
Adriana caminhava rente a um muro, tentando se equilibrar, quando caiu em um buraco coberto pela água e desapareceu. Foram dois minutos e 31 segundos submersa de baixo d’água. Mulher conta como sobreviveu depois de ficar mais de 2 minutos submersa durante enchente
Sempre que um temporal castiga o Recife, o medo toma conta das ruas. Foi o que aconteceu na quarta-feira, 5 de fevereiro, quando três pessoas morreram em ocorrências relacionadas à chuva. Mas, para a dona de casa Maria Adriana Lima, moradora da Região Metropolitana, ficar em casa não era uma opção. Era o último dia para buscar uma declaração na escola do filho e dar entrada em um projeto social.
“Se não fosse urgente, eu ficaria em casa”, contou.
Adriana saiu de casa rumo à escola em Jaboatão dos Guararapes. No caminho, enfrentou ruas completamente alagadas.
“Tudo alagado. Vê a praça de Cajueiro Seco como está. Olha pra isso”, disse, enquanto registrava imagens do caos para uma amiga.
Ela conhecia bem a região e tentava seguir por um caminho onde sabia onde estavam os buracos.
“Geralmente vou por essa parte, já sei onde tem buraco e onde não tem”, explicou.
Mas a força da enxurrada a fez mudar de rota. Foi então que o inesperado aconteceu.
Adriana caminhava rente a um muro, tentando se equilibrar, quando caiu em um buraco coberto pela água e desapareceu. O local, hoje protegido por uma grade de cimento, estava completamente desprotegido no dia do acidente. A abertura tinha cerca de 80 centímetros de profundidade por um metro de comprimento.
Toda a cena foi registrada por uma câmera de segurança. Nas imagens, Adriana aparece caminhando devagar, até afundar repentinamente na água, com sombrinha e tudo. Um carro e uma moto passam logo depois, sem perceber o que havia acontecido. Foram dois minutos e 31 segundos até que ela ressurgisse, sendo socorrida por um ciclista e um motociclista.
“Quando me vi dentro, nadando, nem sei como consegui. Pensei: ‘vou morrer aqui’”, relembra.
Ela foi arrastada por uma galeria de esgoto e escoamento de água da chuva. Em um trecho, conseguiu ficar de pé e respirar por um pequeno espaço ainda não inundado.
“Levantei a cabeça, comecei a respirar, olhei para os lados e me desesperei: ‘a água vai subir até o teto, não vou conseguir respirar e vou morrer aqui’.”
Adriana teve arranhões e muitas dores. Só no dia seguinte procurou atendimento médico.
“Com certeza há risco de contrair alguma doença infecciosa. A grande preocupação é a leptospirose. Foi uma sorte muito grande ela ter conseguido sobreviver”, diz o médico Danilo de Pinho Aires.
Vídeo: mulher é engolida por bueiro
Reprodução/TV Globo
Os quatro filhos de Adriana não esquecem que a mãe é uma sobrevivente. E notaram as mudanças na mãe.
“A fé dela aumentou. Ela está mais carinhosa, mais atenciosa”, diz o babeiro José Roberto da Silva.
Adriana e os filhos
Reprodução/TV Globo
Até hoje, Adriana ainda não consegue assistir ao vídeo do acidente. As imagens foram registradas pela câmera de segurança da casa de Luciana, que não a conhecia. Os registros foram compartilhados por ela nas redes sociais e logo viralizaram.
“Não esperava a proporção que chegou tão rápido. Em menos de quatro horas, bateu mais de um milhão de visualizações. Compartilhei porque queria que as pessoas conhecessem o milagre da vida”, contou.
Hoje, Adriana e Luciana são amigas. Unidas pela fé, elas iniciam uma nova jornada. Luciana, cabeleireira, decidiu ensinar Adriana a escovar cabelos.
“Quero que ela tenha mais qualidade de vida, que consiga ganhar dinheiro com isso”, disse.
Adriana está determinada a não desperdiçar as oportunidades que a nova vida trouxer.
“Vai ser uma nova história. De batalhar, conquistar e ter um novo rumo.”
Adriana e Luciana
Reprodução/TV Globo
Confira as últimas reportagens do Globo Repórter: