um neuroendocrinologista, por conta de algumas condições neurológicas que ainda existem e que precisam de um bom acompanhamento na parte motora, com relação à fisioterapia”, explica Amanda.
Além dos aspectos neurológico e motor, a questão nutricional segue sendo uma preocupação fundamental.
“A preocupação da parte motora começa pelo estado nutricional do paciente. Então, a gente tem que garantir proteína, caloria, de forma adequada”, diz Teixeira.
Ele ressaltou que, por ser atleta, Pedro recebeu um acompanhamento nutricional diferenciado, com reposição de proteínas e outros elementos essenciais, e deve seguir sob a supervisão de nutricionistas e nutrólogos.
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A bola como terapia
De acordo com a equipe médica multidisciplinar que cuidou de Pedro, um dos momentos mais emocionantes da recuperação do atleta foi a utilização de uma bola de futebol como ferramenta terapêutica.
“Logo quando ele começou a esboçar consciência, nós colocamos a bola nos pés dele e ele começou a fazer os movimentos, e colocamos o ‘gol’. Ele já estava fazendo os movimentos com a bola. O que mais estimula o cérebro é a neuroplasticidade, que é fazer o cérebro ser recondicionado a reconectar e formar novas conexões neurais em resposta a experiências e estímulos que teve ao longo da vida. Por isso, foi a bola a primeira coisa que pensamos em oferecer a ele, pela paixão e memória que ele tem, ele conseguiu fazer os movimentos”, explica Amanda.
Teixeira reforçou o quão surpreendente foi o progresso.
“Há 90 dias ele estava entre a vida e a morte, há 30 dias ele não se comunicava verbalmente, há 20 dias ele não deambulava e a gente conquista isso. A equipe multiprofissional conquista isso a cada dia.”
Futuro no futebol: cautela e otimismo
Sobre a volta para os campos, Teixeira considerou precoce, mas afirmou não se surpreender caso ocorra.
“É precoce a gente tirar qualquer tipo de conclusão em quanto de autonomia o Pedro vai retomar nesses próximos meses, nesses próximos anos. Mas eu não subestimaria a evolução que ele está tendo”.
Ainda segundo Amanda, a recuperação ainda exige tempo.
“Ele já está jogando bola [no sentido terapêutico], mas em quanto tempo ele vai estar conseguindo falar normalmente, deambular normalmente e jogar bola profissionalmente, isso é só o tempo. A gente não tem condição de dizer nesse momento que o Pedro não vai jogar futebol e que ele vai jogar.”
Em casos de eventos cerebrais agudos, a definição de sequelas definitivas leva tempo.
“A recuperação plena, a gente só fala em sequela definitiva nessas condições de evento cerebral agudo, tanto AVC quanto traumas, pelo menos dois anos para bater o martelo de alguma sequela. E a gente está falando de um paciente jovem de 19 anos, atleta. Então, esse fator também faz toda a diferença. Ele está em uma condição que surpreendeu a gente de uma forma muito positiva e que foram só três meses. A gente tem muito tempo ainda pela frente para ter bastante notícia boa aí”, explica Amanda.
“Ele está com algumas incapacidades, mas são três meses. Nós temos aí mais dois anos para aguardar uma evolução. Que ele já vem surpreendendo. O nosso objetivo, da equipe médica e o da família, é que lá na frente o Pedro esteja como era 24 horas antes do acidene. Esse é o objetivo. Se a gente vai chegar lá ou não, a gente ainda não sabe”, diz Boullosa.
Segundo Teixeira, o principal desafio foi proteger o cérebro e diminuir danos secundários, como extensão de áreas de edema, de inchaço, de sangramento. O impacto frontal do acidente resultou em uma fratura óssea e laceração da dura-máter, a membrana que envolve o cérebro.
“A primeira etapa do cuidado era não deixar esse cérebro parar de funcionar, com medidas extremamente eficazes para que diminuísse a pressão dentro desse crânio, medidas para diminuir o edema cerebral”.
Ele também destacou o sucesso em controlar as infecções, uma preocupação comum em internações prolongadas, e ressaltou que Pedro teve poucas infecções, que foram pontualmente resolvidas.
Família e o próximo capítulo da recuperação
A equipe médica fez questão de ressaltar o papel fundamental da família de Pedro na recuperação, como contou Amanda.
“O Pedro tem uma condição que, ao meu ver, fez muita diferença na evolução dele, na recuperação dele, que é o apoio da família. Os pais do Pedro foram extremamente presentes e se dedicaram muito, colaboraram muito com a equipe médica e deram todo o suporte para o Pedro, tanto emocional quanto presencial, e isso fez muita diferença na recuperação do Pedro e agora a nossa expectativa é que faça mais ainda porque ele está em casa”.
A fase de recuperação agora vai exigir acompanhamento de uma equipe multidisciplinar em casa, incluindo fisioterapeutas, acompanhamento médico e terapeutas ocupacionais, além do suporte emocional contínuo.
Perspectiva do “Milagre”
Questionado sobre se o caso de Pedro Severino poderia ser considerado um “milagre”, Teixeira ofereceu uma reflexão profunda sobre o resultado da recuperação do jogador.
“A gente teve uma associação, sempre com a presença de Deus, na crença de cada um, no respeito à privacidade e a escolha de cada um, mas a participação divina aliada a um exercício de uma medicina de excelência e, com certeza, com a comoção e a participação de uma família muito participativa, uma família que não só respeitava e confiava na equipe médica, mas ela, por exemplo, chamava os profissionais da limpeza pelo nome. E a comoção da sociedade. Então assim, quando você tem tantos ‘players’ unidos com um propósito só, mediados pela intervenção divina, o resultado ele tende a ser favorável.”
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