O que são os ‘livros humanos’, que desafiam estereótipos e preconceitos


Projeto criado em Copenhagen em 2000 já está presente em mais de 80 países. Aos 84 anos, Yoka Brouwer, uma sobrevivente do Holocausto, é um dos “livros humanos” do projeto “The human library” (“A biblioteca humana”), criado em 2000 na Dinamarca e hoje presente em mais de 80 países. O que torna a iniciativa tão especial é que é possível requisitar não uma obra, mas a pessoa que tem uma história inspiradora para compartilhar. Segundo seus criadores, “cada livro humano em nossa prateleira representa um grupo que, com frequência, é vítima de preconceito e discriminação por causa de seu estilo de vida, crenças, deficiências, origem étnica ou status social”.
Yoka Brouwer: a sobrevivente do Holocausto é um “livro humano” da The Human Library
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“Você tem experiências valiosas que poderiam beneficiar os leitores? Está motivado a desafiar estigmas e estereótipos através do diálogo? Então poderia ser um livro aberto e se engajar em conversar com nossos leitores” – é assim que a entidade convida voluntários a se tornarem parte do seu “acervo”. A pessoa se dispõe a contar sua história e a responder a perguntas em encontros com interessados nas unidades associadas à organização.
É o que tem feito Yoka desde 2020. Aos 2 anos e meio, foi retirada de sua família, que era judia, pela Resistência holandesa. A única forma de protegê-la era deixá-la com pessoas que não estavam na mira dos nazistas, e, até os cinco anos, a menininha viveu em 16 lugares diferentes. “Se os nazistas descobrissem que uma família abrigava um judeu, todos seriam mandados para um campo de concentração, então vivi minha infância cercada de gente com medo”, conta. Como era muito pequena, não teve qualquer vivência com sua religião; na verdade, só descobriu que era judia aos 17 anos.
Na sua opinião, é da maior relevância ser um “livro humano”: “como sobrevivente do Holocausto, faço parte de um grupo que está acabando. Quando conto minha história, quero mostrar o que acontece quando a discriminação não é desafiada, nem encontra obstáculos”.
Encontro de leitores e “livro” em Copenhagen
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Não há tema fácil nessa “biblioteca”: abuso sexual, alcoolismo, bipolaridade, naturismo, poliamor, o que só mostra a complexidade dos nossos atos e sentimentos – tanto que o lema do projeto é “unjudge someone”, cuja tradução equivaleria a “desjulgue” ou “não julgue antecipadamente”. Em Copenhagen, foi construído um jardim de leitura que está aberto ao público aos domingos, entre abril e outubro. Basta chegar, procurar o “bibliotecário” para se registrar e escolher sua “obra” entre as opções oferecidas. Também é possível ser um leitor on-line: por US$ 50, o cartão dá direito a conversar com três “livros humanos” num intervalo de três meses. Atualmente, “The human library” se apresenta como uma plataforma de aprendizado nas áreas de equidade, diversidade e inclusão, para empresas e gestores públicos comprometidos com uma sociedade que respeite diferenças culturais, sociais, étnicas e religiosas.
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